Poliglota, Eduardo busca fôlego por um 2015 “bem melhor”.

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A voz ainda sai mansa, quase que para dentro. A mistura de idiomas na cabeça inibe Eduardo da Silva. Se a volta ao Brasil já aconteceu há seis meses, dentro de casa o português ainda tem espaço pequeno perto do croata e do inglês com o qual se comunica com a esposa e os filhos. O objetivo para 2015, no entanto, está traçado, seja qual for a língua que diga isso: superar o desempenho que já rendeu picos de protagonismo no ano passado. Para isso, o atacante de 31 anos admite: precisa melhorar a parte física.
Contratado após a Copa do Mundo, o croata-brasileiro praticamente emendou a última temporada europeia com a “fuga da confusão” com a camisa do Flamengo. E conseguiu ser importante com nove gols marcados em 24 partidas. Apenas em duas, porém, conseguiu ficar em campo os 90 minutos. Missão complicada para quem sofreu com o forte calor, as longas viagens e o calendário apertado do futebol brasileiro. A partir desta terça-feira, em Atibaia (SP), Eduardo promete não medir esforços para que em 2015 fôlego não seja problema.
– Quando assinei com o Flamengo, estava de férias, há três semanas sem fazer atividades depois da Copa, e meu calendário ainda era o europeu. Depois da eliminação da Croácia, fiquei no Brasil sem fazer nada. Logo dez dias depois que acertei com o Flamengo, já comecei a jogar e praticamente não fiz uma pré-temporada. Entrei no embalo e senti isso depois com o tempo que precisava trabalhar mais a parte física. Vou fazer um trabalho específico para o clima, o calor, as viagens… Vai ser bem melhor do que no ano passado.
Eduardo aponta o primeiro semestre como importante ainda para aprender o que é o Flamengo. Fora do Rio de Janeiro há 15 anos, o atacante admitiu que ficou surpreso e disse ser necessário ter muito equilíbrio mental para aguentar a pressão.
– Eu não tinha essa noção quando jogava lá fora. Sabia que tinha pressão, a torcida, mas só estando aqui dentro para ter ideia. No Flamengo, em um jogo te colocam lá embaixo ou lá em cima. Tem que ter muita cabeça e personalidade. A cobrança aumenta a cada dia.
Rodeado de amigos, o poliglota rubro-negro atendeu ao GloboEsporte.com em sua casa no Rio de Janeiro no último dia de suas férias. Enquanto brincava com os filhos em croata e respondia perguntas em português, garantiu que a grave lesão que sofreu quando defendia o Arsenal, em 2008, não tem nenhuma relação com a dificuldade física que teve no ano passado, falou sobre as impressões após o retorno ao Brasil e minimizou os altos e baixos que teve com a camisa do Flamengo.
– Vivi bons momentos, mas esqueço rápido e penso nos próximos.
Confira a íntegra da entrevista:
Você começa sua primeira temporada completa no Brasil, podendo trabalhar a parte física e chegar de igual para igual com os companheiros. O ano passado foi desgastante por emendar a temporada europeia com a chegada ao Fla e ainda com Copa do Mundo. O que esperar do Eduardo em 2015?
– Cheguei um pouco tarde no ano passado, mas vivi bons momentos. Foi uma temporada difícil. A expectativa agora é começar bem, com saúde, conquistar o título carioca e começar bem o Brasileiro.
No ano passado, você jogou 90 minutos raríssimas vocês. Trabalhar a parte física nesta pré-temporada é uma preocupação?
– É verdade, foi algo que faltou. Quando assinei com o Flamengo, estava de férias, há três semanas sem fazer atividades depois da Copa e meu calendário ainda era o europeu. Depois da eliminação da Croácia, fiquei no Brasil sem fazer nada. Logo dez dias depois que acertei com o Flamengo, já comecei a jogar e praticamente não fiz uma pré-temporada. Entrei no embalo e senti isso depois com o tempo que precisava trabalhar mais a parte física. Vou fazer um trabalho específico para o clima, o calor, as viagens… Vai ser bem melhor do que no ano passado.
Há quem diga que a dificuldade para jogar os 90 minutos ainda tem uma relação com sua lesão no tornozelo na época do Arsenal. Isso ainda te atrapalha? Ficou algum tipo de sequela?
– Não. Isso pode vir da parte de treinadores, preparadores… Claro que provavelmente mudou alguma coisa, mas não tem nada a ver com preparo físico. Pode ter mudado a confiança do treinador, da comissão, fica aquela pergunta na cabeça, o ponto de interrogação. Mas estou tranquilo, tenho jogado e faço gols como antes.
Então, é algo que ficou marcado muito mais pela imagem chocante do que ser algo que te incomode?
– Não, não, não… No começo, quando voltei a jogar, sentia dores musculares, mas foi só nos primeiros dois anos. Depois, meus músculos estabilizaram e ficou tudo normal.
