É comum ouvir nos bastidores da Gávea que certos gastos da administração Bandeira de Mello, que tomou posse em janeiro de 2013, são difíceis de explicar. Em conversa com a reportagem do UOL Esporte, atletas do futsal, vôlei e outras modalidades, por exemplo, até hoje não compreenderam por que tiveram os lanches pós-jogo (um pacote de biscoito ou um sanduíche de queijo, mais um copo de guaraná natural) suspensos há quase dois anos, sob a alegação de contenção de despesas. O custo total? R$ 8 mil anual.
Entretanto, a medida não funcionou para outros setores. Por exemplo: o clube pagou R$ 17.449,80 a Renato Costa Valverde pela chegada do Papai Noel à Gávea no fim de ano 2013, como aparece na folha de pagamento de janeiro deste ano, a qual a reportagem teve acesso com exclusividade.
Na matemática simples, os responsáveis pelo evento com o Papai Noel receberam pela festa na sede mais do que seria gasto em dois anos com o lanche dos atletas. Futsal e vôlei são as modalidades que mais sofrem.
Segundo pais de atletas, o abandono vai além dos lanches. No vôlei, por exemplo, o clube não custeia mais as passagens de viagens de ônibus. O aluguel do transporte é dividido entre os atletas. Para conseguirem bancar as despesas, parentes vendem rifas e doces na Gávea.
“Vender doces não é uma atividade que envergonhe qualquer pessoa. Mas é constrangedor buscar uma forma de ajudar o filho a viajar para representar o clube, usando a camisa do Flamengo”, contou a mãe de um dos atletas, que pediu o anonimato com medo de ter o filho prejudicado.
No futsal, o panorama é parecido. Uma das primeiras atitudes do ex-vice de futebol Wallim Vasconcelos ao assumir a função – atualmente ele é vice-presidente de patrimônio – foi tirar a modalidade do centro de custo do futebol e passá-la para o dos esportes olímpicos. A sala na Gávea que servia para guardar material foi desativada. O quadro de 17 profissionais que atuavam nas seis categorias da modalidade foi reduzido para oito, incluindo-se aí um roupeiro e um massagista.
Recentemente, pais de atletas foram chamados por diretores para que bancassem a compra de bolas para treinos, num total de R$ 4 mil. Houve revolta, e o clube decidiu arcar com a despesa.
“Se aceitarmos tudo, nossos filhos pagam para jogar”, relatou outro pai.
Procurado, o Flamengo alegou que fornecer lanches aos atletas não é uma obrigação do clube. O Rubro-negro esclareceu ainda que utiliza a prática para beneficiar apenas os que possuem mais dificuldades no vôlei e no basquete. Um exemplo são aqueles que moram longe e passam mais tempo na Gávea. A comissão técnica de cada categoria entrega a relação dos que serão contemplados com os lanches a cada ano.
Em relação ao futsal, o Rubro-negro argumentou que não houve corte, já que a gestão não disponibilizou o benefício desde que assumiu, em 2013. No entanto, nos balanços de pagamentos obtidos pela reportagem, o clube acumula despesas de quase R$ 20 mil mensais com lanches e refeições de outras modalidades, como o Beach Soccer, que parece ter mais prestígio do que os jovens do futebol de salão.
Fonte: UOL