Fonte: Olhar Crônico Esportivo
O carteiro deixou um grande envelope na casa da minha sogra, na cidade, para minha surpresa. Como? Sim, sim, ainda existem carteiros, ainda existe o Correio, se bem que aqui na roça uns e outro nunca existiram – ou temos um endereço urbano ou não existimos.
No alto do envelope estava impresso o escudo do Internacional e dentro um exemplar do Plano Orçamentário 2015. A primeira impressão foi positiva: um folheto bonito, quase uma revista, bem diagramado, bem impresso. Na sequência, uma rápida passagem d’olhos foi o bastante para mostrar que era um bom documento, mostrando o que pensa a direção, os números de 2014 e o orçamento para 2015, com um bom nível de detalhamento.
Numa ação inteligente e simpática (sim, tem isso também, simpatia é coisa boa e todo mundo gosta), a direção do Internacional mandou na frente o documento que foi lançado, oficialmente, na noite de segunda-feira, na apresentação do Portal da Transparência.
Gostei do documento e gostei do lançamento do Portal, que chega em boa hora para o clube e, principalmente, para seus torcedores. Apesar de seu balanço estar no grupo dos que podemos considerar como bons, em termos de detalhamento, o Inter era um dos poucos grandes clubes que não apresentava um link permanente em seu site oficial para o balanço patrimonial ou demonstrativo financeiro. Nem para o último exercício e menos ainda para os anteriores. Essa falha agora foi corrigida e muito bem.
Ao entrar no Portal da Transparência encontramos três caminhos diferentes para informações: Programas de Gestão, Informativos Financeiros e Institucional.
Nesse último, o Institucional, uma informação inédita: a composição do quadro social do clube, mostrando, inclusive, o número de sócios em dia com seus pagamentos. Por exemplo, em 30 de abril último, o número total de sócios era de 107.929 e desses, nada menos que 95.330 estavam em dia com seus pagamentos. Lá estão também como os sócios se dividem entre homens e mulheres e até pessoas jurídicas – ok, só para matar a curiosidade vamos a um aperitivo: 84.484 homens e 23.289 mulheres, além de 156 pessoas jurídicas. Moram fora do Rio Grande do Sul 12.464 sócios, equivalente a 11,55% do total. Na cidade de Porto Alegre o número é de 43.840 ou 40,62% do quadro total. E por aí vai.
Entre outras informações, essa área do Portal informa os nomes dos dirigentes que apresentaram declarações de bens quando eleitos. Essas informações não estão transcritas, mas é bom para o torcedor saber que elas existem.
Informações Financeiras traz os últimos 10 balanços patrimoniais, o que aumenta e facilita o acesso à informação. E traz integralmente o Plano Orçamentário 2015, que apresenta detalhes de receitas e despesas que não constam no balanço.
Vale a pena ler o orçamento do clube com cuidado.
Um comentário sobre a importância do orçamento nos clubes.
Em sua apresentação no último Business FC, Edu Gaspar, ex-jogador e executivo de futebol do Corinthians, destacou a importância de se trabalhar no futebol com o que ele chamou de “a cultura do orçamento”, trabalhar com o budget definido e aprovado previamente pelo clube. Isso pode parecer pouco importante, mas se essa postura criar raízes, realmente se implantar em nosso futebol, muitos dos graves problemas financeiros que afligem nossos clubes deixarão de ser criados. Podemos traduzir “cultura do orçamento” e respeito ao budget por “não gastar mais do que se tem”. E isso, por incrível que pareça, precisa ser aprendido, até um dia, quem sabe, em que esteja incorporado em nossa cultura.
Voltando agora ao Plano Orçamentário 2015 do Internacional – ali estão as diretrizes e possibilidades para esse ano corrente. Claro, algumas previsões talvez não se realizem, tanto para mais como para menos. Todavia, se o plano foi bem elaborado e discutido em todas as diferentes áreas, essas alterações, se forem para menos, poderão complicar um pouco, mas não de forma exagerada.
A exceção a isso é a questão da receita com Negociações de Atletas. Esse é, em minha opinião, o principal ponto fraco do Internacional, que há anos baseia sua operação contando com essas verbas. Para 2015, por exemplo, o clube estima em seu orçamento um total de R$ 69 milhões de reais em transferências, valor superior ao dobro do registrado em 2014 – R$ 30,3 milhões. Essas receitas são muito volúveis, dependem de fatores que fogem ao controle do clube e a dependência delas não deve existir, idealmente, ou ser reduzida ao mínimo. Essa crítica não é exclusiva ao Inter, pelo contrário. Clubes como o São Paulo e o Corinthians têm se mostrado muito dependentes do dinheiro das negociações de atletas.
O Internacional buscou nessa fonte uma contrapartida aos valores menores de direitos de transmissão e patrocínios em relação aos clubes de São Paulo e Rio de Janeiro e a estratégia funcionou muito bem em alguns anos, mas nos anos em que deixou a desejar os resultados ruins acabaram gerando novos custos e endividamento para os anos seguintes.
