Para os xiitas não há erro, só há acerto. Eles consideram correto seguir essa direção de forma doentia. E estamos conversados. Tenho encontrado essa gente ao longo da vida, infelizes por não terem alternativa senão a de se apegarem de maneira radical a um dogma, a uma crença, a uma suposição. São capazes de se dedicar ao xamã do momento como se estivessem viciados nos ditames de quem idolatram. Nos momentos mais suspeitos, como uma madrugada de sábado para domingo, por exemplo. Na falta de coisa melhor para fazer, os pobres coitados se dedicam ao que for necessário para conseguir a sua dose habitual. Enquanto os normais fazem sexo, se dedicam ao lazer, dormem, enfim, agem como seres humanos equilibrados, os xiitas necessitam fazer correr em suas veias aquele antídoto contra a abstinência. São zumbis.
Vou prestar um esclarecimento aos seguidores de Pai Dudu. A última coisa que desejo é um equívoco da profecia presidencial. Apenas não concordo com ela, pois esse direito pertence ao torcedor comum. Ao presidente do clube cabe tomar decisões que impeçam o menor risco do rebaixamento, ao invés de se vangloriar do fato de que o Flamengo não cai. A propósito, ainda faltam pelo menos vinte pontos para garantir isso. E, me antecipando ao questionamento míope, atribuo à torcida e ao Luxemburgo o mérito das cinco vitórias em seis jogos no Brasileiro. No máximo estenderia o sucesso à comissão técnica e aos jogadores. Aos incensados pelos xiitas, jamais. Mesmo a contratação do Pofexô foi a enésima tentativa de acertar. Até chegar no Luxa, houve prejuízos técnicos e financeiros indiscutíveis, num jogo amador de tentativa e erro.
Os idiotas da objetividade, como os chamava Nelson Rodrigues, deveriam procurar saber as razões de tantos equívocos, deveriam questionar porque não estamos na ponta de cima da tabela, deveriam inquirir sobre os custos da folha do futebol. Basta olhar a tabela, comparar gastos dos dez primeiros clubes e avaliar a relação custo x benefício. Não precisa mais do que isso. Coincidência ou não, essa semana recebi uma ligação telefônica com uma pesquisa em nome do clube. Solicitavam uma avaliação das VPs, pedindo que identificasse a melhor e a pior. E eu respondi: precisa mesmo? Jamais tivemos uma VP de futebol nessa gestão. Uma VP de futebol na verdadeira concepção do termo. Pode ser que o Wrobel melhore as coisas por lá, mas o fato de fazer um bom trabalho em sua VP anterior não lhe assegura isso. Pelo menos ele não tem empáfia e não se julga melhor do que ninguém. Trata-se de um bom começo. Boa sorte, xará. Em compensação, sai da penumbra o Wallim.
É incrível como há xiitas em todos os cantos. Na política, na religião, nas torcidas, em qualquer segmento da vida em geral. Há os que acreditem num paraíso com cinquenta virgens e nisso baseiem suas sandices. Mas há os que abram mão desses prazeres terrenos, dedicando até madrugadas de sábado para domingo ao sacerdócio da crítica vazia, ao invés de se dedicarem, por exemplo, a um lazer mais interessante. Quem sabe fosse melhor alternativa naquele horário o mais salutar, saboroso e antigo exercício, desde os tempos de Adão e Eva? Enfim, gosto não se discute. Ontem, domingo, passava das 22:00 quando um representante do séquito NADA (Núcleo de Adoradores Dos Azuis), ainda bem que minoritário, me cobrou uma posição sobre o Pai Dudu. Li ainda há pouco, porque às 22:00 de domingo eu saboreava um jantar com a minha família, comemorando outra vitória do Flamengo, time de todos à mesa.
Não tenho bola de cristal nem sou vidente como o atuante, revolucionário e autocrata presidente do Flamengo. Percebo, por não ser cego, a mudança positiva no time do Flamengo. Mesmo instigado a imaginar ser impossível ficar pior do que estava antes da chegada do Luxemburgo, já me rendi ao trabalho do Pofexô. O retorno do Luxa, mesmo sem pojeto, foi ótimo para ele e para o clube. A tentativa de fuga do ostracismo e do péssimo retrospecto dos últimos anos encontrou um clube com elenco sofrível e mergulhado até as sobrancelhas no lamaçal do rebaixamento, na lanterna do Brasileiro. A recuperação de ambas as autoestimas, do Pofexô e do time, foi o desafio a enfrentar. E tem sido exitoso. Está longe de chegar ao término, mas deu liga. São mais de 85% de aproveitamento em seis jogos, números de campeão, superiores aos do Cruzeiro no mesmo período, atual líder disparado.
Ontem, jogando contra o atual lanterna, não jogamos como gostaríamos, não atropelamos o adversário, não demos uma exibição de gala. Em contrapartida, vencemos na casa de um adversário desesperado, somamos mais três pontos salvadores para uma campanha de recuperação em curso. Mais uma vez o time se dedicou de corpo e alma, ocupou espaços, correu muito, brigou pela bola. Contudo, mais uma vez errou muitos passes e teve o goleiro como a melhor figura do time. Ou seja, permanecemos com dificuldades sérias, consequência da falta de planejamento, de competência e de humildade dos atuais dirigentes. Mais em específico das cabeças coroadas a mandarem no clube e dos dirigentes responsáveis pelo futebol. É esse incêndio que o Luxa está apagando.
E só para se ter uma noção de que não tem sido fácil para ele, saibam vocês que essa diretoria, pródiga em lambanças que só os xiitas se recusam a enxergar, derrapou novamente. Semana passada, colocou o atacante Arthur à disposição do Luxemburgo para o jogo contra o Coritiba. Ocorre que o Arthur já atuara na Copa do Brasil. Seria a reedição do caso André Santos no Brasileiro de 2013, não fosse a obra do acaso de se descobrir o fato horas antes da partida, em razão do testemunho do jogador. Convocou-se às pressas o Paulinho para viajar para Curitiba e se evitou novo desastre. Pelo menos fora de campo, porque dentro de campo foi o que se viu. E, aliás, para escalar um jogador bem medíocre. De novo, quanto amadorismo, quanta incompetência!
Portanto, xiitas, vamos baixar a bola. Não façam mal ao clube comemorando o que não conseguimos ainda. Vou permanecer criticando com isenção e elogiando com o comedimento que os pseudonotáveis jamais tiveram com os riscos corridos no enfraquecimento do futebol rubro-negro. Fora isso, depois daquele sacode na Copa do Brasil, vamos comemorar o nono lugar na tabela. É o que temos para o momento. Com xiitas ou sem xiitas. O resto é instabilidade, chuvas e trovoadas.
E, Pofexô, não comece a dar palpite em mazelas alheias, em especial as polêmicas. Controle o ego e mantenha o foco.
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Fonte: Magia Rubro-Negra