Após 3 anos de crescimento expressivo, as Receitas Totais dos Clubes Brasileiros desta amostra tiveram crescimento bastante módico em 2013, de apenas 9%.
Neste ano fizemos uma simulação e criamos o que chamamos de “Receitas Recorrentes”. Para fins de cálculo desconsideramos as Receitas com Vendas de Direitos Econômicos de Atletas, de forma a avaliar qual o volume de Receita que tem mais previsibilidade e tende a se repetir anualmente. Na prática, é com base nessas receitas que os clubes deveriam fazer seus orçamentos de longo prazo, se é que o fazem.
A partir disso, podemos verificar que, ainda assim, em 2011 e 2012 houve importante crescimento nas Receitas, que como já dissemos anteriormente vieram principalmente dos contratos com a TV. Mas em 2013 estas Receitas Recorrentes se mantiveram inalteradas, e inclusive sofreram redução de R$ 3 milhões (no total nominal – EG), e perda da inflação, cujo IPCA em 2013 foi de 5,9%, o que levaria essas Receitas para R$ 2,7 bilhões (se a inflação fosse ao menos corrigida – EG).
Na sequência detalharemos a origem dessas Receitas, mas já temos um primeiro diagnóstico do que veremos ao final da análise. É possível que os dirigentes tenham trabalhado com a hipótese de que as receitas continuariam crescendo indefinidamente na casa dos 30% anuais, suposição que levou ao incremento de Custos e Despesas que veremos à frente.
TV forte, mas menor
No breakdown de Receitas a TV continua sendo a maior fonte, respondendo por 35% das entradas. Porém, note que em 2013 estas receitas caíram 15% em relação a 2012. Neste caso, vale colocar em cena o “Tira-Teima”, confirmar o impedimento, e assumir que fomos induzidos ao erro pelos clubes. Acreditávamos que os números de 2012 refletiam a nova realidade de Receitas com TV. Mas os números ora apresentados nos indicam que em 2012 havia Receitas não recorrentes, possivelmente fruto de “luvas” referentes à assinatura de contrato de longo prazo.
(Como foi explicado no início, os analistas trabalharam unicamente com as informações disponíveis nos balanços dos clubes. Ora, esses balanços não discriminam a receita pelo seu tipo – o que é parte do contrato de compra de direitos do que é pagamento de luvas ou bônus pela assinatura desse contrato. Como já disse muitas vezes e os autores também, os balanços de nossos clubes, com “meia dúzia” (se tanto) de exceções, são pouco detalhados, pouco claros, sem divisão racional de contas. E mesmo os bons balanços não fazem essa distinção, nem mesmo nas Notas Explicativas. EG)
De qualquer forma, ainda que não fosse possível ter esta visão avaliando à distância, os Dirigentes sabiam disso e deveriam ter considerando esta redução em seus orçamentos.
Ao mesmo tempo as receitas de Publicidade cresceram cerca de 13%, enquanto a Bilheteria cresceu expressivos 36%.
Publicidade cresceu por conta de alguns contratos pontuais, especialmente com a entrada em cena da Caixa Econômica Federal e renovações de contratos de fornecedores de material esportivo, mas ainda assim veremos que alguns clubes passaram o ano sem patrocinador master (veremos isto nos detalhes de cada clube).
Já a Bilheteria teve forte impacto da entrada em operação de novos estádios, como o novo Mineirão, que serviu de palco para a final da Libertadores com o Atlético-MG e uma renda na casa de R$ 14 milhões, e o Maracanã, que teve elevados públicos nos jogos do Flamengo pela Copa do Brasil, a preços elevados. Além disso, o Cruzeiro Campeão Brasileiro também lotou o Mineirão a preços altos. Ou seja, há uma baixa correlação entre preço do ingresso e público no estádio, ao mesmo tempo em que há forte correlação entre público no estádio e qualidade da equipe.
O movimento mais expressivo foi o crescimento das Receitas com Vendas de Direitos Econômicos de Atletas, que gerou R$ 260 milhões adicionais em receitas, crescimento de 65% sobre 2012. Num momento Econômico Mundial difícil, trata-se de crescimento e volume impressionantes. Porém, nada garante que se sustentem no ano seguinte.
Ver estas Receitas como puramente não recorrentes talvez seja um exagero, mas a realidade é que são realmente incertas. Não é todo ano que se transfere um Lucas ou um Neymar, como foi em 2013, fatos que inflaram os números e correspondem a cerca de 70% do incremento observado.
