Acompanhei com felicidade o “caso Paulo Vitor”, jogador da base do Fluminense que foi aliciado pelo Vasco. Não pela troca irresponsável, é claro, mas pelo boicote dos outros clubes ao próprio Vasco. É gratificante ver a união dos clubes em prol de um futebol melhor, e é uma pena que isso se restrinja somente à base. Pesquisando mais sobre o assunto, descobri o “Movimento Futebol de Base” (MFB), criado em 2012, que une os principais clubes do país em prol de um código de ética e do planejamento de campeonatos de base.
O MFB nasceu após iniciativa de Ney Franco, então coordenador técnico das seleções de base do Brasil, de convidar os 40 clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro para discutir a situação e futuro do futebol de base e da formação de atletas no país. Após esse encontro inicial, o movimento foi agregado à ABEX (Associação Brasileira de Executivos de Futebol), onde alcançou um número maior de clubes. A maior atuação do movimento impacta na organização de boicotes àqueles que aliciam jogadores de outros clubes, o que acontece pela terceira vez, com esse caso do Vasco. Antes, tivemos boicotes ao Atlético-PR, que aliciou o jogador Mosquito, do Vasco, e ao São Paulo, que se viu obrigado a entrar em acordo com a Ponte Preta pelo goleiro Lucas Perri diante da ameaça de boicote de vários clubes da Série A.
Essa união dos clubes nos motiva a acreditar que tal pacto pela ética e pelo profissionalismo também pode ser possível para com os elencos profissionais. Imaginem vocês se os clubes decidissem boicotar ao Fluminense pelo acesso mágico da série C à série A, ou ao Botafogo pela falta de pagamento de salários durante o último ano? Seria, no mínimo, interessante.
Entenda o caso: O jogador Paulo Vitor, meia de 15 anos do Fluminense, foi aliciado pelo Vasco e trocou as Laranjeiras por São Januário. Pela pouca idade, a Lei impede que se assine um contrato profissional, e o máximo que pode ser feito é um contrato de formação. Ao ser inscrito na Ferj pelo cruz-maltino, o tricolor logo protestou, e também situou aos demais clubes do Movimento Futebol de Base sobre a situação. Rapidamente, os clubes se articularam e enviaram e-mails para a organização da Copa Nike (sub-15), primeira competição de base a ser disputada após o caso, informando que a abandonariam caso o Vasco fosse participar. Com o manifesto, a organização do torneio informou que cancelou o convite ao Vasco. Caso não haja entendimento entre os dois clubes sobre a situação do jogador, o boicote pode se estender, inclusive às competições juniores mais importantes do país, como a Copa São Paulo.
Rodrigo Coli