O Globo | Blog do Mansur – O gosto pelo time ofensivo, com a linha de zaga adiantada, assumindo riscos, sempre foi marca de Cristóvão Borges no Fluminense. Assim como substituições criticadas, ora pela demora, ora pelas escolhas. Foi assim desde 2014. Continuou em 2015. O que mudou não foi Cristóvão. Foi o perfil de clube. O Fluminense da atual temporada perdeu o parceiro, a capacidade de investimento e a fartura de jogadores de nome. Nada é como antes. Reconstrução de time, reforços sem tanto currículo e jovens como solução são componentes de uma fórmula que leva tempo.
Ao menos, deveria levar. No Brasil, não é permitido. A saída de Cristóvão é só mais um episódio do jeito esquizofrênico como o país enxerga o trabalho de treinadores. Hoje, a Europa dos novos investidores estrangeiros, que compram clubes na esperança de que, num passe de mágica, o dinheiro traga resultados, também demite mais do que em outros tempos. Mas não há paralelo com o que se vive por aqui. No Brasil, o técnico é a figura mais descartável do futebol.
Façamos um exercício de imaginação. Se recomeçasse hoje, três meses e meio após ter se encerrado em dezembro passado, e com os mesmos 20 clubes que a disputaram em 2014, a Série A do Campeonato Brasileiro teria 12 treinadores diferentes. Natural que os quatro rebaixados tenham mudado o comando. Mas a dança das cadeiras ignora posição na tabela e bom senso. Basta dizer que Internacional e Corinthians, terceiro e o quarto colocados do último campeonato, dispensaram Abel Braga e Mano Menezes.
É justo o debate em torno do suposto atraso de treinadores de futebol no Brasil. As recentes competições internacionais sustentam a tese. Assim como a expectativa em torno de Tite na versão 2015 do Corinthians, simplesmente porque o treinador dedicou um ano a um período de estudos e observações na Europa.
A questão é que, desatualizados ou não, nossos treinadores vivem num ambiente único no mundo. Trabalham no país que mais movimenta o sistema internacional de transferências da Fifa. A janela nunca fecha, os regulamentos permitem inscrições de atletas mesmo após o prazo limite de negociações internacionais. Times não duram seis meses, quase sempre numa corrida desesperada para repor as perdas de um país exportador. Planejar elenco não faz parte do cotidiano do treinador brasileiro. Quase sempre, ele tenta apagar incêndios, buscando no improviso o antídoto para o êxodo. E, se não vencer, cai.
E cai, também, porque é contratado num sistema de tentativa e erro. Quem estiver disponível no mercado, é candidato. Estudar o perfil do treinador, a adequação ao elenco de que se dispõe, à ideia de jogo que o clube pretende, não são hábitos dos cartolas. Diego Aguirre, o uruguaio contratado pelo Internacional como terceira opção, enfrentou em três semanas as primeiras cobranças para que mudasse o estilo de jogo. Parecia claro que os colorados não sabiam com quem estavam lidando, ignoravam sua filosofia, seu olhar para o futebol. O clube escolheu o caminho mais longo. Abel conhecia o Internacional como a palma da mão. Aguirre tem que se habituar ao clube, à cultura local e aos jogadores.
Os últimos dias foram fartos de exemplos tipicamente brasileiros. Melhor campanha na Copa do Nordeste e classificado no Baiano, Ricardo Drubscky foi demitido do Vitória, que foi buscar Claudinei Oliveira. Por que ele estava disponível? Porque a diretoria do Atlético-PR, cujo planejamento minimizava o Estadual, decidiu mudar de ideia. O time sub-23 jogava o Paranaense, mas corria risco de rebaixamento. Os titulares, após uma excursão à Europa, foram chamados às pressas. Inclusive Claudinei. Mas o técnico foi demitido em quatro jogos. E o Vitória? Pagou um preço alto por tratar mudança de treinador como banalidade. Claudinei estreou no meio do mata-mata do Estadual. Perdeu para o modesto Colo Colo, o clube foi eliminado e perdeu até a vaga na Copa do Nordeste de 2016.
E Drubscky? Já está no Fluminense, o ex-clube de Cristóvão Borges. E segue a dança das cadeiras.
É fácil de entender, já que qualquer treinador com ou sem experiência receb
– recebem como se fossem popstar no futebol, e com salários astronômicos obviamente são mal vistos se não conseguem resultados satisfatórios para os clubes. Dinheiro não cai do céu…e alguém tem que pagar quando o resultado não agrada. Dispensar jogador seria a última das decisões, pois o prejuízo seria ainda maior…