Léo Moura se diz mais preparado por títulos e elogia Pará.

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A frase estampada na capinha que protege o telefone celular de Léo Moura não foi escolhida à toa: “Respeite a minha história no futebol”. Trata-se do resumo do sentimento que tomou conta do capitão do Flamengo no mês de dezembro. Com o contrato próximo do fim, nunca escondeu de ninguém o desejo de renová-lo por uma temporada. A diretoria não aceitou. O imbróglio se arrastou por semanas, até a assinatura de um vínculo somente para o Estadual. Solução que não tirou o sorriso do rosto do lateral durante a pré-temporada, em Atibaia-SP, mas não o satisfez.  
Em silêncio, Léo Moura curtiu férias com a família na Bahia e em Santa Catarina, se reapresentou, treinou por dez dias, até que atendeu o GloboEsporte.com. De moicano bem mais modesto e pequenos retoques loiros, encarou de peito aberto algumas polêmicas em que esteve envolvido no mês de dezembro e resumiu a sensação a respeito do contrato mais curto de seus quase dez anos de Flamengo – para completar a marca, em 12 de junho, será necessária uma renovação. 
– Lógico que minha vontade era fazer um período mais longo, até por questão de tranquilidade para trabalhar. São seis meses, mas vou dar a vida como se fosse um ano, dois… Estou defendendo um clube que eu amo, uma torcida que me dá um carinho especial (…) Não posso ficar aqui chateado. Tenho que entrar e dar o meu melhor. Meu plano é continuar aqui. Quem sabe no fim a gente amplia? Quero chegar e jogar (…) Eu que escolhi também permanecer. Poderia chegar e falar que não, que não quero. Não sei qual foi o critério, mas respeito e estou aqui feliz da vida. 
Ao anunciar a renovação, o site oficial do clube definiu que Léo Moura irá “completar dez anos de Flamengo em sua temporada de despedida”. O adeus dos gramados, no entanto, sequer passa pela cabeça do capitão. Inspirado em Zé Roberto, que assinou com o Palmeiras aos 40 anos, o lateral rechaça qualquer possibilidade de aposentadoria ao término do vínculo atual. 
– Não. Nenhuma. Isso aí não tem nem hipótese. Quero jogar por muito tempo. Se não for aqui no Flamengo, vai ser em outro lugar. Agora, em dezembro, já teve oportunidade e eu não fui porque minha escolha era continuar aqui. No meio do ano, se não dermos continuidade aqui, outras portas vão se abrir. 
Nono jogador a vestir mais vezes a camisa do Flamengo, com 511 jogos, Léo Moura falou ainda das primeiras impressões da equipe para 2015 e da capacidade física para acompanhar o time veloz montado por Luxa. No campo das polêmicas, respondeu sobre o post “O ingrato”, que causou reboliço nas redes sociais, e admitiu a relação fria que tinha com Renato Abreu. Confira a íntegra:     
Já é a sua 11ª temporada no Flamengo, décima pré-temporada, de contrato renovado e com a possibilidade de completar uma década de clube. O que falar das expectativas do Léo Moura para 2015? 
– Estou muito feliz por começar mais uma temporada. Cara, eu estava doido para que isso acontecesse. Era meu pensamento, meu objetivo. Quero começar o ano com o pé direito, trabalhando muito, para ter sucesso como tive nas outras temporadas. 
O que muda basicamente do Léo Moura que fez pré-temporada em 2006, depois de chegar na metade de 2005, para o de agora? Muda mais o corpo ou a cabeça? 
– A cabeça está mais experiente. O futebol hoje é muito mais pegado do que antes, a pré-temporada é mais forte e tem sua importância. O futebol está mais competitivo, muita coisa mudou e temos que acompanhar. Me sinto muito bem, mesmo sendo a décima pré-temporada. A cada dia me sinto melhor. 
Com 36 anos, você tem tido uma programação diferente durante as últimas temporadas, mas aqui em Atibaia o trabalho tem sido igual ao de todo mundo. É a hora de dar uma base para segurar depois? 
– Tenho que acompanhar. A pré-temporada segue para isso, para ter uma base forte. Converso muito com o (Antônio) Mello. Quando vamos para academia, procuro fazer um trabalho mais de força para segurar durante o ano, evitar lesão. O início é sempre assim, sofrido, dolorido, mas o depois é mais gostoso. É quando chegam os títulos, os prêmios individuais, as vitórias. Me sinto bem. 
É nítido que o Vanderlei trabalha para montar um time muito veloz, muito intenso. Você ainda tem pique para aguentar essa pegada? 
– Com certeza absoluta. Estou me preparando para isso. Sei que o objetivo do Vanderlei é que o time fique cada vez mais rápido. Tenho que me preparar para isso, e é o que tenho feito. Tenho que acompanhar Gabriel, Marcelo… 
Esses jogadores abertos nas pontas te ajudam a poder dosar e só subir na boa ou é o contrário, por eles serem tão intensos você tem que acompanhar?  
– Acho que isso é bom. Hoje em dia, os times têm jogado com dois pontas abertos, voltou essa tendência. Isso ajuda o lateral a defender bem e atacar na boa. Jogar com esses caras velozes vai me ajudar muito. 
Como você vê o Flamengo versão 2015 com a chegada dos reforços? 
– Forte. Vejo o Flamengo saindo na frente por manter a base, o que é muito importante. Os jogadores que estão chegando tiveram sucesso em seus clubes e chegam para ajudar. 
