Dizer que o Flamengo jogou bem ontem é exagero. Foi na conta do chá e o 1 x 0 foi mais do que justo pro futebol apresentado pelo ciclópico Mengão, recordista mundial de participações em semifinais da Copa do Brasil, diante dos potiguares. Se minha intenção fosse fazer uma análise tática sintética da peleja eu diria, humildemente, que já fui a jogos piores pagando. Parabéns mesmo só pra Magnética, sempre exibindo comportamento irreprochável e lotando as arquibancadas do mundo. O nosso basquete é foda, mas o verdadeiro Orgulho da Nação é a própria Nação.
Apesar da minha eterna revolta contra as determinações jecas e demagógicas de governantes ímprobos que baniram a cerveja dos estádios é lógico que eu gostei da vitória. E não me importei nem um pouquinho com a sua magreza explícita. De vez em quando, entendedores entenderão, é bem legal uns ossinhos aparecendo. E do jeito que os times se armam hoje em dia, e digo times de todos os tamanhos, esse negócio de goleada está em vias de extinção. O alegado respeito ao adversário, argumento de 11 entre 10 retranqueiros, é só um disfarce politicamente correto para o velho medo de perder. Valeu, Felipão!
Nem se discute que no jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil ninguém tinha mais a perder do que o Flamengo. E se o time jogou com o freio de mão puxado não devemos escrotizar com o Luxemburgo, antes devemos exalta-lo. Porque tenho certeza absoluta de que se fossemos treinados por outro treinador, um desses wannabes que ainda tem que provar que são algo além do que um cara que deu muita sorte uma vez, o Flamengo poderia terminar essa fase da Copa do Brasil de maneira sorumbática. Mas, pensando bem, nesse caso não seríamos o Flamengo. Um abraço pro Mano Menezes, esse é fera.
Os anos tem sido benéficos ao nosso treinador, que vem fazendo muito bem a transição de malandro agulha para malandro rife. Refiro-me exclusivamente ao trabalho realizado nas quatro linhas, nas entrevistas Luxa continua falando mais do que o bom senso e a Lei do Morro recomendam. Mas como eu não nutro qualquer esperança de que o Luxemburgo seja um dia meu vizinho ou meu sogro, só quero que ele treine o Flamengo sem palhaçadinhas, deixa ele falar à vontade.
A Copa do Brasil 2014 vale muito para o Flamengo. Sabemos que as chances matemáticas do nosso hepta do Brasileiro são desprezíveis. Se o Flamengo conseguir ser o primeiro time na história a conquistar duas CBs consecutivamente salvará um ano coalhado de vacilos dentro e fora de campo e ainda vai ficar bem na fita para começar 2015 disputando a principal competição continental. Tal conjuntura de certa forma justifica o pau mole contra o Ameriquinha, não havia mesmo necessidade de correr riscos. Mas ao mesmo tempo nos obriga a adotar postura mais propositiva nos próximos duelos da Copa do Brasil. Pra sermos tetracampeões temos que partir pra cima de quem aparecer na nossa frente. Sem medo.
Tem quem ache que pegar a galinha mineira na semifinal é mais uma prova de que o Mengão vem sendo bafejado pela sorte. O adversário é notoriamente traumatizado com o Manto Sagrado. A simples menção das oito letras que formam o nosso nome provocam tremedeira e descontrole lá em Vespasiano. E nesse caso, temos que admitir, os atleticanos não estão de frescura.
Os fantasmas vingadores de Zico, Nunes e Renato Gaúcho ainda tem o poder de chacoalhar com as fundações do Mineirão e fazer a massa alvinegra irrigar com suas lágrimas sofridas desde a Pampulha ao ressecado norte das Gerais. Isso pra não falar do ídolo José Roberto Wright, cujo perfil de severo disciplinador ainda provoca nos marmanjos atleticanos constrangedoras enureses noturnas. Me perdoem o meu mau francês, mas as galinha pira quando tem que bater de frente com o Mengão Papaizão.
Mas como o jogo é jogado e o lambari é pescado, não convém a nenhum dos dois times se aferrar demais ao passado. A escrita que o Flamengo construiu ao longo dos anos, a de nunca ter perdido pra esses buchas quando o jogo valia alguma coisa além do que duas mariolas, um dia vai acabar. Isso é óbvio. Só não se sabe quando. A obrigação do Flamengo é trabalhar para que essa tradição se mantenha, sem se esquecer de que a tradição não trabalhará pelo Flamengo.
Pra cima delas, Mengão!
Fonte: Urublog