Não se fala de outra coisa. Ainda em suas primeiras horas, este 10/12/2014 se notabilizou por ser o dia em que a Unimed anunciou o fim da parceria com o Fluminense. A data também ficará marcada como aquela em que finalmente se inicia a abertura da caixa de Pandora tricolor. O que se verá dentro dela é um grande mistério.
Naturalmente, o título da coluna é uma brincadeira com um dos maiores memes do Twitter, de autoria deste que vos fala e originalmente relativo ao Flamengo. O Fluminense não está rebaixado no sentido próprio da palavra – o foi em 2013, mas isto são outros quinhentos. O “rebaixamento” tricolor, no caso, se refere a uma queda abrupta de padrão. Um choque de realidade que, por muito tempo, tomará de assalto os salões nobres das Laranjeiras.
A verdade é que o patrocínio da Unimed era um verdadeiro mecenato, algo que não fazia o menor sentido em termos mercadológicos. Atualmente, matérias e colunas dão conta de um montante anual de R$ 25 milhões injetados no Tricolor. Balela! Apesar da queda verificada nas duas últimas temporadas, o “paitrocínio” da cooperativa chegou a bater a casa dos R$ 100 milhões anuais – se somarmos pagamento de salários, compra de direitos econômicos e repasses diretos. Trata-se do dobro do que recebem clubes como Flamengo e Corinthians, com maior exposição e taxas de retorno.
Durante todo este período, o Fluminense não entrava para perder. Sua atividade favorita era atravessar negociações em curso, principalmente se envolvessem arquirrivais. Com isto, valores se inflacionavam e o clube se valia justamente da bonança financeira para surgir como único capaz de honrar os compromissos. Com base nesta lógica perversa e nada saudável, o Fluminense montou verdadeiros esquadrões e voltou aos títulos nacionais após mais de duas décadas.
Mas a referida bonança não corresponde ao valor de mercado do Fluminense. Nos rankings de receita, o clube sequer aparece no top-10 e sempre regula com o coirmão Botafogo. Aliás, o afluxo de receitas da Unimed fez do Tricolor um clube maior que o Alvinegro, quando historicamente sempre foram similares. O bicampeonato brasileiro nos pontos corridos e a Copa do Brasil de 2007 contrastam com o rebaixamento botafoguense à Série B. Clubes com o mesmo número de torcedores, montante de receitas e perfil das dívidas.
Mas Rica Perrone está certo quando diz que o Fluminense não é o Chelsea, de modo que os torcedores não necessariamente ouçam tocar as trombetas do inferno. O resgate passa justamente pela torcida – a mais elitizada do país em termos sócio-econômicos e por isto atrativa dentro do nicho de mercado. Andar com as próprias pernas também fará bem a um clube que almeja a independência, e neste sentido os méritos são do presidente Peter Siemsen, ferrenho opositor ao regime autocrático de Celso Barros desde que assumiu o cargo.
Segundo consta, jogadores com contrato vigente (ex: Conca) continuarão com salários arcados arcados pela Unimed, tornando menos abrupto o rompimento. Em compensação, diversos vínculos que se encerram em 2014 – envolvendo peças-chave como o goleiro Diego Cavalieri – já não serão renovados. Enquanto o ídolo da companhia (o centroavante Fred) reclama publicamente dos direitos de imagem desonrados, mesmo representando parcela pequena de seus vencimentos. Alguém acredita que, daqui para frente, o Fluminense terá condições de arcar com salários milionários em sua totalidade?
Dias sombrios virão.
Fonte: Teoria dos Jogos