Uma análise profunda da gestão financeira do Flamengo nas últimas 12 temporadas, feita pelo consultor de marketing esportivo Amir Somoggi, mostra que o ano de 2014 marcou uma virada econômica na administração do clube rubro-negro. Após oito anos seguidos apresentando déficit nas contas, o Flamengo voltou a ter superávit, diz o estudo recém-concluído.
Os números apontam um prejuízo acumulado de R$ 243 milhões entre 2003 e 2013. Nesse período, somente em duas vezes o clube da Gávea não havia terminado o ano sem prejuízo. Ainda assim, não havia motivo para comemorar, já que em 2004 as receitas foram iguais às despesas, e em 2005 houve apenas R$ 2 milhões de lucro. Ano passado, no entanto, considerando apenas os primeiros nove meses, houve um superávit de R$ 53 milhões, contra um prejuízo de R$ 20 milhões em 2013.
O analista fez estudos semelhantes nos números de Palmeiras e Santos, e pretende avaliar outros clubes da primeira divisão do futebol brasileiros. Mas já se antecipa ao apontar o Flamengo como destaque entre os adversários quando o assunto é modelo de administração.
– O Flamengo é o clube brasileiro que vem tendo o melhor resultado financeiro nos últimos anos. Foi o que mais evoluiu de 2012 a 2014, enquanto todos os outros clubes estão piorando – comentou Somoggi.
O consultor vê duas razões principais para a virada rubro-negra: o aumento das fontes de receita, especialmente patrocínios e programa de sócio-torcedor, e o abatimento das dívidas fiscais. Nos últimos dois anos, o Flamengo atingiu números recordes de investimentos: R$ 273 milhões em 2013, e R$ 252 milhões só nos nove meses iniciais de 2014, com projeção de R$ 330 em todo o ano, segundo o estudo de Somoggi. No orçamento para 2015, o Flamengo projeta a receita de R$ 365 milhões.
– É bem provável que, em pouco tempo, o Flamengo volte a ser o time com maior receita do Brasil, como já foi no passado. Em 2013, esse posto foi do São Paulo, porque vendeu o Lucas por R$ 115 milhões. Sem considerar venda de jogadores, o Flamengo já é o líder em receita – explica Somoggi.
Futebol é o calcanhar de Aquiles, diz consultor
Para o consultor, o clube da Gávea poderia ter um balanço ainda melhor se não tivesse gastos tão elevados com o departamento de futebol. Em 2013, primeiro ano da atual diretoria rubro-negra, os custos com a equipe profissional, incluindo rescisões contratuais de jogadores e técnicos, foi de R$ 180 milhões, o maior investimento feito pelo clube no período pesquisado, e o quarto maior do Brasil naquela temporada. Nos nove primeiros meses de 2014, o custo com o futebol rubro-negro chegou a R$ 124 milhões.
– Se houve um calcanhar de Aquiles nesta gestão, foi no futebol, houve muitos gastos, principalmente com demissão de treinadores. Se tivesse mantido um técnico por mais tempo, com um projeto esportivo melhor, teria crescido ainda mais – observou.
Ainda assim, o Flamengo tem conseguido mostrar evolução nas finanças. Não apenas com o crescimento das receitas, mas também graças ao abatimento das dívidas, especialmente com a União. A dívida fiscal, que era de R$ 400 em 2012, caiu para R$ 355 milhões até setembro de 2014.
– Toda aquela dívida anterior do Flamengo, que não foi paga, explodiu na auditoria feita no início dessa gestão, que agora está arrumando um passivo histórico – disse Somoggi.
Fonte: O Globo