Chegada de Cirino dá pista sobre estilo do Flamengo 2015.

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Num mercado com muita movimentação e poucas realizações, a contratação de Marcelo Cirino causa impacto superior à média atual. A chegada do atacante ao Flamengo fugiu ao habitual desta janela de transferências. O desembolso inicial, feito por fundo de investimento, fez a diretoria rubro-negra responder a questionamentos pouco comuns durante a apresentação de um reforço. E o valor movimentado, cerca de R$ 16 milhões por 50% dos direitos do ex-atacante do Atlético-PR, também excede as movimentações financeiras do futebol do país desde o fim da última temporada.
Em campo, a contratação de Marcelo Cirino dá uma clara ideia do tipo de futebol que Vanderlei Luxemburgo pretende implantar no Flamengo de 2015. Ao menos aparentemente, a tentativa de roubada de bola e saída veloz para o ataque dará o tom. Marcelo chega para “superpovoar” os lados do campo no setor ofensivo rubro-negro. Além dele, jogadores como Éverton, Paulinho e Gabriel ocupam, prioritariamente, as extremas. Além deles, Nixon, que no fim do ano jogou de centroavante, também foi várias vezes escalado pelo lado do ataque. No centro do ataque, as opções parecem menos empolgantes com Alecsandro, Élton e Eduardo da Silva. Ainda que Eduardo tenha feito oito gols e Alecsandro, sete, durante o último Brasileiro — sem contar os seis de Nixon.
Marcelo Cirino diz ter, de fato, preferência pelo lado do campo. Embora não fuja da área, não se trata propriamente de um artilheiro. Mas admite jogar como um “nove” eventualmente. Ele fez cinco gols no Brasileiro de 2014. Um ano antes, quando foi eleito revelação da competição, fizera nove.
— Sou um jogador de beirada. No último ano, com Claudinei (Oliveira, técnico do Atlético-PR), treinei e joguei como camisa 9. Não é a posição a que estou habituado. Gosto mais de jogar pelos lados mesmo, mas estou à disposição — afirmou.
Certeza mesmo ele tem de que, por enquanto, é o reforço de maior peso do Flamengo para 2015. Na segunda-feira, o clube espera confirmar as chegadas do zagueiro Bressan, ex-Grêmio, do lateral-esquerdo Thallyson, ex-ASA de Arapiraca, do meia Arthur Maia, ex-América-RN, além do lateral-direito Pará, ex-Grêmio. A diretoria busca, ainda, mais dois jogadores. Estes sim podem dividir com Marcelo Cirino as expectativas da torcida. Segundo o vice de futebol do Flamengo, Alexandre Wrobel, seriam jogadores “para a titularidade”. Um deles é Jádson, hoje no Corinthians. E há uma promessa: um novo reforço de peso para o Brasileiro caso o clube atinja 80 mil sócios-torcedores.
Enquanto os novos nomes não vêm, Cirino demonstra personalidade.
— Quando soube do interesse do Flamengo, disse para o meu empresário: “vamos fazer de tudo”. Cheguei no clube e vi a estátua do Zico. Vestir a mesma camisa de um ídolo como este não tem explicação. Sempre acompanhei o Flamengo, mas, depois que perdi a final da Copa do Brasil, meus olhos foram outros. Vi aquela torcida maravilhosa… Acho que a desconfiança pelo alto investimento em mim será o maior desafio. Não digo que seja um peso, porque estou preparado para jogar no Flamengo — afirmou.
A participação da Doyen, fundo de investimento que pagou ao Atlético-PR pelos 50% dos direitos do jogador, numa espécie de empréstimo ao Flamengo, fez o presidente do clube, Eduardo Bandeira de Mello, ter que falar mais do que o habitual sobre o modelo de negócio. O Flamengo terá que reembolsar os R$ 16,5 milhões gastos pela Doyen, com juros de 10% ao ano. Se o jogador for vendido, o investidor fica com 80% e o clube com 20%, desde que o aporte inicial seja coberto.
Bandeira surpreendeu ao fazer, de forma espontânea, um agradecimento ao investidor, admitindo que sem a Doyen o clube não poderia ter contratado Marcelo. Mais tarde, ao falar da proibição da Fifa da propriedade de terceiros sobre direitos econômicos a partir de 2015, a diretoria do Flamengo garantiu que os contratos foram assinados no último dia de 2014.
— Todas as transações são cuidadosamente avaliadas. Doyen é um grupo internacional que atua em vários clubes — disse Bandeira, que evitou a polêmica ao ser perguntado se o clube se preocupara com a origem do dinheiro investido pelo parceiro. — Estamos seguros e protegidos quanto aos detalhes jurídicos e comerciais.
O caso é que a Doyen, sediada em Malta, país considerado um “país com regime fiscal privilegiado” pela Receita Federal do Brasil, já se envolveu em polêmicas por algumas razões. Ao ser criada, tinha o mesmo endereço de empresas ligadas ao ramo de Apostas Esportivas. No mesmo enderaço, operavam companhias com os mesmos diretores da Doyen. O fundo tem influência crescente em clubes que usam os investidores para tentar fazer frente às principais forças da Europa. Recentemente, envolveu-se em uma troca pública de acusações com o Sporting, de Portugal. O clube acusou a Doyen de forçar a transferência do argentino Marcos Rojo para o Manchester United. A empresa se defendeu, afirmando que a decisão sobre a negociação era exclusiva do clube, embora houvesse um acordo comercial a cumprir com o investidor. Rojo chegara ao Sporting graças a um aporte da Doyen, que comprara 75% dos direitos. O jogador acabou vendido para o clube inglês.

Fonte: O Globo
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