Em decorrência de nossos artigos sobre as finanças do clube, no ano passado fomos convidados (e formalmente nomeados) para assessorar a Comissão de Finanças do Conselho de Administração do Flamengo.
Caramba, quanta honra! E quanta responsabilidade! Isso demonstra a força das novas mídias, dos blogs, das redes sociais. Somos frutos desse meio. Frisa-se que se trata de cargos não remunerados e que não possuem qualquer ligação direta com a Diretoria (Conselho Diretor).
Nosso papel seria o de ajudar na elaboração dos pareceres da comissão de finanças e facilitar o entendimento das matérias tratadas, apresentando-as nas reuniões do Conselho, em uma linguagem menos técnica (como procuram ser os artigos que escrevemos).
Objetivando trazer o assunto para fora dos muros da Gávea, iniciaremos aqui uma série abordando os pontos críticos, as dificuldades, os avanços e as principais diretrizes financeiras do Flamengo para o próximo ano, tendo como base a apresentação que fizemos durante a reunião do Conselho de Administração que aprovou o orçamento de 2015.
O primeiro destaque é que a Diretoria conseguiu apresentar o orçamento dentro do prazo, possibilitando que o mesmo fosse aprovado antes do início de seu exercício regulamentar. Como essa prática não era comum no clube, vale o registro e o elogio à ação da diretoria. Também merece ser enaltecida a transparência, pois a apresentação do orçamento feita pelo Diretor Financeiro está disponível no site oficial.
Antes de entrar na exploração dos números, cabe explicar a quem não é da área, o conceito e a importância de um orçamento empresarial. Pois bem, trata-se de um instrumento de planejamento financeiro que compreende a estimativa das receitas e a fixação das despesas no prazo mínimo de um ano. Um orçamento decorre do plano estratégico e parte de hipóteses de cenários futuros e é por meio dele que se observam as diretrizes e se permite prever ou acompanhar as ações a serem executadas no futuro.
Os valores orçados não necessariamente serão os realizados e essa comparação precisa ser feita no decorrer do ano pela diretoria e pelos diversos conselhos do clube. No ano passado, por exemplo, a diretoria entendeu, em maio, que não alcançaria as receitas estimadas e propôs um reajuste no orçamento. No orçamento original estimava-se um grande crescimento da receita de bilheteria, conforme pode ser visto no gráfico abaixo. Entretanto, entre outros fatores, para atingir a meta seria necessário chegar nas quartas de final da Libertadores, o que infelizmente não aconteceu.
Mas, vamos ao que interessa….
A partir de hoje, passaremos a abordar os aspectos relevantes do orçamento do Flamengo para 2015. Neste primeiro texto, trataremos da comparação geral com os orçamentos de 2014. Veja o gráfico abaixo:
A primeira coluna (amarela) mostra o orçamento inicial de 2014. A segunda (verde), o reajustado. A última (azul), o de 2015. Como se pode notar, há um incremento na estimativa das receitas, inclusive sobre o orçamento que não conseguimos realizar. Já as despesas se mantêm na mesma ordem de grandeza. Com receitas maiores e despesas no mesmo nível, a consequência é um aumento no resultado projetado.
Deixando a coluna amarela (orçamento inicial de 2014) de lado, já que o que está em vigor é o reajustado (que ficará muito próximo da realidade), temos as diferenças mensuradas nas ordens de grandeza exibidas no slide abaixo. As receitas estão previstas com um incremento de R$ 62 milhões em relação a previsão de 2014. As despesas aumentariam R$ 500 mil por mês, o que não tem relevância para o tamanho do faturamento do Flamengo. Consequentemente, o lucro dobraria, atingindo R$ 105 milhões.
Achamos importante frisar, logo neste primeiro artigo da série, que o orçamento do Flamengo se baseia em um cenário absolutamente otimista para o ano de 2015. Para que todas as previsões nele inseridas se realizem, é necessária uma arrecadação muito boa em Bilheteria e Sócio Torcedor, especialmente no primeiro item. Ou seja, o Flamengo aposta na força de sua torcida para alavancar suas receitas. Isso deu muito certo em 2013, porém não tão certo em 2014. O torcedor é volátil e costuma ser menos fiel caso algo dê errado no desempenho da equipe. Caso a resposta da torcida não seja tão entusiasmada quanto o previsto, é possível que o clube seja obrigado a contrair novos empréstimos para poder honrar as despesas orçadas.
A partir do próximo artigo iremos abordar cada uma dessas projeções, além de analisar o fluxo de caixa do clube.
Até segunda, com o segundo artigo da série.
JEFF – Jorge E F Farah
& Walter Monteiro
Fonte: Magia Rubro-Negra