Eu acho que é um momento delicado, talvez por ser uma coisa relativamente nova e também pelo fato das redações investirem muito em jovens sem referências. Muitas vezes uma molecada arrogante, que acha saber tudo, alguns não, são legais, garotos que querem aprender, que tem talento, garra e humildade… Outros são extremamente arrogantes porque se sabem escalar as duas linhas de 4 do Mallorca acham que sabem de jornalismo. Mas com todo o respeito não entendem porr* nenhuma de jornalismo, nunca trabalharam para valer numa redação. E esses caras é que decidem, que colocam coisas no ar. Não tem gente experiente e com condições de filtrar alguma coisa. São redações muitas vezes imaturas e com a correria louca de colocar tudo no ar. E isso não é só no esporte, é no geral. Por isso em épocas como agora, de transição de uma temporada para a outra, a implantação de notícias é muito fácil de ser feita pelos staffs, os personagens do esporte. Porque tem muito repórter que não tem nenhuma malícia de não acreditar em qualquer coisa, ou quer acreditar para achar que tem um furo e acaba dando destaque para coisas que não se concretizam e que nem de longe ameaçam acontecer.
Jornalista da ESPN critica ‘furos’ e faz alerta aos torcedores.
A circulação das informações com agilidade é ótima, é evidente, e isso não dá nem para discutir. Mas aí tem um efeito colateral que é o baixo nível praticado, principalmente na internet. Quando eu falo isso estou falando de todo mundo, e não só de sites. Todos eles cometem esses erros. Uns mais, outros menos. Que é aquela coisa de dar informação sem checar, as chamadas ‘barrigadas’ que são informações que não se confirmam e que se tornaram muito comuns por terem pressa em dar a notícia sem conferir. O ‘furo’, muitas vezes não é furo nenhum, e sim uma bobagem e uma informação absolutamente teleférica. E até pouco importante, mas que alguém trata como furo.
Um exemplo recente, na semana da última rodada do Brasileiro, foi de quando eu estava fazendo o programa na TV e apareceu o tema ‘Mano Menezes no Palmeiras’ porque alguém, lembro quem, levantou essa bola. Como Mano Menezes no Palmeiras? O Palmeiras jogava no domingo uma partida que poderia o rebaixar, e se nem sabe em que divisão poderá estar em 2015, como ele vai pensar no técnico? Porque é evidente que, seja lá qual for o técnico, ele vai aceitar a proposta analisando uma série de coisas, entre elas qual a divisão que o time está jogando. Então, não houve nada de Mano Menezes no Palmeiras, e a imprensa toda ficou falando daquilo. Isso foi parar no programa que faço e de certa forma não comentei o assunto, não tem o que falar sobre isso. Agora teve outra tolice que tomou conta do noticiário. O glorioso Presidente do Grêmio, que assumiu, resolveu falar que tem que mudar a forma de disputa do campeonato brasileiro. Que tem que deixar os pontos corridos e virar mata-mata. Se ele tivesse com mais oito ou nove dirigentes da Série A no movimento da mudança nós temos uma notícia. ‘Existe um bloco unido querendo mudar a forma de disputa’ e podemos até discutir como deve ser. Eu tenho a minha opinião e respeito quem tem outra. Agora, porque um cara falou isso nós vamos ficar discutindo este assunto? Ah, pelo amor de Deus. Isso é um factoide que desvia a atenção para o real problema do Clube dele. Que é o que? Não ter dinheiro, está perdendo os principais jogadores, tem que pagar o salário de jogadores que não quer usar… O caso do Kleber, por exemplo. No ano passado o Elano passou pelo Flamengo e o Grêmio pagava uma parte do salário, vai agora pagar o salário do Pará que vai jogar pelo Flamengo, tem o Bressan… Enfim, é uma situação terrível do Clube. Aí ele não, lança essa cortina de fumaça e parte da imprensa embarca. E embarca por que? Por conta disso, que na internet é a busca do clique fácil. Você coloca qualquer bobagem, ‘neguinho’ vai clicar, vai dar audiência, que pode ser qualquer porcaria mas me deu audiência. E isso é péssimo para o jornalismo, e é péssimo porque o jornalismo digital não amadurece, ele fica nesse juvenilzinho de sempre, falando bobagens e abobrinhas. Claro, com exceções, coisas boas também são publicadas. Tem gente séria, talentosa, que trabalha também na internet e não estou generalizando.
