Observados os dados abaixo, parece não haver um “efeito concentração” na receita dos Clubes. Mas a realidade é um pouco diferente.
Ainda que a participação dos 5 Maiores em receita tenha diminuído de 48% para 44%, fizemos algumas simulações buscando qual o incremento de Receita que os 5 Maiores tiverem em relação aos grupos subsequentes.
Dividimos então os 23 clubes em 4 grupos, listados ao lado. E na tabela ao lado apontamos qual a diferença de receita entre os Grupos.
Note que em 2011 o Grupo 1 recebia R$ 257,9 milhões a mais que o Grupo 2. Mas em 2013 esta diferença foi de R$ 522 milhões.
Considerando hipoteticamente que estes valores estivessem distribuídos igualitariamente pelos 5 times do Grupo 1, isto significa R$ 104 milhões adicionais de Receita ao Grupo 2 por time, ou o equivalente a R$ 8 milhões mensais (sempre considerando 13 meses). É uma diferença significativa.
Claro que precisamos depurar estes números.
Algumas situações, porém, saltam aos olhos: 3 desses clubes do Grupo 1 são vendedores recorrentes de atletas; 2 desses clubes têm contratos de TV substancialmente maiores que os demais; 3 desses clubes são os clubes das 3 maiores torcidas do Pais. Ou seja, todas essas condições trabalham a favor de aumentar esta distância no médio e longo prazos.
Analisando o comportamento das Receitas Totais de forma individual, vemos que ao longo dos últimos 3 anos há pouca mobilidade no grupo dos 5 maiores clubes Brasileiros.
São Paulo e Corinthians se revezam na liderança, a depender de eventos extraordinários como a venda de atletas. Na sequência vem o Flamengo e Internacional, de forma que o Top 4 tem se repetido nesses 3 últimos anos. O revezamento, de fato, ocorre na 5ª posição. Foi do Santos em 2011 e 2012, mas o Atlético Mineiro ocupou esta posição em 2013, em função das Receitas da Libertadores e da venda de Bernard.
A partir daí vemos um segundo grupo de clubes que parece apresentar pouca mobilidade entre si, começando com o Cruzeiro – outlier em 2013 por conta do título Brasileiro – e indo até o Fluminense. Eventuais mudanças de posições entre estes clubes, com incrementos expressivos de receitas, ocorrerão em casos como venda expressiva de atletas ou títulos, que levem muitos torcedores ao estádio, subindo o preço dos ingressos. Tanto é que há dois comportamentos no Top 5 que confirmam esta condição: Internacional e Atlético Mineiro. O Internacional tem recorrência na Receita de venda de atletas, que o catapultam ao Top 5. Sem elas, em 2013 estaria abaixo deste segundo grupo, com R$ 136 milhões de Receitas. Já o Atlético Mineiro subiu ao Top 5 em função de um título e da venda de um atleta. Logo, em 2014 se não repetir estes eventos, volta ao segundo grupo, próximo ao Cruzeiro. Como estes 4 clubes são muito regionalizados, tendem a ter comportamento de receitas muito parecidos, em condições normais.
E por fim, a partir do Coritiba, temos um grupo de clubes que lutam com mais dificuldades na obtenção de novas receitas.
Ou seja, se não houvesse o fator “competência técnica de gestão”, haveria clara vantagem de São Paulo, Corinthians e Flamengo, refletindo de certa forma o tamanho de suas torcidas e suas representatividades. Sem contar que a eles é permitido “errar mais”, em função deste orçamento adicional.
Comentário OCE – A diferença é e continuará sendo a gestão
Esse processo de concentração econômica, que podemos chamar de ‘”concentração de players” ou de “agentes”, não é novo e é um processo mundial, em curso acelerado desde o início dos anos 90. Não foi coincidência que sua eclosão aos olhos do público tenha se dado coincidentemente com a globalização da economia. Esse fenômeno já foi abordado e comentado em posts anteriores desse OCE, quando falei do que ocorreu com gigantescas multinacionais que, de um dia para o outro, aparentemente, simplesmente deixaram de existir, absorvidas por outras.
O futebol não fugiu à regra, o que observamos com muita facilidade na Europa e seus grandes times que são, hoje, globalizados.
