UOL – Apresentado no último dia 16 pelo Bahia, o zagueiro Chicão, de 33 anos, é um dos poucos veteranos que deve equilibrar a baixa média de idade do elenco tricolor. Após passagem pelo Flamengo, ele se adaptou à realidade da Série B e aceitou redução de salário para defender o Esquadrão. No Fla, ele ganhava R$ 180 mil: agora, especula-se que vá receber menos que a metade. Confiante no projeto do Bahia, Chicão projeta títulos e diz que ainda não pensa em aposentadoria.
O Bahia afirmou querer para 2015 um time jovem com alguns veteranos para equilibrar. Você se considera um jogador veterano?
Eu me considero uma pessoa experiente, com uma bagagem boa e que posso ajudar os meninos. A gente sabe que vai viver uma pressão muito grande durante a temporada. O Bahia caiu no ano passado e eu vejo como obrigação subir o mais rápido possível. Vou usar da minha experiência para proteger a equipe, porque eles são ovos e muitos não sabem lidar com pressão. Alguns podem entrar em desespero depois de um mau resultado. Essa é a hora para um jogador com mais experiência entrar e acalmar os ânimos.
Depois de ser campeão da Libertadores, Copa do Brasil e Mundial de Clubes, tudo nos últimos anos, o que te levou a aceitar jogar a Série B?
Eu acredito muito no projeto do Bahia. Deixou claro que quer voltar à Série A e que vai respeitar um teto salarial. Isso é algo que eu acredito muito, porque não adianta contratar jogadores prometendo um cachê que sabe que não tem como cumprir. Eu mesmo baixei meu salário para aceitar vir para o Bahia.
Você atuou em três times de grande apelo popular, como Corinthians e Flamengo. Agora, está no Bahia. Sente-se em casa no Tricolor?
Ah, sim! Estou bem à vontade. Quando alguém joga no Flamengo e no Corinthians, já viveu de tudo. A gente sabe a pressão que a torcida pode fazer e também como ela pode ajudar a decidir um jogo. Pelo que eu consegui ver, o torcedor do Bahia é muito apaixonado. Claro que cobra rendimento, fica chateado quando o time não corresponde, mas, no geral, é muito apaixonado. E isso é algo positivo especialmente na Série B, da qual fui campeão uma vez e sei o quanto é importante o apoio da torcida. Claro que vamos precisar de entrosamento e engrenar como equipe, mas o torcedor vai ser fundamental. Temos muitas competições pela frente, como o Estadual, a Copa do Nordeste e a própria Copa do Brasil. Precisamos de títulos porque é assim que um time se consolida. A torcida vai ser um 12° jogador em campo, não tenha dúvida. Durante a partida, a gente tem que tirar força não se sabe de onde, e muitas vezes o torcedor pode ser essa fonte.
Na apresentação, você criticou clubes que não honram salários dos jogadores. Foi uma crítica ao Flamengo?
Não foi direta ao Flamengo, até porque são vários os clubes da série A que não honram os compromissos, tem várias equipes da Série A que estão com direitos de imagem atrasados, além dos salários. E é algo que tinha que ser cumprido. Por isso que gostei do projeto do Bahia, é realista.
O que aconteceu no Flamengo? Você saiu por causa dos salários atrasados?
Na verdade, o que aconteceu é que eu recebi um comunicado da diretoria do clube dizendo que meu contrato não seria renovado. Alguns jogadores estavam voltando do empréstimo, a situação do clube está mudando… Foi isso que aconteceu. Eu não tinha proposta para continuar no Flamengo. Mas não tenho do que reclamar do clube. Vivi momentos ótimos lá, mas acabou, é vida que segue. Estou muito satisfeito no Bahia.
Lucas Fonseca saiu do Tricolor saiu por conta de atrasos no salário e Hélder entrou na justiça pelo mesmo motivo. Acha que no Bahia será diferente?
