Globo Esporte – O presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, afirmou na terça-feira, após arbitral na sede da Ferj, que o clube arcaria com cerca de R$ 3 milhões de prejuízo caso a redução de preço dos ingressos para a faixa entre R$ 5 e R$ 50 seja mantida. As razões para a inquietação dos rubro-negros são desvendadas pelo orçamento do clube e agravadas pelo quadro econômico brasileiro. Se não atingir as metas projetadas para bilheteria e sócio-torcedor, o clube provavelmente terá de correr atrás de mais empréstimos com a taxa básica de juros mais alta desde agosto de 2011. A solução, caso não haja consenso, pode ser até buscar a Justiça para garantir o direito de determinar o preços dos jogos em que for mandante.
Por esses motivos, o vice de finanças do clube, Rodrigo Tostes, afirma, em entrevista ao GloboEsporte.com, que o Flamengo de forma alguma se submeterá à tabela de preços aprovada no Conselho Arbitral da Ferj. Para ele, seria como a Argentina definir o preço da gasolina no Brasil. Nesta sexta-feira, haverá nova reunião com os quatro grandes na sede da entidade e, no edital de convocação está a criação de um programa de sócio-torcedor do futebol do Rio, aparentemente uma medida a ser estudada para 2016.
– Não nos programamos para esse valor de ingresso. Lógico que a gente vai tentar uma conciliação, mas vai tentar uma conciliação até certo ponto. Se não conseguir e tiver de defender os seus direitos, o Flamengo vai defender, judicialmente ou da forma que for. O Flamengo não aceita de forma nenhuma que um presidente de um outro clube que não faz um investimento nem próximo do que estamos fazendo determine o valor do evento dele. É como se a Argentina definisse qual o valor da gasolina praticado no Brasil. Não faz o menor sentido. Qual a lógica? A não ser alguém que queira fazer populismo e se promover com essa questão – atacou Tostes, esclarecendo que a previsão de receita de R$ 4,3 milhões de bilheteria no Estadual inclui valores de premiação.
Diante dos números, o começo de ano traz receio de aumento no volume de empréstimos para a temporada. Inicialmente, o orçamento aprovado pelo Conselho de Administração prevê R$ 32,7 milhões em empréstimos, mesmo com a previsão de R$ 62 milhões a mais de receita em relação ao último ano. Como a medida no Campeonato Carioca atinge diretamente o programa de sócio-torcedor, que pode não oferecer o habitual desconto nos bilhetes nesta competição, e tem impacto na previsão de receita de bilheteria de R$ 49 milhões em 2015, a probabilidade de se repetir o que se observou em 2014 cresce.
No ano passado, o orçamento do clube teve de ser ajustado no meio da temporada, justamente em função da previsão para o sócio-torcedor e receita de bilheteria, que ficaram abaixo do esperado. A venda de ingressos caiu de R$ 45,8 milhões para R$ 32,5 milhões e a receita de sócio-torcedor, prevista em R$ 45 milhões, foi reajustada para R$ 34,2 milhões. Em números fechados, o Flamengo realizou R$ 37,5 milhões em bilheteria (acima do reajuste) e R$ 31,3 milhões com o sócio-torcedor em 2014. O total de empréstimos passou da casa dos R$ 60 milhões. O cenário econômico atual não colabora. No pacote de medidas recentemente anunciado pelo governo está o aumento da taxa básica de juros. A Selic subiu meio ponto percentual, atingindo 12,25% – a maior taxa desde agosto de 2011.
– Logicamente isso também impacta, ainda mais na situação que o Brasil está hoje de juros mais altos. Apesar da situação anterior em que o clube negociava com taxas entre 1,8% e 2,2% ao mês, hoje a gente consegue negociar a 1,1%, 1,2%, é quase a metade porque o Flamengo hoje tem crédito, mas ainda é alta. Mas, logicamente, qualquer diminuição de receita tem impacto e tenho de buscar novos empréstimos. Hoje, a gente consegue mostrar um fluxo de caixa, negociar, mostrar que é bom pagador, e até rolar algumas das dívidas. Mas, com o dinheiro ficando mais caro, tem impacto. O Flamengo vai lutar de todas as formas para não deixar isso acontecer – explicou o vice de finanças.
O grande obstáculo é que qualquer alteração na decisão já tomada terá de ser por unanimidade, o que o presidente do Vasco, Eurico Miranda, garantiu que não permitirá, especialmente diante da interferência da concessionária do Maracanã nas discussões. O dirigente cruz-maltino alfinetou os rubro-negros afirmando que o clube de massa quer ingresso mais caro, mas Tostes qualifica a postura como “populismo barato”.
– É um discurso vazio, baixo. O que o torcedor quer não é um ingresso barato, é um bom espetáculo e que seu time possa vencer. Pode fazer uma enquete, se o torcedor prefere um bom time ou um ingresso a um real. É um populismo barato. Por isso que o futebol do Rio está dessa forma. O meu conceito é muito claro: da onde você menos espera, daí é que não vem nada. De lá não vai sair nada – avaliou.
Ainda que sem citar nomes, ele devolveu a provocação de Eurico no mesmo tom:
– Enquanto as pessoas não entenderem que futebol é um negócio, o futebol não vai para frente. A lógica no Rio é usar o futebol para se promover pessoalmente, ser candidato a deputado. O Flamengo não vai aceitar de forma nenhuma. É uma decisão do clube, quem faz o investimento é o clube. A gente paga os impostos em dia, os salários em dia, é uma decisão de dentro do clube.