Cinco meses depois de ter o seu contrato rescindido com o Flamengo, André Santos deixou no passado qualquer polêmica envolvendo a sua saída do clube. Nada de mágoa ou rancor com o Rubro-Negro, garante o lateral esquerdo. Muito pelo contrário. Segundo ele, o que ficou marcado são as boas lembranças de conquistas e amigos que conseguiu durante sua segunda passagem pela Gávea, entre 2013 e 2014.
Ainda sem clube para 2015 e depois de uma curiosa passagem pelo futebol da Índia, André Santos por enquanto aproveita as férias com a família entre suas casas no Rio de Janeiro e em Florianópolis. Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, o jogador de 31 anos evitou fazer críticas ao Fla e fez questão de esclarecer que deixou qualquer problema para trás. Na ocasião, ele chegou a ser agredido por torcedores após derrota para o Internacional e dois dias depois foi avisado pela diretoria flamenguista que estava dispensado.
“Foi uma página virada, aconteceu, teve a agressão do torcedor. Então, claro que sair dessa forma do clube é sempre muito ruim, mas sou um cara jovem, que dificilmente na minha carreira guardo rancor e mágoa de alguém. A gente fica triste, mas daqui a pouco passa, não fiquei com mágoa. São coisas que aconteceram e passou, isso já faz parte do passado”, afirmou.
À procura de um time para atuar em 2015, o lateral está em negociações, diz que ainda pode atuar em alto nível e espera anunciar seu destino em breve. No fim do ano passado, passou quase três meses jogando na Índia, pelo FC Goa, comandado por Zico. Destacando o crescimento do futebol asiático em uma nova liga criada no país, André contou experiências diferentes que viveu por lá.
“A comida é muito apimentada, tem muito trânsito, vacas na rua, e a vaca é sagrada para eles, você tem que parar e esperar elas passarem. São curiosidades engraçadas e bacanas que ficam na história de vida”, relatou.
Durante a conversa, André Santos também falou sobre a melhor fase de sua carreira no Corinthians, o pior momento no Arsenal, passagem pela seleção brasileira e o bom relacionamento no trabalho com o técnico Mano Menezes.
Confira abaixo a entrevista completa com André Santos:
ESPN.com.br – Como foi a experiência de atuar no FC Goa, da Índia?
André Santos – Para mim foi um prazer fazer parte desse novo projeto, um projeto do Zico na Índia. O futebol asiático vem crescendo muito. Primeiro foi o Japão, hoje tem a Índia, a Tailândia, países que estão desenvolvendo bastante o futebol. Foi um projeto bacana, bom para o meu currículo e pra minha carreira, fomos bem na competição.
Qual a maior diferença nos costumes indianos você destaca?
Na Índia claro que é muito diferente daquilo que nós todos estamos acostumado. Mas para mim é sempre muito importante e muito bom estar viajando, conhecendo novas culturas, outra língua, é bom para aprender outros costumes. Claro que teve muitas curiosidades, costumes diferentes. A comida é muito apimentada, ele mexe a cabeça em todos os momentos, mesmo para dizer sim ou não, tem muito trânsito, vacas na rua, e a vaca é sagrada para eles, você tem que parar e esperar elas passarem. São curiosidades engraçadas e bacanas que ficam na história de vida, isso marca bastante.
Apesar de pagarem bem na Índia, o nível do futebol ainda é muito abaixo dos grandes centros?
Vou te falar que o nível do futebol lá não é muito abaixo, porque são muitos estrangeiros que jogam a competição. O torneio é muito bem organizado por uma empresa inglesa, a mesma que organiza a Premier League. Muitos jogadores que atuaram no Campeonato Inglês foram para lá, como eu, o Elano, o Pires. Isso somou bastante, o nível agora vai crescendo a cada ano que passar. Eles contrataram muito, cada equipe tinha 12 estrangeiros, não é um nível baixo. Os indianos estão um pouco abaixo no nível do futebol ainda, mas existem muitos jogadores indianos bons também. Acredito que o nível não está tão abaixo do futebol brasileiro e europeu como as pessoas pensam.
