Ensaiei um período sabático, ando meio preguiçoso por culpa do futebol. Resolvi então escrever sobre o fim do campeonato. Aí vem a Vivi e apresenta mais uma pérola ao seu cordão interminável. Refuguei e voltei ao dolce far niente. Minha musa das letras pediu e o desejo dela é uma ordem. Aqui estou para reverenciar o trabalho espetacular dos azuis no futebol nos últimos dois anos. Irretocável, incomparável, incontestável, imbatível. Planejamento perfeito. A lamentar apenas um pequeno detalhe, os azuis não são os do Flamengo, mas os do Cruzeiro, três vezes campões brasileiros em 11 anos, sem contar as Copas do Brasil. Enquanto isso, a politicagem rubro-negra respira eleições. Há mais de quinze dias só se fala nisso, me telefonam cabalando meu voto, me mandam vídeos pelo Whatsapp. Em 2009, na mesma época, estampávamos nosso orgulho com uma faixa de Hexa a semana inteira.
Em nosso reino encantado rubro-negro, temos mais ogros do que príncipes, mais anões do que gigantes, mais bruxas do que fadas. É phoda, numa licença poética em homenagem à Pherusa, quando tudo começou há 119 anos. As ondas responsáveis pelo naufrágio de nossa emblemática embarcação só não foram maiores do que os egos enormes a percorrerem os corredores palacianos à beira da Lagoa. Ainda que as raposas felpudas da Gávea exibam por lá seus focinhos empinados com frequência somente episódica.
Dois anos paupérrimos dentro das quatro linhas, mesmo se considerarmos a Copa do Brasil/2013 e o Carioca/2014. A primeira, um milagre do mata-mata, uma obra perfeita do Grande Arquiteto, confesso integrante da Imensa Nação. Apoiado pela gigantesca ajuda da Magnética, o Urubu-Rei transmutou-se em Fênix, como de quando em vez, e engoliu sem mastigar os líderes do Brasileiro, competição na qual se debatia para fugir da pantanosa parte de baixo da tabela. O Campeonato Estadual não prova nada faz tempo, desde o primeiro Caixão. Virou um autêntico “me engana que eu gosto”, um torneiozinho mequetrefe com gosto de guarda-chuva velho.
Aí, num espantoso orgasmo encruado, aparecem nessa segunda-feira envergonhada os alegres defensores da pífia campanha. “Queria encontrar quem disse que o Flamengo cairia”. É verdade, poderia ter sido pior. Terminamos a competição num “confortável” décimo-lugar, bem longe da confusão do Luxa, embora a quase trinta pontos do campeão. A que ponto chegamos. O Hexacampeão brasileiro comemorando o décimo lugar.
Encontrei o Junior Baiano no supermercado hoje e fiz questão de cumprimentá-lo dizendo: quero lhe agradecer pelo tempo em que ainda era agradável ver um jogo do Flamengo. E olha que eu xingava todo mundo, inclusive ele, quando dava tesouras voadoras ou tentava fazer domingadas na área rubro-negra. Mas, é inegável, se tratava de uma qualidade muito superior à dos tempos atuais. O nosso zagueirão deu aquele tradicional sorriso e retribuiu o meu agradecimento.
De quem será o mea culpa? Ouviram algo ao menos sussurrado pelos “nunca antes na história do Flamengo”? Uma promessinha a São Judas Tadeu, uma jura de amor eterno à Imensa Nação, um beijo no javali que rodava na geral em festa? Nada. Só se fala nas promissórias, nos créditos, nos zilhões que se deve, nos porrilhões que se paga, nos vingadores mascarados que salvaram o clube da hecatombe, do matadouro, da extrema unção. PATAQUEPARIU! Façam isso sem me jogar na cara! Eu não gastei essa dinheirama. Ao contrário, dou dinheiro ao clube nas bilheterias da vida desde criança.
Furem os olhos dos culpados, sangrem as carótidas dos vampiros, cravem-lhes as cruzes com alho no peito, metam-lhes o punhal de prata, FAÇAM O QUE QUISEREM! Desde que, em prol de montar um time melhor, usem a inteligência e a competência que apregoam ter. Não perguntem a mim se são maravilhosos, façam sorrir as bocas desdentadas que não entram mais no Maraca, alegrem a rapaziada que não compra o PPV e se esfola de terça-feira a domingo só para ter a superioridade das segundas-feiras vestidas de Manto Sagrado. Muitos deles estarão mortos antes da pajelança das finanças rubro-negras. E nenhum deles gritou gol com a tal da certidão balançando nas mãos e cantando “poeira, poeira”.
Para não perder a viagem, um caiu com antecedência e está afundado; o outro deveria lá estar e 2015 promete; o terceiro veio de lá “na bacia das almas”, “com a vela na mão”. Isso nos faz mal, acabamos acomodados, pensando em meio à mediocridade. Jamais tivemos vocação de reis com um olho só.
Pai Dudu, não sou o presidente de turbante, portanto pude participar do Bolão do Magia. Minha opinião com certeza nem enseja maledicências. Por desacreditar de prognósticos rodada por rodada, cravei lá atrás (no bom sentido, presidente), lá no início do campeonato, que o Flamengo terminaria com 52 pontos. Posso me candidatar em 2015?
Falando em 2015,
MEXAM-SE!
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Fonte: Magia Rubro-Negra