Considero o Portal da Transparência um grande ganho de qualidade para a gestão do Internacional, principalmente pela postura que ele representa. Com ele e com as práticas adotadas por sua gestão, o clube dá um belo salto rumo à modernidade e a uma operação sustentável em todas as áreas. Acreditem, isso pode valer mais que alguns títulos.
O Relatório de Gestão do Flamengo
Ainda na semana que passou também recebi o Relatório de Gestão do Flamengo, que veio via internet, em arquivo PDF, seguido por uma versão definitiva nessa semana. Esse relatório é maior que o do Internacional, até em função do maior número de áreas cobertas, como os outros esportes, especialmente o basquete. É também um pouco mais completo em algumas informações, como, por exemplo, a constituição dos direitos de transmissão, tema que já comentei há alguns dias. Como o relatório colorado, o rubro-negro também é bem feito, leitura agradável e, o mais importante, igualmente recheado com informações preciosas.
Na versão final não consta o Orçamento 2015, mas ele está disponível no site oficial do clube. Correção: o Orçamento 2015 foi incorporado à versão final disponível no site. Boa medida.
Muito já comentei sobre a atual gestão rubro-negra, então não há realmente muito a falar sobre esse documento, exceto elogiá-lo e esperar que outros clubes sigam o caminho que estão trilhando Internacional e Flamengo.
Nos dois casos, os clubes poderiam e, a meu ver deveriam, ter detalhado melhor a folha de pagamento do futebol, além de agrupar no mesmo bloco os direitos de imagem. Esse detalhamento, inclusive com premiações e direito de arena, só é encontrado no balanço do São Paulo e essas informações fazem falta nos balanços dos outros clubes. Elas permitem, no caso do balanço tricolor, uma visão muito boa, quase completa, sobre o custo real do pessoal do futebol – desde os astros maiores do time principal até o pessoal de serviços gerais. Dependendo da forma como a MP 671 será aprovada e sancionada pela Presidente da República, essas informações serão cruciais, pois uma das contrapartidas da lei é – e muito provavelmente continuará sendo – a restrição de custo da folha do futebol a 70% da receita total do clube.
Por que estou a escrever sobre esses dois trabalhos?
Pelo que ambos têm em comum: transparência de gestão, prestação de contas aos associados, aos torcedores, à imprensa, à sociedade.
Nos dois clubes, os diretores e seus planos são expostos com clareza, o que dá ao torcedor condição de avaliar melhor como está o trabalho da direção.
Ao tornar esses documentos públicos, disponíveis a qualquer pessoa que acessar os sites oficiais, Flamengo e Internacional estão, de certa forma, reconhecendo que o torcedor é o principal responsável pela vida do clube, é o seu real mantenedor.
E a democracia?
Devo recordar, embora desnecessário, que o Internacional é o clube brasileiro mais avançado em termos de democracia, seguido por seu coirmão e grande rival, o Grêmio.
Qualquer torcedor colorado, de qualquer lugar, pode influir na vida de seu clube, a exemplo de qualquer cidadão brasileiro, através do voto.
Um simples torcedor não somente pode votar como também pode ser votado. Claro, não é a festa do caqui e há regras e prazos, como é natural numa democracia. O fundamental, porém, é que o direito existe e está ao alcance de qualquer torcedor.
Como deve ser.
Outros clubes seguem caminhos mais ou menos similares, cada um ao seu jeito, como o Coritiba e o Santos, por exemplo.
Infelizmente, porém, a grande maioria de nossos grandes clubes ainda enxerga no sócio-torcedor apenas um componente a mais na receita do clube, e isso fica claro nas declarações de dirigentes os mais diversos, sempre enchendo a boca para falar dos planos em ter tantos sócios e atingir tantos milhões de receita. Sobre votar que é bom e justo, entretanto, ninguém fala.
Precisamos avançar na qualidade e transparência de gestão, sem a menor dúvida, mas precisamos também avançar na democratização real de nossos clubes.
A História nos mostra que organismos sociais fechados, sem renovação, sem democracia, acabam morrendo ou se deteriorando e perdendo significância. Clubes de futebol não estão imunes a essa verdade.
O voto seria muito importante também no alavancamento to st do mengao sou sócio a quase três anos mas tem muita gente que esta opção estivse no pacote iria aderir . mas nossa diretoria logo colocara isto em pauta eu acredito só que para votos VC terá de ter pelo menos dois anos de st , neste caso eu já poderia votar. St 413844
Isto para acontecer tem que mudar o estatuto do clube, antes tem que encaminhar a proposta que tem que conter uma quantidade de assinaturas dos associados para o conselho deliberativo que vai analisar, pode conter modificações no texto e depois entrar em pauta para ser votada pelo conselho, isto se a comissão aprovar a proposta. Não sei se todo o tramite descrito por mim está correto mas é + ou – isto. Então não é tão simples assim.
Sou sócio torcedor, e as duas coisas que exijo são títulos e direiro de voto.