Fonte: Mauro Cezar Pereira
O Flamengo encontrou o formato para a criação da Liga dos Clubes de Futebol, que daria aos participantes a chance de disputar uma competição alternativa e provavelmente mais rentável no período dos Estaduais. O presidente rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, deverá levar o projeto ao seu colega e aliado do Fluminense, Peter Siemsen. É possível, inclusive, que os dois presidentes façam, juntos, uma apresentação pública adiante.
Primeiro foi montado um grupo de trabalho no Flamengo, que subsidiou Bandeira com informações sobre a decadência do futebol do Rio, tanto do ponto de vista esportivo/financeiro quanto na formação de atletas. Em seguida, produziram uma proposta de criação de Liga, um estatuto ideal, também voltado à governança da mesma. Essas duas etapas já foram concluídas e encaminhadas ao presidente flamenguista para apresentá-las ao Fluminense.
Se o parceiro dos rubro-negro no duelo com a Federação do Rio de Janeiro (FFERJ) concordar com o que foi elaborado pela equipe da Gávea, os dois clubes chamarão outros interessados para uma apresentação detalhada. Além da dupla Fla-Flu, o trio curitibano Atlético, Coritiba e Paraná já demonstrou interesse em participar da nova competição que se esboça. Em guerra com a Federação de Minas Gerais, o atual bicampeão brasileiro, Cruzeiro, engrossaria o movimento.
Uma conversa entre Bandeira e Siemsen, estava prevista para esta quinta-feira, inclusive. E não apenas sobre tal assunto. A suspensão do artilheiro Fred pelo tribunal da FFERJ após críticas à entidade também entra na pauta, já que o Fluminense apoiou o Flamengo após a punição ao técnico Vanderlei Luxemburgo, com manifestação conjunta antes do recente Fla-Flu no Maracanã.
O avanço da idéia de uma Liga acontece, curiosamente, no dia da posse de Marco Polo Del Nero na presidência da CBF. E o novo presidente da Confederação talvez não seja um grande adversário da novidade, como se pode imaginar. Ele deverá priorizar as seleções brasileiras em seu mandato. Os clubes esperam dele receber sinal verde. O cartola já ouviu Fla e Flu sobre a Liga, idéia que também apresentaram à TV Globo.
Mas as federações irão se opor. E pedirão o apoio cebeefiano, naturalmente. Del Nero está ciente do crescimento desta ação e o documento agora elaborado funcionaria como uma carta de exigências à Federação do Rio. Obviamente a FFERJ irá contra a competição independente, cabendo à CBF deliberar sobre sua aprovação, ou não. Paralelamente, Michel Assef Filho, advogado do Flamengo, prepara outro passo: a viabilidade jurídica (e não política) da Liga.
Para a dupla carioca o momento é ainda mais oportuno para se livrar do certame promovido pela Federação do Rio. Motivo: nos oito primeiro meses de 2016, Maracanã e Engenhão fecharão para obras voltadas aos Jogos Olímpicos. Forçados a buscar outras praças, Flamengo e Fluminense poderão deixar o Estadual e fazer amistosos no período, caso a nova competição só possa se tornar real em 2017.
Nas conversas da dupla Fla-Flu com CBF e Globo, a rede de TV alertou que saindo do campeonato os clubes abririam mão da quota de televisão (cerca de R$ 7 milhões) referente ao carioca do ano que vem. Siemsen, inclusive, disse no programa Bola da Vez, da ESPN, que os aliados estão dispostos a isso: “Há vezes que temos que dar um passo para trás para darmos dois para frente”.
Por jogo do “Super Series”, realizado em Manaus na abertura da temporada, o Flamengo arrecadou o dobro da média do Campeonato Carioca por partida. No torneio, disputado em janeiro, os rubro-negros enfrentaram Vasco e São Paulo. O sucesso da rápida competição os faz crer na possibilidade de êxito em mais experiências do gênero percorrendo outras cidades do país e do exterior. Na mesma época, o Flumiense jogou nos Estados Unidos, onde também esteve o Corinthians.
Além disso, principalmente no caso específico do Flamengo, cuja torcida se espalha pelo Brasil e é enorme no Norte/Nordeste, tais jogos poderiam alavancar os programas sócio-torcedor nessas regiões. Sem grandes atrativos, especialmente para quem não vive no Rio de Janeiro, o projeto rubro-negro não consegue superar a casa dos 60 mil, número pífio ante sua quantidade de fãs.
A entrada, até aqui improvável, de um grande clube paulista turbinaria a idéia. Dirigentes já conversaram sobre o tema. O Corinthians não se manifestou publicamente. Mas o ex-presidente e atual superintendente Andres Sanchez não foi à posse na CBF, que ele deixou quando a dupla José Maria Marin/Marco Polo Del Nero, seus desafetos, assumiu a Confederação. Num cenário desses não se pode descartar o clube alvinegro.
Já o São Paulo parece distante, como ficou claro na entrevista dada pelo presidente tricolor na quarta-feira, em Montevidéu. Um dos líderes do Clube dos Treze em 1987 e então grande defensor da criação de uma Liga, Carlos Miguel Aidar disse não existir, hoje, espaço para uma. Fica claro que deixar o Campeonato Paulista não passa por sua cabeça. É, quem te viu, quem te vê…
ao mesmo tempo que eu me empolgo com a ideia de uma liga independente, eu percebo como vai ser difícil se livrar desses parasitas da Federação e da CBF, que vão fazer de tudo para manter o poder sobre os clubes.
Mesmo assim me sinto orgulhoso do Flamengo mais uma vez estar liderando uma tentativa de mudança no futebol brasileiro.
Quem sabe por um milagre as coisas não deem certo.