Quem diria que na 18a rodada o Flamengo estaria em 9o lugar na tabela do Brasileiro? Para! Nem responde. Mesmo que ao longo da semana você leia ou ouça dezenas de vezes a esta, que é uma das perguntas retóricas mais idiotas da atualidade, nem responde. Porque é de uma cretinice incurável perguntar um troço desses sabendo que existem 40 milhões de torcedores do Flamengo em atividade no país que diziam, imaginavam, intuíam e vaticinavam tal cenário desde que o Luxa chegou. Portanto, retórica ou não, a pergunta é desprovida de nexo.
Pra ser sincero, 39 milhões e uns quebrados diziam isso já no tempo do Ney Franco, eu sou um deles. Alguns diziam até revoltados, como uma crítica ácida, tipo: Que vergonha, com o elenco desse ano o Flamengo não passa de 9o no Brasileiro! E cá pra nós, com toda a humildade, o elenco até pode ser de 9o lugar, mas a nossa camisa e a nossa torcida jamais foram e sempre merecem coisa melhor. Mas nada de cuspir pro alto, moçada. Não ainda. Pra quem estava há um mês atrás tomando sopa de garfo e dormindo colado no boi o 9o lugar na tabela é igual a passar a noite de núpcias em Las Vegas. Obviamente que falo do motel Las Vegas, aquele na Dutra.
Mas como explicar a violência desse upgrade vermelho e preto? Vamos aos fatos. Conforme 9 entre 10 gatomestres da preclara crônica esportiva nacional afirmaram diversas vezes ao longo das 187 rodadas anteriores o Flamengo já estava morto, esverdeado, exangue e peladão numa gaveta do IML, despojado dos seus pertences e com uma etiqueta pendurada no dedão do pé. A única preocupação desses caras com o Flamengo era manter o cadáver incorrupto até dezembro, data marcada pro funeral mais esperado do século. Se foderam. E a pletora de coroas fúnebres encomendadas antes da hora pelos otários da arco-íris terão que ser pagas do mesmo jeito. Um abraço pro grande rubro-negro Álvaro, da Camélia Flores, que vai meter uma merreca forte.
A ciência tem encontrado extrema dificuldade em explicar a reviravolta na marcha dos acontecimentos que fez com que o Flamengo, de uma hora pra outra, provocasse uma corrida às casas de ferragens de Pequenópolis. Pois agora todos os habitantes da pitoresca província liliputiana estão desesperados para comprar cadeados e tábuas de compensado pra reforçar portas, janelas e tentar conter o avanço do Mengão Reanimator que vem subindo a ladeira em velocidade estonteante e quebrando tudo por onde passa. Era melhor que esquecessem os cadeados e tratassem de procurar o quanto antes o Serviço de Proteção às Testemunhas porque é absolutamente certo que a casa desses trouxas vai cair.
Assim como a ciência falha em explicar o fenômeno, nenhum de nós pode dizer com absoluta certeza o que é que está rolando. O Flamengo em 2014 fez tudo que estava ao seu alcance para ter o pior ano de sua história. Fez uma pré-temporada ridícula, comprou bondes caríssimos e quebradiços, trocou de treinador duzentas vezes, jogou a Libertadores como se fosse um carioqueta e o Carioqueta como se fosse o Mundial da FIFA, seus cartolas deram declarações desastradas, pagaram impostos como se vivêssemos na Escandinávia, atrasaram salários e anteciparam receitas como se estivéssemos no tempo dos presidentes fãs da epistolografia e ainda por cima deixaram a Holanda treinar na Gávea Sinistra e espalhar por lá sua incurável murrinha de vice eterno e perdedores de disputa de pênaltis que nos custará toneladas de sal grosso pra descontaminar.
O que será que esses caras tinham em mente quando deixaram tudo isso acontecer? Não importa, porque mesmo dando tantos moles o Mengão está na primeira página da tabela e a tendência é de crescimento. E mesmo quem vive com aquela coceirinha na língua, doido pra falar mal da diretoria, é forçado a admitir que a soma dos erros dos carecas resulta positiva.
Entre todos os erros dos caras nenhum foi mais acertado do que contratar um treinador decadente que não ganha nada que preste há anos. Luxemburgo, com o seu na reta, tem se mostrado um estrategista de fina estirpe. Incutiu na mente da rapaziada que não passam de um bando de perebas superassalariados que se quiserem continuar no bem-bom de jogar no Flamengo deveriam rever seus conceitos e chutar a bola pro mato ao menor sinal de perigo. E é exatamente isso que vem sendo feito com grande disciplina tática pela nossa querida mulambada rodada após rodada.
Luxemburgo mostrou pros caras a verdadeira doutrina rubro-negra. Relembrou a importância de certos valores morais e comportamentais que estavam caindo em desuso na Gávea. O que resultou no sapatinho blindado de aço que o Flamengo tem exibido e que nos trouxe até aqui, à primeira página da tábua de classificação. Daqui pra frente tudo pode acontecer, inclusive nada, mas o Flamengo entrará na segunda metade do Brasileiro com a cabeça erguida e o peito estufado. O que vier é lucro.
Fonte: Urublog