Você teve a oportunidade de ser treinado no Flamengo em 2013 com o Mano Menezes, com quem já tinha trabalhado no Corinthians. Como encarou o pedido de demissão dele e a chegada do Jayme, que acertou o time e acabou sendo campeão da Copa do Brasil?
Foi um momento muito conturbado para o Flamengo, o Mano estava tentando organizar a equipe e não vinha conseguindo. Ele é um excelente treinador, mas a equipe não estava encaixando. Quando o Mano saiu, o Jayme conseguiu arrumar a equipe, começou a ganhar os jogos e o time pegou confiança, foi uma transformação. O Hernane foi um dos artilheiros do ano, a equipe foi campeã do Carioca e da Copa do Brasil, acabou dando certo. Esse foi um grande momento meu com a camisa do Flamengo.
Você chegou a conversar com o Mano naquela situação?
A única conversa que tivemos foi quando eu, o Elias e o Chicão pedimos para ele ficar, mas ele acabou não ficando, disse que a equipe não estava entendo o que ele queria. E como os dois lados não estavam se entendendo, ele achou melhor sair, então foi aquele momento que acabou dando certo com outro treinador.
O que mudou do Flamengo de 2013 para 2014? A saída do Elias foi fundamental para a queda de rendimento da equipe?
Acredito que sim. A saída do Elias nós não estávamos esperando, ele vinha muito bem, era um dos principais jogadores da nossa equipe, e o time estava muito bem encaixado. Depois que ele saiu, acabou dando uma bambeada, saiu uma peça muito importante, pela experiência, pelo jeito de jogar.
Você teve o seu contrato rescindido com o Flamengo em agosto de 2014. O que aconteceu exatamente para você sair do clube? Ficou chateado?
É difícil eu falar, procuro até não falar muito para não ficar martelando no mesmo assunto. Foi uma página virada, aconteceu, teve a agressão do torcedor. Mas eu sempre fui muito feliz no Flamengo, fiz amigos, ganhei títulos, tenho carinho e respeito por todos aqueles que conheci aqui. A saída não foi do jeito que gostaríamos. Então, claro que sair dessa forma do clube é sempre muito ruim, mas sou um cara jovem, que dificilmente na minha carreira guardo rancor e magoa de alguém. Torço muito pelo Flamengo, para que eles possam caminhar e ser felizes como sempre foram. A gente fica triste, mas daqui a pouco passa, não fiquei com mágoa. Foi um fato inédito que passou, não ficou nada arquivado. São coisas que aconteceram e passou, isso já faz parte do passado.
Na sua opinião, qual foi o grande motivo para o Flamengo sair da última colocação do Brasileirão e subir de produção do primeiro para o segundo semestre do ano passado?
A mudança, acho que o Luxemburgo foi um dos principais responsáveis por isso, ele sempre foi um cara muito autêntico muito corajoso. É um cara que assumiu a responsabilidade e fez a equipe jogar do jeito que ele queria naquele momento, e conseguiu que a equipe saísse daquela posição que estava para se safar do rebaixamento.
Você não teve a oportunidade de trabalhar com o Luxemburgo no Flamengo, certo?
Quando eu estava saindo do Flamengo, o Luxemburgo chegou, mas em nenhum momento eu treinei com ele. Porque quando ele chegou, foi passado para ele que o meu caso e o do Elano já estava resolvido, que era para ele trabalhar dali para frente. Ele nem pôde interferir.
Já está negociado com algum clube para 2015? Tem preferência por atuar no Brasil ou fora do país?
Depende da proposta, do que vai ter a caminho, Temos algumas possibilidades de ficar no Brasil e também ir para fora. Vou estudar, ver com minha família para ver o que é melhor e o que vai acontecer. Tem algumas coisas acontecendo. Apesar da janela lá de fora fechar na próxima semana, existem clubes do Brasil e de fora que estamos conversando. Espero encaminhar meu novo clube já na próxima semana, faltam só detalhes para a gente acertar.
