A decisão da FIFA de proibir a participação de investidores nos direitos econômicos dos jogadores deve “travar” o mercado de jogadores no curto prazo, até que as regras para o período de transição sejam definidas. Sem fazer juízo de valor sobre a decisão em si, o fato é que a perspectiva de mudança nas regras, por si só, servirá para que os potenciais efeitos sejam antecipados pelos agentes, antes que decisões potencialmente desfavoráveis entrem em vigor. É preciso deixar claro que são os investidores os principais financiadores das compras de direitos econômicos pelos clubes Brasileiros, já que esses estão praticamente sem capacidade de investimento, em função de sua delicada situação financeira. Dito isso, alguns cenários já podem ser antecipados:
1) Investidores que detém direitos econômicos ficarão propensos a se desfazer destes direitos enquanto a FIFA não definir as novas regras, pois assim podem evitar o risco de um mercado potencialmente mais ofertado, o que desvalorizaria seus ativos (jogadores);
2) Além do já conhecido risco inerente ao próprio investimento em jogadores, a incerteza adicional gerada pela decisão da FIFA travará o mercado para novas contratações financiadas por terceiros. Dificilmente algum novo investimento ocorrerá com recursos de investidores até que as regras de transição ocorram, o que ainda levará alguns meses;
3) Em função disso, os impactos serão notados principalmente na formação dos elencos no final do ano, já para a próxima temporada;
4) Os jogadores mais valorizados tendem a ir para o exterior;
5) Sem recursos para investir, haverá um aumento da presença de jogadores vindos das categorias de base dos clubes, o que por si só também deve provocar um “encarecimento” deste tipo de atleta;
6) Também deve haver um aumento da procura por jogadores veteranos, que não precisem de investimento na aquisição de direitos econômicos, mas que costumam turbinar a folha de pagamento com salários fora da curva;
7) Ainda não está claro pra que lado a balança da folha salarial penderá, já que o item 4 acima representa pressão de baixa sobre a folha, enquanto os itens 5 e 6 representam pressão de alta;
8) Existe a possibilidade dos clubes e investidores criarem mecanismos alternativos de forma a “driblar” as restrições;
9) Os clubes mais afetados tendem a ser aqueles que combinam uma situação financeira frágil (sem capacidade de investimento) com uma boa vitrine (que geram boas condições de revenda).
Isso é o que esperamos para o curto prazo (até 6 meses). Os efeitos de longo prazo, porém, vão depender das regras a serem adotadas pela FIFA, do prazo para sua implantação, e da “criatividade” do mercado em buscar soluções alternativas. Mas tudo indica que o impacto será importante e estrutural, levando os clubes a acelerar seus ajustes financeiros (o que é ótimo) e a considerar a possibilidade de atrair sócios investidores (inclusive através de abertura de capital), o que até hoje tem sido um tabu por aqui.