Quando Thallyson diz que faz questão de ir à frente servir aos atacantes, ele expõe mais do que sua vocação ofensiva. O lateral-esquerdo, 23 anos, pensa sempre primeiro no outro. E esse espírito altruísta quase lhe custou a carreira. Entre os 16 e os 17 anos, pensou em largar o futebol por ver seu pai ter que dirigir por 70 quilômetros, de Campo Alegre à capital Maceió, para que ele treinasse no CSA. Se Jovenildo, o Seu Nildo, 66 anos, não podia cumprir tal missão, pagava a passagem. “Eu faltava muito à escola para jogar bola. Meu pai ficava bravo, mas sempre me incentivou. Ele trabalhava por mim. A minha maior dificuldade era ver o sacrifício dele. Pensei em desistir”, revela. Não à toa que ele é tão apegado à família. Tanto que, antes de chegar ao CSA, onde começou, treinou no Sport, mas voltou para casa por causa da falta que sentia do pai; da mãe, Dona Quitéria; e dos irmãos, Thiago, o mais velho, e Taynara, a caçula. Agora, no Flamengo, terá que driblar essa saudade:
“Preciso pagar o preço, ver o que é melhor para a gente”, afirma o lateral, que até nos sonhos é solidário. “O primeiro eu já estou realizando: jogar no Flamengo. Agora, quero ajudar a minha família e as pessoas que mais precisam na cidade. Montar uma escolinha, um projeto social, para quem sabe surgirem outros Thallysons.” Lidar com a má formação na mão esquerda nunca foi problema, talvez pela sua tendência de olhar primeiro pelo próximo. Seu Nildo conta não saber a causa da deficiência, mas garante que isso nunca foi obstáculo para o filho. “Só descobrimos quando ele nasceu. Eu fazia tudo por ele. Isso nunca atrapalhou em nada. Era um menino alegre, todos na cidade o admiram. Ele chega aqui, pega a bicicleta e vai visitar todo mundo”, revelou o pai coruja, que sustentou o sonho do filho com o dinheiro que batalha no transporte alternativo, na linha que liga Campo Alegre a São Miguel dos Campos:
“As crianças todas o têm como exemplo. Agora o número de flamenguistas aqui aumentou. Ele é motivo de muito orgulho para todos aqui. Isso é inédito para a cidade.” Da época em que o menino matava aula para jogar bola no terreno em frente à escola, marcado por entulhos, cacos de vidro, até a pré-temporada em Atibaia, o caminho foi longo. No CSA, fez as divisões de base e se profissionalizou. Quando, segundo Seu Nildo, o clube já não oferecia nem alimentação, procurou o ASA, clube que defendeu até chamar a atenção de Vanderlei Luxemburgo. Os tempos difíceis parecem ter ficado para trás.
“Esse vai chegar ganhando título”, profetizou Léo Moura, ao ver que o novo companheiro dava autógrafos após o treino.