Já se passaram quase nove meses de sua demissão do Fluminense e, pela primeira vez, o ex-diretor de futebol do clube e atualmente dirigente do Flamengo, Felipe Ximenes, falou abertamente de sua conturbada passagem pelo Tricolor carioca. Em entrevista ao ESPN.com.br, ele também comentou sobre sua chegada explosiva ao Rubro-Negro, quando um áudio seu, aos berros com os jogadores, vazou no vestiário em Uberlândia e foi captado pela ESPN, após a derrota para o Cruzeiro por 3 a 0, na nona rodada do Campeonato Brasileiro.
Com uma passagem de apenas 36 dias como dirigente do departamento de futebol das Laranjeiras, Ximenes -foi apresentado no dia 17 de dezembro e demitido no dia 22 de janeiro- revelou exclusivamente ao ESPN.com.br que não aconteceu uma demissão, mas duas em pouco mais de um mês.
“A primeira vez que fui demitido foi no dia 24 de dezembro, às 10h da manhã por telefone, quando estava na minha cidade em Três Corações, e fui readmitido dia 25 de dezembro à tarde já aqui no Rio. Quem me demitiu foi uma pessoa e quem me readmitiu foi outra, que vem a ser a mesma que me demitiu dia 22 de janeiro. Mas não quero entrar nesse ponto (motivo da demissão) e nem citar nomes”, revelou o dirigente, que prefere não citar nomes e motivos para os fatos.
Já sobre o áudio que vazou e foi captado pela ESPN no início de junho, quando já era diretor executivo de futebol do Flamengo, Ximenes foi crítico. O dirigente chegou a levantar se a questão é ética ou não, de divulgar informações que são internas do clube, e acredita que muita coisa precisa ser repensada no futebol brasileiro. Mas o fato é que o episódio abalou a relação interna no clube.
No vídeo Ximenes disse aos berros que “Não era para ter tomado de três ou quatro. Era para ter tomado de oito. De oito! Eu sei que tem jogador que não está nem aí para essa p… E se não está nem aí para essa p…, eu não estou nem aí para os (inaudível)”.
Confira abaixo a entrevista exclusiva com Felipe Ximenes:
ESPN.com.br – Logo na sua chegada ao Flamengo vazou aquele áudio seu gritando no vestiário em Uberlândia, após o Cruzeiro vencer por 3 a 0. O que aconteceu ali? Aquilo serviu para acordar o time e, meses depois, ter retribuído o placar no domingo contra os mineiros no Maracanã?
Felipe Ximenes – Acho, sinceramente, que às vezes algumas conversas que são internas do grupo, quando se tornam externas ganham um peso maior que têm. Tanto pelo lado positivo quanto para o lado negativo. Acho que seria uma pretensão muito grande minha achar que o fato de eu ter falado mais duro com eles contra o Cruzeiro no final do jogo, e neste domingo, a vitória também por 3 a 0, colocar para mim um motivo desses. Como seria muito injusto também pautar o meu trabalho simplesmente por uma conversa de três minutos pós-jogo. Uma conversa mais dura pós- jogo é algo muito comum. O que não é comum é essa conversa ser exposta, que particularmente foi a ESPN que acabou vazando o áudio. Eu não gosto de questionar nada, mas podíamos pensar e conversar a respeito de ética. O que é ético e o que não é ético dentro da nossa profissão, e de todas as profissões. Será que é ético captar uma coisa que é interna? E divulgar dessa forma para as pessoas julgarem?
Mas o torcedor não tem direito de saber o que está acontecendo? E o papel da imprensa não é informar?
A gente tem conversas duras, o que é bem natural. É comum. Às vezes o teor e a forma como falamos é o no nosso linguajar interno. Não quero dar muito peso para isso, por que para mim não tem peso. Só que às vezes essas coisas ficam como tatuagens em você. Você reduzir quatro meses de trabalho, que é muito pouco, e as pessoas te marcarem por uma coisa que não tem tanto peso… Acho que temos coisas mais importantes para discutirmos no futebol que coisas banais. Acho que nesse período muitas ações foram tomadas, e eu faço parte do Flamengo, que fizeram com que a equipe tenha dez posições acima do que estávamos na época. Foi muita coisa que aconteceu para colocarmos o peso só naquele fato.
