O time é passageiro, o clube é permanente…

Fonte: Blog Olhar Crônico Esportivo

Escrevia sobre o avanço da transparência em nossos clubes, tímido avanço, mas um avanço, o que é sempre melhor que nada, mas parei quando li a coluna dominical de um de meus velhos ídolos – Fernando Gabeira. Tenho por ele imenso respeito e algumas afinidades no pensamento político, desde os anos 70 até hoje. Independentemente de ser inteligente e um arguto observador do comportamento e da política, Gabeira escreve muito bem. Combinação “complicada”… Não bastasse tudo isso, ainda é o pai da brava e bela Maya.

Ontem, porém , ao ler sua coluna no jornal O Globo (escrita ainda antes da derrota para o Avaí) levei um susto, acompanhado de imediato por total discordância. Não, não, na parte política do texto falando sobre o Brasil não discordei, pelo contrário, concordei, mas discordei a respeito do que ele escreveu sobre o seu time, o Flamengo, e que é válido para o futebol como um todo.

Gabeira diz que “vai dar um tempo na relação” com seu time, trocando o jogo dos domingos por vídeos de clássicos europeus. Antes disso, ele escreveu algo que sintetiza à perfeição o pensamento de grande parte da torcida brasileira e também de muitos membros da imprensa: “…é difícil ganhar um certame nacional sem formar um time”.

A mensagem oculta nessa frase é, paradoxalmente, muito e facilmente visível: tem que se entrar num campeonato para vence-lo e para isso é preciso ter um time.

Duas verdades naturais, óbvias até, mas que precisam ser pensadas.

Torce-se por um time ou por vitórias desse time?

Nossa relação com nosso time do coração não deveria ter alguma semelhança com aquelas velhas, célebres e pouco praticadas frases casamenteiras, como “na saúde e na doença” e, especialmente aplicável ao futebol, “na pobreza e na riqueza”?

Quem acompanha o futebol em outros países, como Inglaterra e Alemanha para citar somente dois, sabe que a relação dos torcedores ingleses e alemães com seus times é total e mesmo em longas marés baixas, os estádios permanecem cheios. A relação não é abalada e é bom e saudável que assim seja.

Torcemos todos por um time, mas, na verdade, nós torcemos por um clube. O time é passageiro, o clube é permanente. O mesmo ocorre com os ídolos, que vão e que vêm no decorrer da vida, uns mais vencedores, outros nem tanto. A torcida se renova, lei inexorável da vida, a única absoluta, e a cada temporada a torcida do mesmo time, mesmo clube, é sempre diferente na sua composição. Alguns torcedores partem, outros chegam, mas a torcida permanece, não pelo time “de plantão”, mas pelo clube.

Qual é a maior responsabilidade de um dirigente? De um grupo dirigente?
Ganhar títulos?
Ou manter o clube forte, saudável?
Radicalizando: ou é manter o clube vivo?
O título que não se conquista hoje, por conta de dificuldades de momento ou de fase, poderá ser conquistado no futuro. Isso, naturalmente, se o clube estiver vivo.

Acompanho a vida dos clubes brasileiros há um bom tempo através dos seus números. Não a quantidade de títulos ou gols, mas a quantidade de recursos e a qualidade desses recursos. Dá para dizer, sem medo de exagero, que a situação e as perspectivas de nossos principais clubes não é nem um pouco animadora nesse Ano da Graça de 2015. Nem mesmo a do Flamengo, pois, por melhor que o clube esteja hoje em termos contábeis e econômico-financeiros, vive ainda uma situação de grande risco. Os elogios à gestão de Bandeira de Mello talvez sejam bonitos e agradáveis aos olhos e ouvidos, mas eles não pagam contas e não asseguram o futuro do clube, como bem sabe o presidente e seus companheiros de direção. Triste e perigosa ilusão acreditar em palavras e desprezar o trabalho duro e extremamente chato de conter despesas, pagar contas há muito vencidas, limpar a casa.