Eu acredito que sim. Acredito muito na palavra do presidente. Ele deixou claro que quer cumprir a promessa de manter o orçamento do clube no azul e de não atrasar os salários dos jogadores. Ele preferiu não fazer a loucura que muitos clubes fazem, que é contratar jogadores de salário alto e depois não conseguem cumprir.
Você é a favor da punição para times que dão calote em jogadores?
Não sei se ‘calote’ seria a palavra certa. Mas, na minha opinião, o clube tem, sim, que ser punido. Porque o jogador tem compromissos fora de campo, tem contas para pagar. Fora isso, temos uma carreira muito curta, a vida útil do jogador de futebol vai até os 35, 36 anos. Existem exceções, claro, mas são poucas. Além disso, cerca de 94% dos jogadores têm um salário baixo. O que acontece muitas vezes é que o atleta não conseguiu fazer seu pé-de-meia até a hora que ele tem que parar de jogar. E o clube continua.
Qual tipo de punição você defende para o caso?
Ah, não cabe a mim julgar o tipo de punição, não sei qual seria a mais adequada. Perda de pontos, de mando de campo, jogar com portões fechados, advertência… É difícil julgar, porque a gente (jogadores) não está nesse lado para poder analisar.
Você é um zagueiro que marca muitos gols. Em 2008, foi o terceiro artilheiro do Corinthians na Série B, com 10 gols. Esse seu ‘talento extra’ vai fazer diferença para o Bahia?
Eu espero que sim. Tudo que for positivo a gente tem que buscar. Apesar de ser zagueiro, fui o artilheiro do Figueirense na Série A de 2007. Marquei 10 gols lá (em 26 jogos disputados). Mas meu papel é defender. Se der, eu continuo a jogada e tento o gol.
Qual é seu plano para a temporada no Bahia?
Ajudar o Bahia a conquistar o máximo possível de campeonatos. O clube tem que ganhar títulos porque é isso que marca a passagem do jogador pelo time. Em um ano e meio no Flamengo, conquistei três títulos: um Campeonato Carioca, a Taça Guanabara e uma Copa do Brasil. E espero que no Bahia seja igual.
O que acha que o Bahia vai agregar à sua carreira?
Muita coisa boa, tenho certeza. Quantas pessoas queriam estar no meu lugar? E quantos vão querer entrar no meu lugar depois que eu sair? É uma coisa que todo mundo vai lembrar daqui para frente.
Você já tem planos para a aposentadoria?
Não pensei ainda, mas a gente vai analisar isso daqui para frente. Quero jogar este ano, ano que vem também…. Depende muito da temporada deste ano. Não penso em aposentadoria ainda, não tenho nada definido. Quero ver até quando eu aguento jogar bem, porque não quero passar vergonha dentro de campo. Se der para jogar vou tentar, se não, eu paro, paciência. A gente sabe que a carreira vai ser curta quando entra no futebol. A gente sabe que vai jogar até os 35 ou 36, no máximo. Mas tem uma coisa: o brasileiro tem preconceito com os jogadores mais experientes, porque acham que o final da carreira é, necessariamente, uma curva decrescente. Existem jogadores mais velhos que são destaques em campeonatos. Lá fora não é assim, os atletas mais experientes são respeitados e reconhecidos. Pena que aqui não acontece assim.
Qual foi o melhor atacante e o mais perna de pau que você marcou?
Joguei contra vários excelentes. Neymar foi, com certeza, um dos mais complicados de marcar. Joguei na final contra o Chelsea, com Fernando Torres, que é excelente, Oscar, Frank Lampard… Mas Neymar é diferente. É impressionante como ele muda de direção. Ele pensa muito à nossa frente, fica muito difícil para o zagueiro marcar. Já perna de pau… Também são muitos, mas eles também dão trabalho! Tem jogador que não tem técnica, mas não para de correr. De um jeito ou de outro, tem sempre um cara incomodando.