ESPN F.C. – Dentro do cenário do futebol carioca, é evidente a linha que separa os dirigentes que se aproximam mais da modernização e dos que representam um resgate a um passado conturbado. Por essa ótica, ficam de um lado Peter Siemsen, que tirou Roberto Horcades do poder no Fluminense, e Eduardo Bandeira de Mello, que bateu Patrícia Amorim nas eleições presidências de 2012 e vem fazendo um grande trabalho para resgatar o Flamengo da beira do abismo. Do outro lado, se apresentam Rubens Lopes, o Rubinho, presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), e Eurico Miranda, que voltou ao Vasco anos depois de sair, no claro exemplo de mandatários que não deveriam mais ter espaço no futebol brasileiro.
Tão logo venceu as eleições no Vasco da Gama, Eurico começou a utilizar de todo seu prestígio entre a arcaica estrutura do esporte bretão no país, pautada por José Maria Marin, Marco Polo del Nero, entre outros. Não demorou para que o chefão vascaíno usasse seu poder político para influenciar o rumo do futebol carioca, que já não andava muito bem das pernas. E, aproximando-se de Lopes, veio, em meio a diversas articulações, a tabela de preços imposta pela Ferj, alegadamente sem consulta a Flamengo e Fluminense, e que prejudica as receitas dos dois clubes.
Sentindo-se lesados, Fla e Flu se juntaram ao Consórcio Maracanã numa nota oficial para manifestar a contrariedade à medida. O Fluminense foi além e publicou uma outra nota, com ironias e provocações ao Vasco da Gama, assumindo um tom infantil que prejudica a tratar o problema da maneira madura como precisa.
Estamos diante de uma grande possibilidade de reestruturação do futebol carioca. A questão do preço dos ingressos pode ser o estopim de uma cisão que mostre que o modelo de dirigente daqui para frente deve ser mais parecido com Peter e Bandeira do que com Eurico. Mas Flamengo e Fluminense realmente querem isso?
É muito cômodo bater no peito para falar em vanguarda e assinar os regulamentos de Rubens Lopes e Marin. É irônico querer modernização e aceitar um calendário e um Brasileirão com regulamento e datas esdrúxulos como foi em 2014 (e será em 2015). Os presidentes de Fla e Flu discursam pelo profissionalismo, mas têm a disposição na hora de agir de maneira mais contundente? Essa é uma grande oportunidade para provar que sim.
Boicotem o campeonato. Coloquem os juniores para jogar as primeiras partidas, marquem um amistoso para o sábado de Carnaval, no Maracanã, valendo taça (com a cidade cheia de turistas, o jogo teria um bom público). Batam o pé e enfrentem de verdade a FERJ. Afinal, Eurico e Lopes adorarão se o máximo que Flamengo e Fluminense fizerem forem notas e beicinho para a imprensa.
Às vezes, pelo modo como falam os presidentes dos dois clubes, a impressão que fica é que tanto Fla quanto Flu não podem mudar essa realidade, que não são agentes importantes nos grupos responsáveis por esse cenário. O discurso é bonito e etc, mas um pouco mais de pragmatismo é estritamente necessário. A não ser que, ao contrário do que dizem, o interesse não seja mesmo modernizar profundamente a estrutura do nosso futebol, e apenas criar uma imagem mais descolada entre a mídia e os torcedores, pautando-se em reformas menores.