Era um jogo complicado de ir. Quarta-feira, dez horas da noite, clima meio chuvoso. Eu e minha mulher estamos sem babá em casa, não havia ninguém para cuidar das crianças. E, para piorar, cheguei do trabalho me sentindo mal. Optei por não ir. E me equivoquei por completo.
Vinte mil pessoas estavam no Maracanã. Para elas, o horário do jogo era o mesmo, o tempo chuvoso era o mesmo e o dia da semana era o mesmo. Talvez os problemas particulares fossem diferentes, mas problema cada um tem o seu. E eles estavam lá. Cantando pelos 45 minutos iniciais, em que pouco atacamos. Estavam lá para incendiar o estádio a cada gol, a cada passo rumo à classificação.
Saber que falhei me incomoda. Não me sinto menos rubro-negro por conta disso, claro, mas perdi uma batalha. Sou daqueles que acredita que uma torcida não ganha jogo, mas que a Nação Rubro-Negra não pode ser considerada uma torcida como qualquer outra. Dessa forma, acho que cada voz de apoio no estádio tem uma enorme importância. E a minha voz, ontem, não estava lá.
A vitória veio a minimizar meu sentimento de culpa. Não sei como estaria agora, se tivesse faltado um gol. Mas ontem, antes mesmo do primeiro pênalti do jogo, já estava arrependido, já queria pedir perdão ao meu clube de coração. Então, essas palavras começaram a ser pensadas bem antes do sabor empolgante da vitória.
Diferentemente de outros rubro-negros, estava confiante. Afinal, nossa camisa parece especializada em surpreender, em conquistar vitórias quando pouco se espera dela. Desde o jogo de ida, tinha a convicção que nada estava perdido. A minha ausência não se deu, em nenhum momento, por ser incrédulo.
O fato é que eu não estava lá. E perdi uma festa incrível, daquelas que só rubro-negros sabem fazer e entendem o significado. Perdi mais uma aula prática do que é ser Flamengo.
Perdoa-me, Flamengo. Mas perdoa-me apenas pela minha ausência física, pois o meu coração está e estará sempre contigo e onde você estiver.
Fonte: Falando de Flamengo