Da experiência dos mais de mil jogos que assisti dentro de um estádio na vida, me sinto mais a vontade pra falar de um assunto que nem queria tocar. Mas me sinto meio que na obrigação de não me omitir em defesa de milhões de torcedores que de um dia pra outro passaram de “zoeiros” a preconceituosos.
O “macaco” do Aranha me parece claro. Uma ofensa racista, direta e com intenção de ofender. O que não está claro é tudo que vem depois disso, seja por uma dúzia de revolucionarios virtuais, seja por candidatos a deputado querendo voto, seja por gente que quer colocar uma polêmica no facebook. Fato é que a web dá voz a toda manifestação e na dificuldade de medir o real tamanho dela, parece maior do que é.
Eu nunca vi um gay ofendido num estádio de futebol quando chamaram o jogador rival de “viado”. Simplesmente porque qualquer pessoa que frequente um estádio de futebol sabe que ali não há intenção homofobica, mas sim uma simples brincadeira pra tirar a concentração do rival.
Pra quem é de fora pode parecer chocante milhares de pessoas gritando “viado, viado, viado”, mesmo que para um hetero. Mas é exatamente por ser para um hetero que gritam. Na intenção de sacanea-lo, não de discriminar.
Renato Gaúcho é o sujeito mais chamado de “viado” em toda a história do futebol. Sabe porque? Porque ele vivia rodeado de mulheres o tempo todo.
Eu sou gordo. Eu nunca serei babaca de achar que me ofendem quando sacaneiam o Walter do Fluminense. Simplesmente porque ele é gordo, e na arquibancada existem milhares de gordos o chamando de gordo meramente para irritá-lo. Eu mesmo chamaria o Walter de gordo se jogasse contra meu time.
Aquele ambiente, desconhecido por esta geração em sua maioria, não tem a ver com o nosso dia-a-dia. É uma forma que encontramos desde 1901 para fazer do futebol algo mais divertido do que já é.
Homens, dentro ou fora do estádio, se sacaneiam chamando uns aos outros de “viado” o tempo todo. E isso não diz respeito a tolerância ao homossexual, a alguma má fé ou mesmo um preconceito qualquer. É apenas uma brincadeira.
Quando vejo os Trapalhoes, ou quadros de humor antigos, noto que o mundo emburreceu. A evolução deveria nos dar noção do que é preocupante e o que é mera bobagem. E não. Hoje, por um espaço na mídia como defensor de alguma causa, se generaliza tudo num mesmo pacote e dane-se a verdade.
A verdade é que tem muita gente hoje considerando homofobicos milhões de torcedores que simplesmente faziam uma piada. Isso sim, talvez, seja discutível e intolerável. Tentar generalizar uma má intenção onde não há por mero desconhecimento de causa.
É sim um tanto quanto complicado você dizer de repente que massas podem gritar “filho da puta, arrombado, gordo, ladrão, assassino, careca, perneta”, mas… “viado” não. Me parece um pouco contestável quanto a idéia de “igualdade” tão buscada.
Entende-se que tudo aquilo é piada, modo de dizer, mas este, especificamente este, não toleraremos mais. Porque? Será que porque ladrão, arrombado e filho da puta tem menos votos nas urnas?
Será que não há neste caso uma enorme desigualdade em busca de igualdade? Porque com esse eu estou desrespeitando e com outro é “piada tolerável”? Porque não podemos pedir maturidade pra separar as coisas ao invés de escolher um dos lados para brigar como se fossemos partidos opostos, gays e heteros?
Há um “macaco” pra Ponte Preta, um pro Aranha. Há um “viado” no estádio pra um craque, um “viado” no shopping pra ofender um gay.
Não é tão difícil separar, é?
Fonte: Blog do Rica Perrone