Mas você acredita que aquele episódio sacudiu o grupo de alguma forma?
Seria uma hipocrisia muito grande minha falar que eu não pensei domingo: ‘Que ironia do destino’. Foi uma ironia, a vida é irônica. Estou chegando aos 50 anos e procurando aceitar a vida mais como ela é, e aprendi a reagir melhor para aquilo que a vida me apresenta.
Como está à situação do goleiro Felipe? Quando o Luxemburgo assumiu o time, o Paulo Victor ganhou a posição. Ele está nos planos do Flamengo?
O Felipe tem contrato até o fim de 2015 e faz parte do elenco. Ele teve problemas de lesões e ficou entregue ao departamento médico (neste momento Ximenes abre a ficha médica do jogador e mostra que o atleta teve uma fratura no tórax que o deixou de molho do dia 20 de junho a 07 de julho; depois teve uma mialgia na coxa que durou do dia 31 de julho a 08 de agosto; e por último mais 28 dias se recuperando de um trauma na mão, e só foi liberado no dia 25 de setembro para voltar a treinar). O Felipe ficou 53 dias no DM. Não esperava essa pergunta, mas isso é fato. Hoje temos onze jogando, onze no banco e onze que não são nem relacionados. Mas ele é jogador do Flamengo e, se amanhã o Vanderlei quiser utilizá-lo, pode. Se não quiser colocar no banco, também pode. Ele faz parte do elenco do clube.
As saídas de André Santos e Elano do Flamengo foram conturbadas. O que realmente aconteceu?
São dois casos diferentes. Eu não considero a saída do Elano conturbada. Pelo contrário, o Elano foi de uma retidão com o Flamengo incrível. É uma atleta que eu nunca tinha trabalhado, e posso considerar hoje não um amigo, mas uma pessoa que admiro muito. Do dia que ele falou comigo até o dia que nós rescindimos o contrato a pedido dele, ele não deu uma declaração à imprensa. Tudo que saiu, foram as especulações naturais dentro do mercado do futebol. Ele foi um cara extremamente correto, profissional e humano. Quando falo que o Elano fez isso, e não estou falando que o André Santos é o contrário, não tem absolutamente nada a ver com isso. Eu sinceramente lamento muito como aconteceu o fato com o André Santos. É isso que posso dizer, lamento muito. Porém fico satisfeito de que no final tenhamos conseguido fazer uma rescisão amigável com ele.
Partiu do André Santos rescindir com o Flamengo?
Não. O clube buscou uma rescisão amigável com o atleta e acabou conseguindo isso. O fato de ele dizer não queria sair do Flamengo, não o impede de fazer uma rescisão amigável. Não são situações que são opostas. Volto a dizer, eu lamento a maneira como aconteceu entre a decisão de buscar uma rescisão amigável e o final dela. Penso que muitas coisas poderiam ter sido evitadas. Mas tenho absoluta consciência e segurança que o Flamengo agiu com o André Santos de uma forma profissional, correta e séria.
Você já o conhecia? Teve contato com ele depois da saída do Flamengo?
Eu conheci ele antes de trabalhar no Flamengo, num jogo do Flamengo, da Libertadores, que fui assistir na casa de uma amigo e ele estava lá com a esposa, ele acabou conhecendo até as minhas filhas. Eu me considero mais próximo do André Santos do que o Elano. Por causa da personalidade, pelo fato de termos amigos em comum. Não somos amigos pessoais, mas depois que ele saiu do Flamengo já falei com ele por celular, pessoalmente e pelo Whatsapp. E sempre de uma forma amigável e carinhosa, até por que não tem motivo para ser diferente.
Como você vê a exposição dos diretores executivos de futebol? Você acha que está havendo um excesso?
