Olhar Crônico – A CBF e os clubes criaram uma medida que levará à punição – ainda não estabelecida – daqueles que atrasarem os salários dos jogadores. A um primeiro olhar, parabéns à confederação e aos clubes. Entretanto, apesar do charme do nome com que já nasceu essa criatura – Fair Play Trabalhista – e de sua aparência de modernidade e seriedade, ele não é bem assim.
Em boa parte essa medida é baseada no modelo em vigor na Federação Paulista de Futebol. Nos dois casos, a entrada em cena da federação ou confederação só se dá ou dará a partir de denúncia feita por um jogador. Ou mais de um. Ora, a prática tem mostrado que os maiores prejudicados pelos costumeiros atrasos de salários, que são os jogadores ainda sem nome e sem estabilidade financeira, têm receio de tomar esse tipo de medida. Comportam-se assim também por medo de ficarem marcados e perderem mercado. Afinal, qual o dirigente que vai investir na contratação de um jogador que já foi manchete por ter denunciado seu patrão?
Por sua vez, os astros, donos de salários e acordos de pagamentos muito generosos, relutam em denunciar atrasos, com uma ou outra exceção. É mais comum “vazarem” a informação para um jornalista do que enfrentarem os clubes. Com a situação exposta pela imprensa, negociam nos bastidores uma solução para suas pendências. Dificilmente as estrelas terão motivações para denunciarem seus clubes.
Essa é mais uma daquelas medidas em que o Brasil especializou-se: muda tudo para deixar tudo como está. Uma medida para inglês ver, achar bonito e ponto.
As verdadeiras mudanças são as que ocorrem na vida real e não no papel.
Há um fair play verdadeiro a caminho
Outro ponto importante: a preocupação com as dívidas trabalhistas, embora justa e necessária, não é e não será garantia do que é realmente necessário para nosso futebol, que é a tomada plena de consciência dos clubes a respeito da limitação de seus gastos e se tornarem, de fato, entidades capazes de se manterem sustentáveis.
Isso virá, se nada der errado em meio à crise política que hoje domina o Executivo e o Legislativo, com a aprovação e entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal no Esporte, desde que o texto final seja igual ou próximo ao que foi apresentado no projeto do deputado Otávio Leite, que foi mexido pelo pessoal do Bom Senso e do próprio governo, indo até um pouco mais além do que propunha o autor original da lei.
Esse ponto, por sinal, mostra como os clubes perderam espaço institucional e se transformaram em passageiros de seu destino, não condutores.
O Bom Senso tomou-lhes a frente, e hoje é mais decisivo e ouvido do que eles, os grandes responsáveis pela grandeza do futebol.
Acho boa a idéia de punição por atraso de salários, mas o que tem de haver é fiscalização, e não esperar que o atleta vá denunciar. O Eurico não vai permitir que nenhuma fiscalização seja feita no clubinho particular dele, então punição nele, perda de pontos e multa para ele aprender a respeitar os outros envolvidos no esporte.
Responsabilidade “fiscal”. Também apoio. O Clube só gastar o que arrecada, incluindo sua capacidade de endividamento. Isso em linhas gerais. Mas, assim como o “fair play” trabalhista, há um entrave grave: se até a petrobrás falsifica seu balanço e o governo deu um “jeitinho” para se “ajustar” à lei do mesmo teor, o que não ocorrerá com os Clubes de futebol? Aliás, alguém aqui acredita nos valores divulgados das dívidas dos Clubes? Pelo que sei, o único que teve sua situação financeira auditada por empresa idônea e independente foi o Mengo. A propósito, nunca acreditei que nossa dívida não fosse a maior, mas, do mesmo modo, nunca cri que as dívidas dos outros fossem do tamanho que eles afirmavam.