Jornalistas sérios não valorizados
Isso também acontece. Agora, eu acho que aí rola também uma falta de atenção do leitor ou do ouvinte, dependendo de qual for o veículo. Ele muitas vezes não presta a atenção em quem deu a notícia, no caso a ‘barriga’. Ele não lembra quem deu a notícia. Então, digamos que um cara na rádio deu uma notícia que não se confirmou. Na cabeça desse torcedor fica que ‘disseram que o meu time iria contratar o fulano de tal e não contratou’, aí ele acha que todo mundo é culpado por aquilo. Se ele prestar a atenção ele vai ver que foi aquele repórter, daquela rádio, daquele jornal, daquele site, daquela TV, aquele comentarista, que falou que iria acontecer o que não aconteceu.
E tem outra coisa importante. As vezes as pessoas deturbam também. Eu passei por uma situação antes da Copa do Mundo, onde eu recebi a informação de uma pessoa que tinha contato muito forte dentro da FIFA, de que o estádio do Atlético-PR poderia ficar fora da Copa do Mundo porque eles não tinham dinheiro para terminar a obra. Então, a FIFa já tinha um plano de remanejamento das quatro partidas programadas para Curitiba, indo para Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte. Eu publiquei isso no meu blog e coloquei todas as ressalvas, entre elas, ‘a única possibilidade de Curitiba continuar na Copa do Mundo é um socorro do Estado’. E isso aconteceu e Curitiba ficou na Copa do Mundo. Aí tem os caras que torcem para o Atlético-PR ficavam falando as coisas para mim… Eu não falei que Curitiba iria ficar fora, eu falei que a FIFA já tinha um plano B preparado para caso o estádio não fosse ficar preparado a tempo ela fosse remanejar os jogos. É óbvio que ela tinha que fazer isso, se não fizessem seriam loucos, e é evidente que eles não revelaram isso publicamente porque não interessa. Eu tive essa informação de uma pessoa que estava lá dentro, que eu confio, que me passou estes dados com riqueza de detalhes, e eu publiquei. Ela ainda me falou exatamente isso, ‘só se houver um socorro do Estado’, e houve. E para explicar para o cara que torce para o Atlético-PR que não estou torcendo contra o Atlético-PR, contra a Copa do Mundo…? Eu estou dando uma informação que eu recebi e que estava certa. Ou poderia estar errada também, eu posso cometer um erro, todos nós podemos errar.
Então, muitas vezes a imaturidade é do consumidor da notícia que não consegue diferenciar ou simplesmente generaliza, o que é muito comum também. ‘Vocês são contra’. Não, pera aí. Por exemplo, eu sempre critiquei o Felipão e hoje falam ‘Mas antes da Copa você elogiava’. Eu nunca, na minha vida, elogiei o Felipão. Nunca, e está tudo lá registrado em vídeo, em textos no meu Blog… Mas neste período todo de Seleção, de Copa das Confederações para cá, eu sempre fui crítico porque não acreditava no trabalho dele e acho que é um técnico superado. Essa é a minha opinião amadurecida. E tem gente que até hoje fala que ‘vocês na ESPN…’ Vocês não, outros colegas lá estavam fechados e acreditavam que o Felipão levaria o Brasil ao título. Eu não, em momento algum. Então, as pessoas as vezes não prestam a atenção e fica difícil filtrar. Se elas prestarem mais a atenção verão quem tem credibilidade e quem ainda merece atenção. Porque se errou, errou uma ou outra vez, e isso acontece também porque todos estão sujeitos a cometer equívocos. E verá quem não merece nenhuma atenção, que é aquele cara que dá qualquer informação e se ela não se concretizar, ele conta com o esquecimento das pessoas e com essa mistura que as pessoas fazem… Então, eu acho que todo mundo tem uma parcela de responsabilidade nisso.
Quando a imprensa embarca em informações que não se confirmam, geralmente são erros localizados, falhas cometidas por profissionais. Não dá para generalizar, esse é outro ponto. ‘Imprensa embarca…’ O que é imprensa? O falecido Jorge Nunes, que era comentarista da Rádio Tupi, ele pensa igual ao Álvaro, comentarista da CBN? Não, evidente que não. O repórter do Extra que escreve sobre Flamengo tem uma linha editorial idêntica à do Sérgio Américo da Rádio Tupi, ou a do Mansur, da Globo ou do Lance? Então, não existe ‘a imprensa’, existem jornalistas e veículos. E cada um tem uma forma de trabalhar e não se dá para generalizar.
Fala de Mauro Cezar Pereira ao Falando de Flamengo*
Texto redigido por Eduardo El Khouri
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