Sempre fui uma pessoa que defendo a diminuição da exposição da função de diretor executivo. Tenho uma preocupação sobre esse excesso de exposição que a função vem trazendo. A função de diretor executivo é uma função meio e não fim. E para que uma função meio possa ter eficiência, precisa de coisas que são muito importantes, e uma delas é a discrição. Se trouxermos esse personagem do diretor executivo para um protagonismo grande, como está acontecendo, sinceramente é um risco que a gente está correndo de uma função que poderia ser muito benéfica para a mudança no futebol brasileiro e a gente vai acabar de novo criando personagens. Criando mocinhos e bandidos que não contribuem em nada para o futebol brasileiro.
O que realmente aconteceu na sua saída do Fluminense? Sua demissão foi uma questão política?
Vou falar sobre isso pela primeira vez: Foram exatos 36 dias no Fluminense. Fui demitido do dia 21 para o dia 22 de janeiro, e não dei nenhuma entrevista, nenhuma declaração. Eu simplesmente não falei nada. Mas nesse período (36 dias) que eu fiquei lá fui demitido duas vezes. Pela primeira vez estou falando isso. A primeira vez que fui demitido foi no dia 24 de dezembro, às 10h da manhã por telefone, quando estava na minha cidade em Três Corações, e fui readmitido dia 25 de dezembro à tarde já aqui no Rio. Quem me demitiu foi uma pessoa e quem me readmitiu foi outra, que vem a ser a mesma que me demitiu dia 22.
Você chegou ao Fluminense pelas mãos do presidente Peter Siemsen e contra a vontade de Celso Barros, presidente da patrocinadora Unimed-Rio, que defendia a permanência de Rodrigo Caetano, hoje no Vasco da Gama. Foi saiu por causa do Celso Barros?
De tudo que aconteceu comigo no Fluminense, eu posso te garantir que, se tem uma pessoa, não estou falando que tenho de outras pessoas porque não carrego isso comigo, mas se tem uma pessoa que não tenho nenhuma mágoa, nenhuma mesmo, é o doutor Celso Barros. Desde o primeiro dia que eu cheguei pela terceira vez ao clube, ele foi sincero comigo, dizendo que eu tinha ‘entrado pela porta errada’. Ele nunca me enganou. Não foi o Celso Barros que me contratou, portanto, em nenhum momento foi ele que me demitiu. O Fluminense me contratou e o Fluminense me demitiu. O que levou o Fluminense a me contratar e demitir eu não sei até hoje. Não tem como julgar um trabalho que você assina um contrato por três anos e com pouco mais de 30 dias você demite. Isso não tem cabimento.
Na época foi falado que você não participou de duas contratações importantes, a de Renato Gaúcho e Walter, enquanto era o diretor executivo do Fluminense. Qual era a sua participação na vida do clube?
Ao contrário do que foi falado eu participei, sim, da contratação do Walter e do Renato Gaúcho. Nada foi feito escondido de mim. Pelo contrário, eu acompanhei todos esses processos.
Hoje você parece estar mais leve, menos fechado e mais sorridente, os ares do Rio de Janeiro estão te fazendo bem?
Será? Tenho uma ligação com um Rio que não é nova. Mas acho que o fato de estar mais perto da minha família seja um fator que me ajude nisso. Talvez o fato de eu ser uma pessoa mais discreta no meu trabalho, faça com que as minhas aparições sejam menores e, às vezes, a maneira como as pessoas me buscam, me encontram ou percebem tenham uma visão mais fragmentada de momentos.
Como está o planejamento para 2015? Há contratações e discussões de renovações de contrato em andamento?
Penso que contratação e dispensa de atletas é assunto interno. E não tem nenhum motivo que justifique você tratar esse assunto de forma externa. É muito simples de explicar por que acredito nisso: sou uma pessoa que lido direto com o mercado e uma opinião minha em uma negociação, de que o clube está atrás de determinado jogador pode aumentar ou diminuir o preço de uma negociação de uma forma significativa. Se falo que estou contratando três jogadores, como fica o atleta que está aqui? Se falo que não vou renovar contrato de um jogador meu que é titular agora? Em qualquer final de temporada existem contratações, dispensas e renovações.
Fonte: ESPN