Comentários do OCE
Foi muito bom os autores terem adotado a prática das Receitas Recorrentes, isolando essas receitas com transferências das Receitas Totais. Essa é a prática adotada por outros estudos importantes e mais antigos, como o Football Money League, da Deloitte, e é uma prática adotada por esse OCE desde seu início. Depender da eventual receita de transferência é como depender de ganhar na loteria, claro que com uma maior probabilidade de acertos. Mas continuará sendo uma loteria e não se pode planejar nenhum futuro contando com um prêmio da Sena ou da Loto ou outra loteria das muitas que temos.
Isso pode ser traduzido como irresponsabilidade e é responsável por parte, com certeza significativa, dos problemas vividos por nossos clubes.
Como foi dito antes, 2013 veio com valores menores de Direitos de Transmissão, explicados pela não classificação das receitas anteriores. Bônus e luvas entraram como receita operacional e não são, não no sentido de repetir-se ano a ano. Tirando isso, porém, os valores pagos pelos direitos de transmissão são muito bons e até ótimos, se considerarmos as diferentes realidades brasileiras de mercado, PIB, renda per capita, sistemas de transmissão de TV. Essas receitas, dada a segurança que possuem, são usadas nas negociações de adiantamentos futuros para pagar despesas passadas ou presentes. Quando isso acontece… Fica para depois.
As receitas com Bilheteria tiveram bom aumento, mas as despesas também. Jogar nas novas arenas custa caro e come uma parte razoável do ganho com bilheterias.
Marketing/Publicidade
Nos últimos anos, se excluirmos os patrocínios de empresas estatais, todos eles com maior ou menor intervenção política, veremos uma situação péssima, muito pior que essa apresentada pelos números dos balanços. Na minha visão, patrocínios de estatais são como receitas com transferências de atletas: não são previsíveis e não se baseiam em critérios de mercado. Tirando as estatais vemos patrocínios pequenos, incapazes de dar sustentação efetiva aos clubes. E, sintomaticamente, um grande número de empresas enormes estão no futebol, mas não estão nos clubes. Patrocinam as transmissões, por exemplo, mas não patrocinam camisas. Eis um nó a ser desfeito, mas para isso falta profissionalismo por parte dos clubes. Essa é uma das maiores, se não for a maior, razões para o deserto de bons patrocínios de mercado que vivemos.
Nos últimos anos, se excluirmos os patrocínios de empresas estatais, todos eles com maior ou menor intervenção política, veremos uma situação péssima, muito pior que essa apresentada pelos números dos balanços. Na minha visão, patrocínios de estatais são como receitas com transferências de atletas: não são previsíveis e não se baseiam em critérios de mercado. Tirando as estatais vemos patrocínios pequenos, incapazes de dar sustentação efetiva aos clubes. E, sintomaticamente, um grande número de empresas enormes estão no futebol, mas não estão nos clubes. Patrocinam as transmissões, por exemplo, mas não patrocinam camisas. Eis um nó a ser desfeito, mas para isso falta profissionalismo por parte dos clubes. Essa é uma das maiores, se não for a maior, razões para o deserto de bons patrocínios de mercado que vivemos.
Cabe um destaque, ainda, aos programas de Sócios-Torcedores – STs. Esses programas apresentaram bom comportamento em 2013, puxados como sempre pela dupla gaúcha, agora ajudada pela dupla mineira. No primeiro caso temos o que já é uma certa tradição, com grande número de participantes há muito tempo. No caso dos times mineiros temos o excepcional desempenho de ambos nos dois últimos anos, principalmente, o que motivou o crescimento do número de sócios e sua manutenção em bons parâmetros. Outro fator de peso foi o programa Por um Futebol Melhor, que permite ao ST conseguir descontos em suas compras de supermercado. Os dois clubes de maiores torcidas também contribuíram, apesar de idas e vindas motivadas pelos resultados nos gramados.
De maneira geral, fica claro que o campo para crescer fora da TV é muito grande e pouco ou nada explorado. Contribui para essa “pobreza” o clima de insegurança e violência gerado pelos bandos organizados, e o virtual abandono de muitas praças esportivas. É preciso dizer que, infelizmente, até mesmo os novos estádios já recebem críticas por problemas menores, mas que não deveriam existir.
Há muito em que e onde crescer, mas a pasmaceira é dominante.
O próximo post abordará o tema “Espanholização do Futebol Brasileiro”, levantado pelo estudo.
Fonte: Olhar Crônico Esportivo