Tampouco o nosso futebol fugiu a essa regra ditada pelo mercado. Times (clubes) que já tinham uma grande massa crítica, principalmente de torcedores, fãs, adeptos, tiveram melhores condições para aproveitar essa onda.
Esse trabalho mostra isso e mostra, igualmente, que clubes gigantes com problemas sérios de gestão não conseguiram ou não conseguem acompanhar seus parceiros. Estão perdendo terreno. Outros, com gestões que, se não são exemplares, são muito boas para a nossa realidade, vêm ganhando terreno, apesar de terem o óbice da regionalidade.
O exemplo mais significativo do primeiro caso, dos grandes clubes com gestões ruins, é o Vasco, um clube ou time ou marca de alcance nacional, que sempre esteve presente com plena força entre os cinco maiores do país e hoje está fora desse grupo. Outro exemplo próximo é o Palmeiras, igualmente nacional, ainda que com menor distribuição que o Vasco da Gama, mas, em muitos aspectos, melhor estruturado que esse. Mesmo assim, essas qualidades não têm sido o bastante para mantê-lo tranquilo no grupo de ponta dessa pirâmide.
Quando olhamos para o segundo caso, de clubes com grande força regional e menor presença nacional, encontramos pelo menos três exemplos em que boas gestões têm feito diferença seguidamente. Na frente dessa turma está o Internacional, há muitos anos com presença garantida no topo da pirâmide. Logo depois vem seu parceiro/rival, o Grêmio, e mais o Cruzeiro. A presença do Atlético Mineiro é nova, muito recente, e sua permanência vai depender de acertos diretivos que mantenham o time no topo, com a torcida incentivada e dando bom retorno.
Três times nacionais, com bom mercado potencial, atravessam momentos complicados.
O Santos há alguns anos vem oscilando nessa listagem. Com a permanência de Neymar, o então presidente santista tinha a intenção declarada de consolidar o clube entre os ponteiros em receitas e aumentar a torcida graças ao carisma do jogador. A recente pesquisa Lance-IBOPE não deu sinal, ainda, de algum efeito da presença de Neymar, mas só poderemos saber disso com certeza em mais dois ou três anos.
Outros dois clubes tradicionais e nacionais – Fluminense e Botafogo – atravessam dificuldades de monta graças à sucessão e somatória de gestões desastrosas no decorrer do tempo. Dos dois, a pior situação é, sem dúvida, a do Botafogo, que vai precisar de seu próximo presidente e seu grupo, uma verdadeira reinvenção em todos os sentidos. As águas mais calmas em que navega o Fluminense são enganadoras, pois muito dessa calma aparente está calcada numa parceria sobre a qual o clube não tem controle.
Os clubes marcadamente regionais fazem um grupo grande e interessante, com vários deles tendo condições para crescer de forma significativa, como, por exemplo, o Atlético Paranaense, dono de bela estrutura, inclusive um estádio usado na Copa do Mundo. Seu rival local, o Coritiba, assim como os dois clubes de Salvador, Bahia e Vitória, e mais o Sport, estão presentes em bons mercados, que precisam ser melhor trabalhados, especialmente fora das regiões metropolitanas. Naturalmente que com boas gestões, sempre.
Os que podem errar
Os autores do estudo foram extremamente felizes nessa colocação: “a eles é permitido ‘errar mais’” – referindo-se ao trio de ponteiros: Flamengo, Corinthians e São Paulo. No estudo, a ordem de colocação é inversa, obedecendo ao critério de maiores receitas em 2013. Aqui, em meu comentário, optei pela ordem das maiores receitas operacionais no mesmo ano.
Considero bastante significativo e até postei a respeito, que o Flamengo tenha obtido em 2013 um maior faturamento que seus rivais habituais. Que se mantiveram à frente graças à transferência de atletas, ao passo que o Flamengo superou-os nas receitas operacionais graças a uma gestão que ainda tateia, mas que vem acertando no fundamental: a tentativa de colocar a casa em ordem.
O cenário de nosso futebol deixa claro que o potencial de nossos clubes está muito longe de ser atingido e a questão não é a suposta “espanholização” ou preferência da televisão por esse ou por aquele. A questão de fundo, a que realmente faz diferença é, continua sendo… Gestão.
Fonte: Olhar Crônico Esportivo