Trivela – Ele pode não ter sido o mais técnico ou o mais regular. Convenhamos, ele não foi nenhuma das duas coisas. Mas ser o melhor não importa tanto assim. Após uma década vestindo rubro-negro, Leonardo Moura merece todo o respeito do Flamengo e de sua torcida. Não foi o craque como muitos laterais que passaram pela Gávea, mas merece ser visto como um dos grandes da história rubro-negra na posição, pela dedicação e pela liderança nos mais de 500 jogos pelo clube. O trabalho do dia a dia o ajudou a se tornar peça importante em grandes títulos dos flamenguistas, vivendo um período de limitações financeiras, em que craques de verdade não foram tão comuns.
O rubro-negro mais otimista não imaginaria que Léo Moura daria tão certo no clube. Provavelmente nem ele pensava nisso. Quando chegou, o lateral de 28 anos já era bastante rodado. Tinha talento reconhecido, mas não era aquele cara para tomar a posição de um time por anos. Já tinha passado pelos outros três grandes do Rio e por outros dois de São Paulo sem ir muito longe. Também rodara por três países diferentes da Europa, defendendo até mesmo o Braga, famoso por firmar jogadores brasileiros de segundo escalão. A vida em Portugal, porém, não durou muito. Acabou no Flamengo em 2005, em uma época na qual o clube não vivia exatamente os seus melhores momentos.
A despeito dos títulos cariocas, o flamenguista enfrentava um período de seca de títulos. Até conquistou a Copa Mercosul de 1999 e a Copa dos Campeões de 2001, mas desfrutava mais de lampejos em mata-matas do que de campanhas consistentes, em tempos nos quais o departamento de futebol vivia em meio ao caos. Não à toa, o Fla ficou de fora da fase decisiva do Brasileirão entre 1998 e 2002, muitas vezes brigando para não cair. E ainda houve três vices na Copa do Brasil desde 1997, incluindo a amarga derrota para o Santo André em 2004. Por mais que aquele gol do Petkovic aos 43 minutos do segundo tempo na final do Carioca contra o Vasco tenha acontecido neste intervalo, o orgulho dos rubro-negros se concentrava mais na grandeza de seu clube do que exatamente nos feitos dentro de campo – e digo isso por experiência própria.
A situação começou a mudar a partir de 2006. O título da Copa do Brasil pode ser colocado como um marco de um período em que, ano a ano, o Fla deixou de ser o figurante que havia se tornardo. A bagunça nos bastidores pode não ter melhorado naqueles primeiros tempos, mas a camisa voltou a impor respeito em território nacional. A conquista na decisão contra o Vasco, com Obina iluminado, reabriu o caminho para os flamenguistas. Em jogos nos quais os times voltaram a incorporar o gigantismo da torcida no Maracanã, Léo Moura foi um dos que mais representaram essa raça.
As próprias formações do Flamengo passaram a valorizar o potencial ofensivo dos laterais (em alguns esquemas, transformados em alas), o que deixava o camisa 2 em evidência. Em 2007, na histórica arrancada rumo ao terceiro lugar no Brasileirão, o veterano foi eleito o melhor do campeonato, acumulando gols e assistências. E assim permaneceu nas boas campanhas nacionais do Fla, que esteve entre os cinco melhores da Série A em quatro oportunidades até 2011. Em especial, no fim do jejum de 17 anos em 2009, com Adriano e Pet comandando o time, mas Léo sendo um grande coadjuvante na equipe de Andrade, especialmente pelo vigor e pelo apoio na direita. De quebra, também fez parte do “chororô” botafoguense, com o tricampeonato estadual entre 2007 e 2009.
Nos últimos anos, a idade cobrou seu preço e Léo Moura não manteve aquele mesmo nível. Por vezes, foi deslocado ao meio-campo. Mas teve as partidas em que relembrou o eficiente lateral de seu auge, ajudando também na conquista da Copa do Brasil. No último ano, os lampejos se repetiram com menos frequência e a torcida até se irritou um pouco com o capitão, sobretudo pelo impasse na renovação de seu contrato. Nenhuma mágoa que dure muito, com a emoção evidente do lateral na última quinta, em um de seus últimos jogos pelo Fla.
Em dez anos de clube, Léo Moura se despedirá no domingo, no clássico contra o Botafogo, justo o time que o revelou. Completará 517 partidas, que lhe permitirão superar o mítico Carlinhos, que tanto representou para o clube entre as décadas de 1950 e 1960 – e ainda depois, em suas passagens como técnico. Difícil medir a posição de Léo Moura entre os grandes da Gávea, diante dos talentos que vestiram rubro-negro. Não se aproxima, por exemplo, do craque Leandro, o maior lateral-direito da história do Fla. Mas tantos jogos servem para dimensionar a sua dedicação ao clube. Simboliza a sua gratidão ao Rubro-Negro pela chance de se tornar um jogador lembrado com carinho por muito tempo, e não apenas um andarilho da bola. Assim como a gratidão da torcida por ajudar a reerguer o moral do Flamengo nos últimos dez anos, com oito títulos de peso. Léo Moura também escreveu parte da história em vermelho e preto.
Leandro Stein
*correção: quando ele chegou ao flamengo tinha 26 anos.
Belo texto!!!!!!!!!
Realmente, 10 anos defendendo o Mais Querido com garra e paixão… Léo, sucesso !!!
Eu gostava dessa camisa Freddy Krueger, apesar das críticas.