Demorei à pampa pra escrever esse post. Vários motivos justificam meu atraso. Dormi tarde pra caramba, porque o horário dos jogos de futebol no Brasil são feitos pra vagabundo e eu fiquei muito bebum à noite. Cheguei no serviço às 10 e perdi um tempo enorme sacaneando os meus colegas de trabalho da arco-íris que achavam que o Mengão tava morto na competição. Depois perdi um tempo maior ainda na internet rindo que nem um débil mental de:
a) Jornais de Curitiba, todos eles absurdamente provincianos e chorões.
b) Comentários hipócritas da paulistada sem praia abrigada na imprensa esportiva.
c) Chororô patético e desenfreado dos torcedores de times pequenos espalhado pelo Brasil.
d) Montagens retardadas e engraçadíssimas que enchem a freguesia de fúria.
Aí bem na hora que eu tava rolando pelo chão de tanto rir enquanto assistia ao ex-pereba em atividade Zé Elias falando besteira na TV tive que trabalhar um bocadinho, porque meu chefe é muito gente boa, mas é santista, ou seja, não liga tanto assim pra futebol e tacou vários jobs urgentes sobre a minha mesa. Desvencilhei-me das tarefas com método e profissionalismo, abri mão do almoço, comprei duas caixas de BIS e uma Fanta laranja e eis-me livre para relatar minhas impressões sobre o humilhante 3 x 0 que aplicamos com grande autoridade no pequeno time da 5a Comarca.
Em primeiro lugar é preciso louvar a torcida do Flamengo, que é realmente única e faz a diferença, ainda mais no Maracanã. Em segundo lugar, o Vasco. Que jogo épico, meus amigos. O Flamengo esticou a corda da emoção até o seu limite e enquanto fazia as emissoras de TV e os anunciantes ganharem muito dinheiro com o espetáculo classe A em horário nobre, fez a torcida dar o melhor de si, incentivando a mulambada desde o apito inicial até o final apoteótico das cobranças alternadas de tiros livres diretos executados a partir da marca do pênalti. Melhor impossível.
No decorrer do jogo ficou evidente que o universo nutria grandes expectativas para o Mengão e por isso conspirou descaradamente a nosso favor. Deus me livre de desejar o mal de alguém, ainda mais se o alguém for integrante do elenco do Flamengo, mas as contusões de Luiz Antônio e Paulinho foram providenciais. O ombro do Luiz Antônio tá bichado desde 2011, naquele 4×5 espantoso na Vila Belmiro e pelo jeito ferrou de novo. E o Paulinho, coitado, está numa fase tão terrível que o urubu de baixo tá acertando ele mais do que ele acerta a bola.
Com os cabras certos em campo o jogo, que tava meio morrinhado, mudou completamente. Eu, que só tenho olhos pro Mengão, mas mantenho o equilíbrio e o distanciamento critico sem me deixar levar pelo meu lado torcedor, não vi o Coritiba nos perturbar em nenhum momento. Teve um ou outro ataque despretensioso que foram facilmente neutralizados pela nossa zaga ou pelo nosso arqueiro, mas no resto do tempo só deu nós martelando impiedosamente a meta coxa.
A pressão flamenga era terrível e os beques coxa, com limitadíssimos recursos técnicos, só podiam mesmo apelar pras faltas e pras bicudas enlouquecidas. Não foi surpresa pra ninguém que as penalidades máximas fossem sendo marcadas. Fez falta na área? É pênalti, cumpadi, não adianta chorar. Alecsandro gabaritou as duas cobranças e aí a chapa esquentou pra sempre. Com 2 x 0 no placar a torcida foi toda pra área dos caras pra meter o imprescindível terceiro gol. Até eu tava lá, congestionando a zona do agrião, quando a bola sobrou pro Eduardo mandar pro saco, acabar com a primeira parte da palhaçada e levar a decisão pros penais. Eu sou croaaata, com muito orgulho, com muito amoooor!
Nessa hora confesso que fiquei cabreiro. Porque a ultima vez que o Mengão perdeu uma disputa de pênaltis na vida foi há 10 anos, pela Sul-Americana, jogando com o Santos no Raulino. Lembro até que quem perdeu o pênalti foi o André Bahia, que ontem, olha que puta coincidência, foi o herói do Foguinho, metendo o 4o gol deles contra o Ceará aos 63 minutos do 2o tempo. E por que eu tava bolado? Porque eu assisti a esse jogo da Sula pela televisão aqui em Belo Horizonte, daí se originava minha preocupação.
Preocupação que se mostrou primitiva, fundamentalista e desnecessária. O futebol é laico, meus amigos, religião não entra em campo e a consultoria que São Judas nos presta é na pessoa física e não na jurídica. O Mengão não perde disputa de pênalti pra ninguém, isso é um fato! Durante as cobranças, com erros bisonhos de lado a lado, Paulo Victor mostrou toda sua categoria e latitudinidade. Se ele é titular pode crer que é merecido. Paulo Mítor representou. A escrita está mantida.
Assim que Canteros meteu a sua cobrança no barbante a festa começou em todo o Brasil. Vagabundo aloprou e houve relatos pungentes de que a cerveja acabou em vários pontos de reunião da mulambada. A Rede Sismográfica Integrada do Brasil (BraSIS) acusou tremores contínuos de norte a sul do país, sai do chão, sai do chão, a torcida do Mengão!, mas a única casa que caiu foi a do Coxa que agora volta a ocupar a sua posição de coadjuvante na Z4 do Brasileiro. Com merecimento, diga-se de passagem.
Todo mundo tá feliz, todo mundo quer cantar, mas o mais legal da classificação do Flamengo é a lição de esportividade e fair-play que fica pro publico brasileiro em geral: nunca, jamais, tentem enterrar o Flamengo antes da hora, seus vermes! Um beijinho no ombro pazinimiga tudo!
Fonte: Urublog