Os últimos seis meses foram de uma realidade com a qual Jayme de Almeida não está acostumado. Demitido pelo Flamengo em maio deste ano, o ex-técnico rubro-negro chegou a estar perto de fechar com três clubes durante o Campeonato Brasileiro, mas, segundo ele mesmo, perdeu a disputa para os concorrentes.
As derrotas fora do campo nem de longe tiraram a paz e a serenidade de Jayme. Aos 61 anos, ele lê com orgulho as notícias que dão conta da vontade de Vanderlei Luxemburgo em levá-lo de volta ao Flamengo, agora como coordenador técnico.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Jayme destacou a relação com a torcida, decretou o fim de qualquer mágoa pela forma como foi demitido e deixou claro que a possível volta ao clube ainda é um assunto proibido.
“Fico lisonjeado em saber, mas não existe nada ainda. Não posso falar de algo que não existe, não seria ético da minha parte”, decreta.
Confira a íntegra da entrevista:
UOL Esporte: Por que um técnico campeão da Copa do Brasil do ano passado e Estadual este ano está há tanto tempo parado?
Jayme: Não vou dizer que tive vários convites, porque não preciso inventar situações. Recebi três propostas durante o Campeonato Brasileiro e perdi a disputa com outros concorrentes. Eu procuro encarar com naturalidade. O ano está chegando ao fim, o mercado se abre e a luta continua. Vamos ver o que vai acontecer.
UOL Esporte: No Flamengo, o que mais se comenta é sua possível volta a pedido do Luxemburgo. Como está essa situação?
Jayme: Eu procuro nem falar nesse assunto. O Vanderlei é meu amigo há muitos anos, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. É claro que fico lisonjeado em ler essas notícias, mas não posso falar de algo que ainda não existe. Não é ético fazer isso. Seria até uma falta de respeito com as pessoas que estão no clube.
UOL Esporte: Você se arrepende de ter deixado de ser auxiliar para seguir como técnico?
Jayme: Em toda a minha vida dificilmente me arrependi de alguma decisão que tomei. O caminho me levou a ficar e eu me preparei muito para ser técnico, não apareci na função do nada. Sei que posso não ter agradado a todos, mas o trabalho feito foi muito bom. Ganhamos a Copa do Brasil e também o Estadual. Valeu a pena ter ficado.
UOL Esporte: A forma como foi demitido pela diretoria (Jayme ficou sabendo pela imprensa que não era mais o técnico do time em um dia de folga) deixou marcas?
Jayme: O que eu sempre falei e digo até hoje é que o problema não foi a decisão de demitir. Isso é normal em qualquer ramo da vida. O problema foi não terem me avisado primeiro. É claro que não gostei, mas a vida segue. Na hora vem aquele momento de raiva, mas não fico remoendo, não. Voltei ao clube algumas vezes e cada um tem a sua consciência. Hoje é tudo normal.
UOL Esporte: A eliminação precoce da Libertadores foi uma decepção?
Jayme: A Libertadores pedia mais do que fizemos em muitos aspectos. Tivemos problemas pontuais também. Não culpo ninguém, jamais colocaria uma derrota na conta de um jogador específico. Mas erramos muito. Contra o Bolívar, entregamos um gol (Samir escorregou no lance), jogamos quase o tempo todo contra o León com um a menos (Amaral foi expulso no primeiro tempo). Perdemos jogadores importantes, como Elias e Luiz Antonio, tivemos muitas lesões… E os reforços não engrenaram. O Elano, por exemplo, sofreu com lesões. Insisto que ninguém é culpado sozinho, mas os problemas somados fizeram o time não render bem.
UOL Esporte: E a relação com a torcida mudou depois da sua demissão?
Jayme: Se mudou, foi para melhor. Até hoje sou cumprimentado por onde ando na rua, as pessoas me procuram para falar de Flamengo, uns dizem que sentem saudade. A relação que eu construí com o Flamengo é eterna.
UOL Esporte: Você passou por um momento especial na homenagem aos tricampeões (1942/43/44), time do qual seu pai fez parte, na partida contra o Internacional. A reação do torcedor te surpreendeu?
Jayme: A recepção que eu tive foi emocionante, inesquecível, uma das coisas mais bonitas que já passei na vida. Cheguei a pensar se devia ir mesmo, mas era uma homenagem ao meu pai, né? Ele ganhou seis títulos, era quase uma obrigação minha estar lá para homenageá-lo. Não imaginei que seria tão especial. O carinho do torcedor é um reconhecimento ao trabalho que fiz. Independentemente se estou no clube hoje, ou não, a torcida do Flamengo vai me marcar para sempre.
UOL Esporte: Você procurou se manter atualizado sobre o que aconteceu durante o tempo em que está parado?
Jayme: Acompanhei tudo, o futebol é minha vida. Procurei ver jogos daqui e de fora para saber como agir, como estão jogando. Hoje em dia é tudo muito parecido. Os times marcam muito e quem tem jogadores de mais qualidade leva vantagem.
Fonte: UOL