A liberdade, a censura, o absurdo.

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Pretendia passar ao largo do tema que abordo mais abaixo nesse post tão bobo ele parecia, mas, simplesmente, não consegui.
Não depois dos eventos tristes, trágicos e assustadores de ontem, quando terroristas, assassinos bárbaros, atrasados e covardes mataram dez cartunistas e jornalistas em seu local de trabalho e dois policiais, um deles com um disparo à queima-roupa, quando, já ferido por outro disparo, estava deitado no chão, sem arma e sem oferecer perigo, ato flagrado pela câmera de um celular.
O ataque de que foi vítima o semanário Charlie Hebdo foi um ataque contra a liberdade de imprensa, contra a liberdade de informação, contra a liberdade de pensamento e manifestação do que pensamos.
Foi um ataque das trevas ao coração da democracia.
Justamente na véspera de tão imenso e triste crime, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro – FERJ – decretou que seu campeonato não pode ser criticado. E que o clube do jogador ou dirigente que fizer “comentário contrário” aos interesses do Carioca 2015, será multado em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Bondosamente, a entidade cortará a multa pela metade se o clube fizer um “desmentido” até 48 horas depois da crítica. Tal “desmentido” deve ser postado na página oficial do clube na internet.
Nem só de bondades, porém, é feita a resolução. A multa será “dobrada a cada ato lesivo gerado por qualquer outro membro da mesma associação“.
Isso me lembrou velha fábula, a do sábio que queria como pagamento de seus serviços que um rei sovina e pouco afeito às belezas da matemática, mas amante do jogo de damas, pagasse uma moeda pela primeira casa do tabuleiro, o dobro para a seguinte e assim sucessivamente até completar as 64 casas do tabuleiro. O rei gostou, afinal, uma moeda mais duas moedas mais quatro moedas… e sem mais pensar fechou o acordo com o sábio. Ora, acordo real é acordo real, não tem retorno, tinha que ser cumprido. Tarde demais, o rei percebeu que nem no seu reino inteiro e nem em todos os reinos que conhecia e que não conhecia haveria moedas suficientes para as 64 casas. Era impossível pagar o sábio.
Se a multa da FERJ fosse de R$ 1,00 por crítica e 24 membros de um clube criticassem o campeonato, a 24ª multa, sozinha, já teria o valor de R$ 8.388.608,00. E o total somado com as 23 anteriores já chegaria próximo de 17 milhões. Imaginem mais 40 críticas, mais 40 multas, feitas por todos os jogadores do elenco e mais os membros da comissão técnica e mais diretores diversos do mesmo clube…
Simplesmente, não haveria dinheiro bastante em todo o planeta Terra para pagar as multas.
Absurdo, não? Tanto quanto a censura.
Meu respeito aos mortos do Charlie Hebdo.

Fonte: Olhar Crônico
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