Para 2015, o Flamengo contratou muitos jogadores rápidos para jogar no ataque. Você atuou muito pouco centralizado na última temporada. Está pronto para jogar assim agora ou tem preferência por jogar mais recuado?
– Não tenho preferência. Só penso em jogar para ajudar a equipe em qualquer posição, mas como 9, como centroavante, tenho jogado muito pouco. Desde a época em que o Barcelona começou a jogar sem um atacante fixo e ganhou tudo, muita gente começou a copiar na Europa. Antes da minha lesão, os clubes jogavam muito no 4-4-2. Quando voltei, isso tinha mudado e passei a atuar mais pelos lados ou atrás do centroavante. Mas se precisar, é só me adaptar e não tem problema.
Seis meses depois da volta ao Brasil, ao seu país, você diria que já está completamente adaptado dentro e fora de campo? Tudo é muito diferente do que você se acostumou na Croácia…
– Se adaptar ao calor é fácil, o mais difícil é preparar a cabeça para isso, para estar forte mentalmente. Em campo, a pessoa não pensa nisso. O mais difícil são as viagens, que são longas. São muitos jogos seguidos, sem parar, praticamente não treina. É preciso estar com a cabeça preparada. Agora, já entrei no embalo.
Recentemente, craques como Kaká e Neymar fizeram análises do futebol brasileiro e criticaram algumas situações. Como quem cresceu na Europa, que tipo de futebol você encontrou aqui? Decepcionou?
– O primeiro ponto é a estrutura. Alguns clubes dizem que tem como na Europa, mas a maioria não tem. Esse é o primeiro ponto. Sobre futebol, formação dos jogadores, ainda estou por fora. Falam que o nível é baixo tecnicamente, mas não vejo assim. O Brasileirão é diferente, mas também difícil de jogar. Hoje em dia, em todo lugar, até em países pequenos, é difícil, não tem mais time bobo. Antigamente, íamos jogar pré-temporada na Ásia e era sempre 5 a 0, 6 a 1. Ano passado, com o Shakhtar, era tudo mais equilibrado, empate, vitória por 1 a 0. O clima, a temperatura, influenciam muito aqui no Brasil.
No Brasil, o futebol é jogado em um ritmo mais lento?
– Diria que é mais aberto, tem mais espaço, mas também não é fácil. Com o calor, desgasta muito.
Você é um carioca que viveu muito pouco aqui. Falando da vida fora de campo, já deu tempo para redescobrir a cidade, aproveitar, conhecer lugares?
– Me sinto em casa. Nos 15 anos de Europa, eu sempre vinha passar férias, trazia o pessoal da Croácia, e acabava fazendo turismo com eles, aproveitava para conhecer, ia no Cristo. Minha vida aqui é sempre o mesmo trajeto: Barra, aeroporto, vou na minha comunidade… Simples mesmo.
E o idioma já deixou de ser problema?
– Eu embolo tudo, né? Em casa, falo croata com minha esposa, minha filha, mistura português, fala um pouco de inglês… Fica tudo na cabeça, mas faço de tudo para me readaptar o mais rápido.
Em campo, você ainda fala muito em croata?
– Sim, sim, sim… Era acostumado a xingar em croata e acaba sendo automático, vem a palavra quando perde um gol, erra uma passe…
Passado esse primeiro semestre, o que você pode dizer que já sentiu do que é o Flamengo? O que já deu para aprender?
– É enorme. Quem está de fora, não tem essa noção. Eu não tinha essa noção quando jogava lá fora. Sabia que tinha pressão, a torcida, mas só estando aqui dentro para ter ideia. No Flamengo, em um jogo te colocam lá embaixo ou lá em cima. Tem que ter muita cabeça e personalidade. A cobrança aumenta a cada dia que passa. Podemos estar em primeiro lugar o tempo inteiro, mas se terminarmos em segundo, ninguém fica feliz.
Você falou de altos e baixos e viveu isso no ano passado. Foram muitos gols importantes, mas também aquele passe errado contra o Atlético-MG, na Copa do Brasil, que ficou marcado. Como você viveu esse momento?
– Isso faz parte do futebol. Claro que ninguém quer perder. Foi um momento de um contra-ataque e fiz o que veio na minha mente. Imaginei um lance e deu errado. Ninguém imaginava também que o cara ia pegar a bola no meio-campo e driblar todo mundo. Claro que foi um jogo importantíssimo, mas aprendemos nos erros. É bom ser cobrado e estou tranquilo sobre essa questão.
E a parte boa, os gols, o assédio?
– Não sou muito de querer aparecer, essas coisas. Se fiz um gol hoje, vou comemorar tranquilo com a família, falamos cinco minutos e esquecemos. Não tenho tempo para comemorar, não. O importante é analisar a temporada, fazer um resumo de como foi. Vivi bons momentos, mas esqueço rápido e penso nos próximos.

Fonte: GE
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