Algum contato, alguma chance de voltar ao Corinthians neste momento?
Por enquanto, não. O Corinthians tem um excelente elenco, tem um excelente treinador, que é o Tite. Eu tenho um carinho muito grande pelo Corinthians, foi a principal passagem da minha carreira, tenho carinho imenso pelo torcedor e o torcedor por mim. Mas por enquanto não tem nada, quem sabe no futuro a gente possa estudar essa oportunidade.
Você atuou pela seleção brasileira sob o comando do Mano Menezes na derrota para a Alemanha por 3 a 2, em um amistoso em 2011, em um bem jogo mais equilibrado do que a derrota por 7 a 1 na Copa do Mundo de 2014. O que mudou daquele time para a equipe do Felipão no Mundial? A diferença entre Brasil e Alemanha é tão grande assim?
Acredito que a seleção alemã estava realmente muito mais preparada na Copa do mudo, e de 2011 a 2014 são três anos. A seleção da Alemanha já estava se preparando para a Copa há três, quatro anos. Então, eles chegaram muito melhores preparados do que todos os outros times, isso era fato. Tive a oportunidade de acompanhar a final e alguns jogos e vi que a Alemanha estava muito à frente, mais preparada tanto fisicamente quanto taticamente do que as outras seleções. Eu acredito que não tenha mudado tanto da seleção do Mano para a do Felipão. Claro que cada treinador tem o seu momento, sua maneira de comandar, mas os dois são muito qualificados. As peças foram quase todas iguais, não mudaram tantos atletas. Então, acho que seria da mesma forma com o Mano, Felipão, Luxemburgo, com qualquer treinador. A seleção alemã estava muito mais preparada do que a seleção brasileira naquele momento.
Você acha que a estrutura do futebol brasileiro é muito inferior ao que acontece na Europa?
Acho que o futebol brasileiro está atrás. O futebol europeu, em todos os aspectos, financeiros, de estrutura, qualidade, estádios, centros de treinamentos, está realmente à frente. É até ruim eu, por ser brasileiro, estar falando isso. O futebol brasileiro está crescendo, mas ainda está atrasado. Temos que desenvolver mais, correr atrás para crescer cada vez mais, até porque no nosso país o principal esporte é o futebol.
Qual o melhor e o pior momento de sua carreira?
O melhor momento da minha carreira foi no Corinthians em 2008 e 2009, onde eu fui muito feliz, ganhei os principais títulos, cheguei à seleção. Depois tive um tempo incrível no Fenerbache também. E o pior momento da minha carreira foi quando eu me machuquei no Arsenal. Até aquele momento, eu não tinha tido nenhuma lesão grande, mas operei o ligamento do tornozelo e fiquei cinco meses fora dos gramados. E quando você chega em um grande clube como o Arsenal, é impossível ficar cinco meses fora, voltar e conseguir o seu espaço. Porque eles contratam ouros jogadores, sobem o pessoal do time B. Quando eu em recuperei, já tinham dois ou três na minha posição, e foi um pouco mais difícil.
Qual o balanço você faz da sua carreira?
Fazendo uma auto-análise da minha carreira, todos os objetivos que eu tracei eu conquistei. Desde que saí do Figueirense, depois passando pro grandes equipes, como Corinthians, Flamengo, Atlético-MG, se consagrando campeão na maioria das equipes. Também joguei no Grêmio, Fenerbache, Arsenal, seleção brasileira. Agora é um momento novo na minha carreira, mas acredito que posso jogar muito em alto nível ainda. Tive essa experiência com o Zico na Índia, foi muito bom, importante para mim atuar no meio-campo, meu futebol evoluiu muito. Acredito que sou um cara totalmente consagrado naquilo que eu tracei e espero agora novos objetivos.
Fonte: ESPN