Um desses nomes é o Pará, que joga na sua posição. Você vê como uma ameaça? 
– É muito difícil eu falar, né? Estou aqui há 10 anos e todo mundo vem com esse pensamento, mas vai jogar quem estiver melhor. Me preparo para poder jogar. Lógico que não vou jogar todos os jogos da temporada, mesmo que tenha jogado 56 no ano passado, ao lado do Wallace. Em alguns jogos, vou ter que dar uma segurada e ele chega para agregar. 
Todos que vieram nos últimos anos eram apostas: Everton Silva, Wellington Silva, Léo… O Pará já é um jogador reconhecido pelo que fez. Isso muda alguma coisa? 
– De maneira alguma. Confio muito no meu potencial, tenho uma história e todos os anos que entrei para jogar foi para ser 100% e jogar tudo que for possível. Mas é um cara que, se o Flamengo precisar, pode dar conta do recado. Tem experiência em times grandes. 
O elenco tem força para levar o Fla aos títulos? 
– Sim. O clube tem que ter elenco. Se não tiver, dificilmente chega para disputar finais de grandes competições. Se olharmos para o time reserva, são jogadores de qualidade querendo um lugar ao sol. Isso é importante. 
Quanto tempo mais você ainda se vê jogando? 
– Cara, eu nem penso em parar agora, não. Nem passa pela minha cabeça. Cada vez que termina um treino físico ou com bola, me sinto apto a continuar minha carreira. Vejo pelo Zé Roberto, que falou que vai até aos 45. Se ele pode, eu vou até quando me sentir bem e feliz. 
Por falar em futuro, como foi conduzido o processo da renovação? É público que você queria um ano, mas a diretoria só aceitou renovar até o fim do Carioca… 
– Meus planos são de um jeito, mas sou um cara Cristão e vejo essas coisas um pouco pela religião. Os planos de Deus são melhores que os nossos. Lógico que minha vontade era fazer um período mais longo, até por questão de tranquilidade para trabalhar. São seis meses, mas vou dar a vida como se fosse um ano, dois… Estou defendendo um clube que eu amo, uma torcida que me dá um carinho especial. Vi durante as negociações e depois, no jogo do Zico, o Maracanã todo gritou quando anunciou meu nome. Não há preço que pague isso. Não posso ficar aqui chateado. Tenho que entrar e dar o meu melhor. Meu plano é continuar aqui. Quem sabe no fim a gente amplia? Quero chegar e jogar. 
Quando o clube chega e te impõe um período menor do que o que você quer, você vê como um questionamento do que pode render física ou tecnicamente? 
– Não é nem questão de provar. Eu que escolhi também permanecer. Poderia chegar e falar que não, que não quero. Tinha outras propostas, mas não fui porque queria jogar aqui, dar continuidade aqui. Não sei qual foi o critério, mas respeito e estou aqui feliz da vida. Vou dar o meu melhor. Não é algo que vai me chatear ou deixar triste para jogar mais um campeonato. Quero deixar claro que estou feliz por começar mais uma temporada. 
Você fez um post no Instagram depois da renovação que causou muita polêmica em redes sociais citando ingratidão. Preciso te perguntar: quem é o ingrato?  
– Todo mundo quer saber, mas um dia vocês vão saber. Com certeza. Esperava uma coisa de uma pessoa que não aconteceu. Lógico que ninguém pensa da minha forma, de querer ajudar o próximo. Mas isso nunca é em relação ao Flamengo. Jamais faria isso. Sou agradecido demais. Aqui, conquistei meus principais títulos, cheguei à Seleção. A pessoa dentro dela sabe que, de repente, faltou um pouco mais de carinho por mim, mas isso é papo para o futuro. 
Foi uma decepção profissional ou pessoal? 
– Os dois. Deixando bem claro que não é pelo lado do Flamengo, mas mais com a pessoa. 
É alguém ligado ao clube? 
– Não é questão de ser ligado ao clube, é do meio do futebol. Poderia ter me ajudado, mas passou. 
Em entrevista ao programa online Cara a Tapa, o Renato Abreu te avaliou de 0 a 10 e deu nota 5. É algo que te surpreende? Havia algum tipo de problema? 
– Não me surpreende. Nunca tive amizade com o Renato. Sempre respeitei, mas fui contra algumas atitudes. É um cara que respeito como jogador, mas zero como amizade. Não tem amizade. O respeito é profissional. Não preciso nem dar nota. 
Você fez muitos amigos no futebol?
– É difícil fazer amigos mesmo. Tem os companheiros mais chegados, e alguns guardo com carinho. Renato Augusto, Toró, Juan, Sheik, Adriano… São pessoas que tenho admiração. Alecsandro é um cara que chegou há pouco tempo, era meu adversário, mas parece que o conheço há muito tempo. São afinidades que chegam de uma hora para outra e te surpreendem. É um cara que entrou no hall de pessoas que admiro muito.
Por fim, há alguma possibilidade de você aposentar ao término deste contrato atual com o Fla?
– Não. Nenhuma. Isso aí não tem nem hipótese. Quero jogar por muito tempo. Se não for aqui no Flamengo, vai ser em outro lugar. Agora, em dezembro, já teve oportunidade e eu não fui porque minha escolha era continuar aqui. No meio do ano, se não dermos continuidade aqui, outras portas vão se abrir.

Fonte: GE
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