O Flamengo divulgou recentemente o balancete referente ao 3º trimestre de 2014. Para analisar as informações divulgadas, entendi que o melhor seria dividir e analisar três temas diferentes, Faturamento, Resultados, e esse, que vem sendo o assunto mais contestado, Endividamento.
Conceito: O endividamento, basicamente é, aquilo que o clube deve menos aquilo que está disponível ou que irá receber. Em termos contábeis a fórmula é:
(Passivo Circulante + Passivo não Circulante) – (Ativo Circulante + Despesas Diferidas + Demais Contas a Receber)
Obs1: No caso específico do Flamengo (e mais alguns poucos clubes), não são consideradas como Passivo as rubricas Adiantamento de Contratos uma vez que se referem, apenas, a contabilização de luvas recebidas antecipadamente pela assinatura de determinados contratos, e estão classificadas no passivo para atender a uma correta alocação por competência.
Obs2: No ano de 2012 foram considerados R$ 35 milhões da rubrica Adiantamento de Contratos como endividamento, uma vez que, nesse caso especificamente, se tratavam de valores antecipados realmente.
Gráfico 1 – Evolução do Endividamento em milhões de Reais
O gráfico acima demonstra a evolução do endividamento do clube desde o início da gestão Bandeira de Mello. Após a divulgação do balancete do 3º trimestre de 2014, o endividamento, que era de R$ 750 milhões no início do mandato já é de R$ 577 milhões, com projeção de fechar o ano em R$ 562 milhões. A continuar nesse caminho, o fluxo de caixa projetado do clube indica que em 2016 não haverá a necessidade de novos empréstimos, e que em 2018 o clube pode não ter mais dívidas privadas, restando uma dívida fiscal equacionada.
O clube vai, claramente, na contramão dos grandes clubes do futebol brasileiro. Daqueles que divulgam balancetes periódicos, todos os clubes apresentam crescimento no endividamento, sendo em alguns casos de forma mais expressiva, como o Corinthians que apresentou um aumento de R$ 42 milhões, Santos, R$ 49 milhões ambos no semestre, e o Palmeiras, R$ 52 milhões em oito meses.
Gráfico 2 – Evolução do Endividamento de Curto Prazo
Não só a redução do endividamento total como também a política de alongamento da dívida, resulta em uma expressiva redução no endividamento de curto prazo (gráfico acima), melhorando a perspectiva do, ainda apertado, fluxo de caixa. Apertado porque essas obrigações representam 1/3 da receita do clube e novos empréstimos deverão ser captados para cumprir esses compromissos.
Gráfico 3 – Composição do Endividamento
Algumas notícias dão conta de que: “O Flamengo está trocando dívida pública por dívida privada”. É verdade? Não. A dívida fiscal representava 51% da dívida total em 2012 e em setembro de 2014 praticamente manteve o mesmo patamar, 52%. O crescimento da participação da rubrica Empréstimos (11% para 20%) é compensada pela redução em Contas a Pagar e Provisão para Contingências.
Gráfico 4 – Índice Endividamento / Faturamento
O índice Endividamento / Faturamento é um exercício que demonstra quantos anos de faturamento seriam necessários para pagar a dívida. As receitas mal exploradas conjuntamente com uma alta dívida faziam com que o clube tivesse uma das piores relações nesse indicador no futebol brasileiro em 2011. Em 2014, o aumento do faturamento e a redução do endividamento, projetam o clube para um índice mediano no futebol brasileiro. Em 2013, sem considerar as receitas com venda de atletas, o Palmeiras apresentou os mesmos 1,8 anos e o São Paulo, 1,2.
Conclusão
A redução do endividamento demonstra que a diretoria atual vem cumprindo, a duras penas, os compromissos de campanha: impostos em dia, fim das penhoras e um clube cidadão. Porém, esses pagamentos acabam por sufocar o fluxo de caixa mensal do clube, impedindo os investimentos em uma qualificação mais agressiva do elenco. A expectativa do clube é por um alívio em 2016, ou pela aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que representaria esse tão sonhado alívio já em 2015.
Fonte: Balanço da Bola