O Estatuto do Flamengo, que é do ano de 1992, precisa ser urgentemente modernizado, permitindo o crescimento da instituição. Não só para atender a legislação vigente mas, também, para adequar o clube aos modernos conceitos de governança corporativa, especialmente no que diz respeito aos cumprimentos das obrigações orçamentárias e fiscais. Lembremos que o nosso estatuto, por exemplo, não impediu – como deveria – que as nossas dívidas alcançassem o montante de R$750 milhões, e o que é pior, não identificou o(s) responsável(is).
Quatros grupos apresentaram propostas, dos quais três são oposicionistas à atual administração e um (denominado SoFla) é da base de apoio político ao Bandeira de Mello.
Um dos pontos mais polêmicos da Reforma do Estatuto é o do direito de voto para presidente. Os três grupos oposicionistas defendem a permanência da situação existente. Já o grupo de apoio à atual diretoria apresenta uma proposta revolucionária, que busca ampliar o número de votantes, alcançando parte da torcida (basicamente, mas não unicamente, os STs).
Atualmente o Flamengo tem algo em torno de 11 mil sócios com direito de voto, porém, historicamente, apenas 3 mil exercem esse direito. Ou seja, 3 mil decidem a vida de 40 milhões de torcedores.
As alegações dos que defendem a manutenção das regras atuais são:
1) Que aqueles que não convivem na Gávea não tem como conhecer os candidatos.
2) Abrir o direito de votos para quem não frequenta a Gávea implicará no abandono dos investimentos no parque social do clube e, provavelmente, nos esportes olímpicos, pois grande parte da torcida só se interessa pelo futebol.
3) Que a carteira de STs ficará nas mãos dos mandatários do clube, o que os permitirá manipular e manobrar esses eleitores.
4) Que não é possível ter votantes virtuais (o cadastramento do ST é feito pela internet), fazendo-se necessário que os mesmos compareçam pessoalmente na secretaria do clube para cumprir o ritual tradicional de associação e de voto.
Passo a opinar sobre cada um dos pontos acima: Quanto aos eventuais desconhecimentos de muitos sobre os candidatos, vamos pensar… O fato de “conhecer” os candidatos levou o clube a ter excelentes dirigentes nos últimos anos? E, ainda, com a capacidade de mídia que temos hoje realmente é impossível saber sobre os candidatos? Nas eleições de 2012, além do tema ter sido fartamente explorado pela mídia, tivemos a oportunidade de assistir a alguns debates dos presidenciáveis, tanto na TV como na internet. E a tendência é que isso se amplie. Com relação ao suposto abandono dos investimentos nas instalações sociais da Gávea, sob a alegação de que os que não frequentam a Gávea não se importariam com isso, penso que isso pode ser resolvida pelo próprio estatuto, fixando um percentual mínimo do orçamento para a modernização e manutenção dessas instalações. Ou, então, dando poderes estatutários aos Conselheiros do clube para interferir e decidir sobre essa questão. E quanto aos esportes olímpicos, vocação nata do clube, o caminho é que esses sigam de forma autônoma financeiramente, quer seja através de verbas de incentivos fiscais ou com patrocínios próprios, não devendo haver, no entanto, impedimentos para que receitas de outras naturezas, se necessário, sejam investidas nessas modalidades. Mas concordo que o Flamengo não pode abandonar os esportes olímpicos. Muito pelo contrário, precisa crescer cada vez mais, pois isso fortalece a nossa marca e mantém as nossas tradições. No que diz respeito ao favorecimento que os mandatários da ocasião terão com a carteira de sócios-torcedores eu enxergo exatamente ao contrário. Diferentemente do modelo atual, em que os correligionários apoiam incondicionalmente àqueles que fazem parte dos seus grupos, a torcida será impiedosa com quem fizer uma má gestão, pois, afinal, para o torcedor independente o clube está acima dos seus dirigentes. E, por último, quanto ao cadastramento virtual (pela internet), qual o problema? Então comparecer pessoalmente na secretaria do clube servirá para impedir que malfeitores ou inimigos do clube ingressem no quadro de associados? O que vai fazer barrar um torcedor arco-íris de associar-se ao clube comparecendo pessoalmente na Gávea? Cabe lembrar que atualmente possuímos sócios que são torcedores de outros clubes, que associaram-se por morarem perto da Gávea e desejarem usufruir das instalações do clube. E esses podem votar.
A posição revolucionária do grupo de apoio ao Bandeira de Mello está baseada no princípio de que o poder deve emanar da Nação Rubro-Negra, e, ainda, que isso permitirá que o Flamengo multiplique o número de associados muito rapidamente, tornando-se, portanto, uma potência em arrecadação. Também se baseiam no fato de que o Flamengo é um gigante que possui uma boa sede, e não um clube social que, por acaso, possui uma grande torcida. O Flamengo é, acima de tudo, um clube esportivo (acima do social), que tem o futebol como o seu carro-chefe. É claro que ninguém quer que isso aconteça, mas se o Flamengo fechar o clube social, ainda assim, continuará gigante. E sem a torcida o Flamengo se torna um clube de bairro. Se é assim, como não possibilitar que a imensa torcida, espalhada Brasil afora, não tenha a oportunidade de decidir sobre o futuro do clube?
ET.: Para evitar um número exagerado de inscrições de STs nas vésperas das eleições, possibilitando, assim, fraudes eleitorais, é óbvio que só terá direito a voto o ST que estiver em dia com as suas mensalidades e que tiver um determinado tempo mínimo de associação (fala-se em 3 anos ininterruptos), o que acho justo é correto.
As vaidades pessoais precisam ser deixadas de lado. A instituição precisa estar acima dos interesses pessoais. A política, muitas vezes suja, que é praticada no Flamengo está impedindo que o clube evolua. Muitos não querem perder poderes, como se o clube fosse deles. Algumas pessoas torcem contra com o propósito de impedir que o grupo que está no comando obtenha ganhos políticos, além de semearem crises visando o enfraquecimento de dirigentes. O que é isso? São esses que se consideram apaixonados pelo clube?
Por Silvio Macedo