Ser Flamengo – De umas semanas pra cá, o Flamengo vem sendo elogiado por jornalistas, economistas e até mesmo por presidentes dos seus rivais pela gestão financeira responsável que vem exercendo desde 2013. Hoje na Gávea, há uma nova filosofia: A de nunca gastar mais do que se arrecada. Para a recuperação financeira do Clube, isso é essencial. Não vou entrar no mérito se há uma troca de divida pública pela privada e nem mesmo se isso está se refletindo dentro de campo.
Em 2014, o Flamengo foi o Clube que mais diminuiu suas dívidas no futebol brasileiro. Alguns além de não diminuírem, só aumentam suas dívidas como mostra o gráfico do blog Balanço da Bola de Benny Kessel:
Outro fator importante e que chama atenção é o fato do Flamengo ser o Clube que mais vem amortizando suas dívidas com a União como mostra o Blog Teoria dos Jogos de Vinícius Paiva. O economista ainda afirma: “Capitaneado por executivos que abandonaram a filosofia perdulária de anos anteriores, o Flamengo deve R$ 241,3 milhões, mas a dívida se mostra absolutamente controlada e em viés de queda. A redução de 4,62% (2014 para 2015) sucedeu o estancar da sangria no exercício anterior, configurando também a maior amortização de dívida verificada no período”.
Além de obrigação de toda empresa séria, a importância do Flamengo em se manter em dia com a União tem fatores superimportantes para a saúde do Clube em diversos setores. Um deles é o fato do Flamengo hoje poder receber patrocínios de empresas públicas como ocorre com a Caixa Econômica Federal. O outro e não menos importante é poder captar receitas para os Esportes Olímpicos que com o programa “Anjo da Guarda Rubro-Negro” o fazem hoje quase autossustentáveis como o Basquete já é.
O Flamengo já foi modelo de gestão para outros Clubes do futebol brasileiro. Em 1977 com a entrada de um novo grupo na política do Clube, a FAF (Frente Ampla pelo Flamengo), elegendo Márcio Braga como presidente juntos com outros Rubro-Negros notáveis, um novo modelo de gestão foi implantado. Esse modelo de gestão se tornou obsoleto após a profissionalização do futebol lá nos anos 90, mas os Clubes brasileiros continuam insistindo nele até hoje.
Os Clubes brasileiros hoje estão asfixiados por suas dividas monstruosas. Não podem investir na base e nem em boas equipes. No último dia 20, a Presidente Dilma Rousseff vetou a Medida Provisória 656, a famosa Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte. O seu texto final foi bem diferente do que já havia sido discutido e aprovado na Comissão Especial do Proforte em Brasília. O texto final que beneficiava a “Bancada da Bola” no Congresso Federal com o parcelamento das dívidas dos Clubes em um prazo de 20 anos sem qualquer contrapartida de uma gestão financeira responsável e transparente seria um endosso as gestões amadoras. O único Clube a se manifestar contra a medida foi o Flamengo em declaração do Presidente Eduardo Bandeira de Mello.
O texto que fora aprovado na Comissão Especial do Proforte de autoria do Deputado Federal Otavio Leite (PSDB-RJ) tinha as seguintes obrigações aos Clubes para obtenção do benefício de parcelamento da sua dívida:
– A Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte prevê o refinanciamento das dividas referentes a INSS, Imposto de Renda, FGTS, Timemania e Banco Central em 20 anos. Para receberem este beneficio, os clubes precisam se comprometer com obrigações como apresentações de certidões negativas de débito um mês antes de competições (sob pena de rebaixamento). Também será obrigatório manter os salários de atletas e funcionários em dia e controle do déficit financeiro.
– A Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte torna obrigatório o controle do déficit financeiro e exige a implantação de um sistema único, padronizado dos registros contábeis. Essas e outras obrigações irão ajudar o esporte a se profissionalizar e obter melhores resultados.
– A LRFE também obriga o mandato de presidentes de clubes a no máximo 4 anos além da obrigatoriedade de publicação anual das demonstrações financeiras na internet. A Lei também responsabiliza dirigentes por gestão indevida e proíbe adiantamentos de contratos que ultrapassem o fim do mandato.
O maior legado que a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte pode deixar é uma nova filosofia administrativa responsável e transparente nos Clubes. No Flamengo, a filosofia que hoje está sendo implantada, deve ser enraizada independente de quem estiver gerindo o Clube. Gastar menos do que se arrecada, pagar seus impostos e tributos e salários em dia é obrigação. Essa obrigação deve ser cobrada pelos torcedores e Sócios do Clube. E como cidadão, quero que os Clubes paguem seus impostos.
Não sancionando a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, a Presidente Dilma Rousseff foi justa com os cidadãos brasileiros e também com o Flamengo. Pagar em dia salários e impostos custa hoje ao Clube um investimento reduzido no setor que é a sua razão de ser e que mobiliza milhões de apaixonados que é o futebol. Então, é injusto ver os demais Clubes não pagando seus impostos e investindo seu dinheiro na contratação de grandes jogadores. Porém, o cerco vem se fechando cada vez mais e a fatura a ser cobrada aos Clubes devedores será grande.
O grupo de trabalho interministerial convocado pelo governo federal para propor o novo texto da lei sobre a responsabilidade fiscal do esporte definiu uma agenda para ouvir todas as partes interessadas. Serão ouvidos o senador Romário (PSB-RJ) e os deputados Alessandro Molon (PT-RJ), Andrés Sanches (PT-SP), Hugo Leal (PROS-RJ), José Rocha (PR-BA) , Jovair Arantes (PTB-GO) e Vicente Cândido (PT-SP) da bancada da bola, Otávio Leite (PSDB-RJ) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) depois os representantes dos Clubes da Séria A, O Bom Senso FC, CBF, As principais Federações Estaduais, os Clubes das série B, C e D, Sindicatos, Representantes dos árbitros, técnicos, preparadores fisicos, o Movimento Futebol de Base Brasileiro e a Associação Brasileira dos Executivos de Futebol.
Em entrevista a mim, o Ex-presidente Hélio Ferraz afirmou que tudo que a gestão do Presidente Eduardo Bandeira de Mello vem fazendo administrativamente uma hora será refletida dentro de campo. E eu acredito que isso não ocorrerá só dentro dos campos, mas nas piscinas, nas quadras, nos tatames, nos mares, nos ginásios… O Flamengo tem tudo colher esportivamente o que vem sendo bem feito administrativamente!
Que esse novo Flamengo não seja uma mera filosofia passageira para si próprio e para o futebol brasileiro!
Fontes: Blog Teoria dos Jogos, Blog Balanço da Bola, Site Oficial do Flamengo, Estadão, Folha de São Paulo e Blog do Juca
Twitter: @PoetaTulio