Na semana passada, durante arbitral da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), alguns dirigentes capitanearam uma manobra tentando valorizar o Campeonato Estadual com base em preços mais baixos ao longo do certame. Junto a antigas raposas que voltaram à tona, os cartolas partiram de uma premissa correta: existem preços não condizentes com a qualidade do espetáculo. Entretanto, mais uma vez a Federação ameaça matar o paciente ao prescrever remédios errados, outorgando soluções como se todos os clubes vivessem a mesma realidade.
Pra início de conversa, deixemos algo claro: o Blog Teoria dos Jogos sempre se opôs à precificação excessiva nas esvaziadas partidas do Campeonato Carioca. Não é aceitável, por exemplo, que um desinteressante Fla x Flu apresente ticket médio de final de campeonato (R$ 80), como ocorreu no ano passado. Historicamente, defendemos que os preços devem ser altos desde que haja demanda para tal, flutuando aos sabores da mesma e tendendo a zero nos casos em que o produto pouco valer. Infelizmente, este vem sendo o cenário do Estadual.
Entretanto, com base em algum conhecimento de sua própria demanda, a diretoria do Flamengo optou por cobrar em 2014 preços superiores à média, sendo um dos únicos a se salvar dos colossais prejuízos amargados pela maioria. Àquela altura, vendeu-se a ideia de que havia a necessidade de os rubro-negros “financiarem” um clube atolado em dívidas. Queira ou não, deu certo.
Ao tirarmos dos clubes a autonomia da própria precificação, incorre-se no erro crasso da generalização de soluções. É pouco inteligente atribuir a gigantes e nanicos uma mesma fórmula mágica, equiparando-os em seu abismo de envergadura. E isto nem é o pior…
Questionável até em termos legais, o arbitral decidiu que o Carioca não terá ingressos de meia-entrada. Todos serão comercializados a “preços promocionais”, o que na prática inviabiliza o expediente dos descontos para sócios-torcedores. Não é coincidência que os maiores prejudicados – Flamengo e Fluminense – tenham votado contra tamanho absurdo. A dupla é, disparadamente, quem possui o maior número de associados no Rio de Janeiro, segundo o Movimento por um Futebol Melhor. Aos 53 mil flamenguistas e 23 mil tricolores que pagam em dia suas mensalidades, seguem-se ridículos 15 mil vascaínos (a quinta maior torcida do Brasil) e oito mil botafoguenses. Quem menos tem a perder alinhou-se à equivocada estratégia da Federação.
Mas voltemos ao preço dos ingressos. Algumas estimativas apontam que, se mantidos os públicos do ano passado, o lucro do Flamengo em 2014 (algo em torno de R$ 1,3 milhão) se tornaria um prejuízo na mesma escala em 2015, já sob a política de preços vigente. Percebam que o carro-chefe das bilheterias do ano passado chafurdaria em enormes déficits pela nova regra. É de se imaginar qual o tamanho do prejuízo nas partidas envolvendo outras agremiações – especialmente em partidas entre pequenos ou nos estádios com maiores custos.
Neste ponto, outra ressalva: a projeção considera que os públicos pagantes serão iguais, ainda que os preços sejam bem menores. Como existe uma correlação negativa entre preços e quantidades na curva de demanda, é improvável que isto venha a acontecer, certo? Mais ou menos. Explica-se.
O Campeonato Carioca 2013 apresentou média de público de 2.411 espectadores, junto a um ticket médio de R$ 18,54 – segundo informa o FutDados. Já o Carioca-2014 elevou a média de público para 2.828 – o que só ocorreu porque o torneio teve uma final (Flamengo x Vasco)*, elevando a média em seus dois últimos jogos. Antes disso, a média era de 2.361 pagantes, praticamente idêntica à do ano anterior. Como o ticket médio subiu para a casa dos R$ 22, pode-se dizer que a reação da demanda foi completamente inelástica, praticamente não respondendo à valoração dos preços.
*O Campeonato de 2013 não teve final, com o Botafogo se sagrando campeão ao conquistar os dois turnos.
Embora o comportamento da demanda se modifique conforme a direção do vetor de preços – leia mais sobre isto aqui – é provável que o público carioca não atenda ao chamado mesmo com a queda de preços. Isto porque o grande problema do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro não se relaciona unicamente ao preço, sendo mais uma questão de produto. Ainda que se tenha mexido nos preços, ninguém modificou o excesso de times sem tradição, jogos sem valor ou o desconforto nos estádios. Nem será por um passe de mágica que melhorará a qualidade das partidas, o acesso e a segurança nas arquibancadas. Sendo assim, é bom que os cartolas se preparem para um cenário sombrio: o completo afastamento das torcidas junto aos maiores prejuízos já verificados.
Fonte: Teoria dos Jogos