Todo mundo gosta de uma casa confortável, panelas cheias de boas comidas, geladeira abarrotada, inclusive de saborosas bebidas, tudo limpinho, brilhante, sem pó e sem lixo nos cantos. Melhor ainda com um carrão bonito na garagem. Ah, isso é uma beleza! Poucos, entretanto, veem e valorizam o trabalho feito para a casa estar daquele jeito. E o carro, bom, se ele não estiver pago, estará consumindo preciosos recursos do dia a dia. Digamos, então, permanecendo nessa analogia, que a casa Flamengo está em processo de limpeza. Até há dinheiro para abastecer a geladeira, mas ainda há coisas mais urgentes a serem pagas, essenciais para a sobrevivência e para um futuro mais risonho. Mas não há dinheiro para um carrão zero, todo equipado. O carro, por ora, tem que ser apenas bom e confiável o bastante para não deixar seus ocupantes no meio da rua a caminho do trabalho.

Tudo que foi dito acima é aplicável hoje a todos os grandes clubes brasileiros. Não há exceções, mas há variações na quantidade e intensidade dos problemas. Uns mais, outros menos, mas todos vivendo situações idênticas.

Um jogador de “apenas” 500 mil por mês custará em um ano algo como 8 a 9 milhões. Pode custar muito mais, dependendo de ter ou não luvas a pagar. Se um time tiver um só jogador nessa categoria é grande o risco de problemas. Nada mais natural que a turma dos “cinquentinha” jogar a responsabilidade sobre as costas do “quinhentão”. Especialmente nas más fases, que acontecem, como sabemos todos. Esses desequilíbrios costumam custar muito caro pelos problemas de relacionamento e pelo rendimento do grupo.

Tradução: então, se é para fazer loucura, que seja em “grande estilo”. Que venham três, quatro, cinco “grandes” nomes.

Dirigentes são torcedores e muitas vezes, quase sempre, agem como torcedores e não como dirigentes. Acreditam que a chegada de Fulano, Beltrano e Sicrano dará ao time consistência e qualidade. Acreditam que todos vão se “encaixar” sob o comando do “professor” e desse enlace resultarão vitórias e títulos. Ora, vitórias e títulos significam mais dinheiro e com esse dinheiro a mais será possível pagar as contratações e, principalmente, os salários dessa turma.

Triste e perigosa ilusão.

O mais comum é todo o investimento, ou melhor, toda a despesa, todo o gasto feito trazer uma única consequência: o brutal aumento do endividamento. E, com isso, o futuro do clube fica mais e mais comprometido.

Em sua coluna de ontem, Fernando Gabeira até diz o que muitos torcedores também dizem, que talvez fosse bom cair para a segunda divisão para o choque de realidade agir de forma benéfica sobre o clube. Ora, mas não há garantia nenhuma disso. Grandes clubes já caíram e voltaram no ano seguinte, mas nada indica, até hoje, que algum deles tenha realmente aprendido as lições da queda. E se alguma gestão aprendeu, a seguinte esqueceu.

É compreensível a chiadeira dos torcedores e é compreensível o receio de uma queda de divisão, mas nada disso justifica que a direção do Flamengo, o clube citado no texto que originou esse post, deva ceder às emoções e mudar sua política cautelosa e correta.

Nesse momento em que as pressões começam a se avolumar, resistir é preciso.

O momento é de pensar no clube em primeiro lugar. Isso vale para todos no futebol brasileiro.

Recomendo a todos a leitura da coluna de Fernando Gabeira, não somente a de ontem. Ele é uma das mais lúcidas mentes a analisar o momento político que todos vivemos no Brasil.

Milton Medeiros

Ver comentários

  • Concordo com o autor do texto! É preciso calma e paciência neste momento! Digo a todos que hoje, certamente, sou muito mais Flamengo que brasileiro! Vejo esperança, planejamento, racionalidade, enfim, uma luz no fim do túnel a brilhar no Mais Querido! Com relação ao Brasil, após ler a coluna do Gabeira ontem e outros mais, sobretudo os sérios e imparciais, repito e acredito no que já li: "2015 inaugurará o primeiro de muitos anos sombrios..." Ainda bem que tenho o Flamengo! Abraço e Saudações Rubro-negras!

  • Ótimo texto...O Clube de Regatas Flamengo é muito mais que um time.Precisamos alavancar o ótimo trabalho feito pela nossa diretoria , para que a mesma possa dar continuidade no belo trabalho sem medo de ser feliz.

  • Belo texto, eu torço para o Clube de Regatas do Flamengo, mas tem pessoas que torcem para o time do Flamengo e querem jogadores a todo e qualquer sem se importar com que pode acontecer posteriormente. Veja atualmente, as situações de vários clubes que para agradar seus torcedores? contrataram de forma desenfreada estando com sérios problemas para honrar os compromissos assumidos. Repito, como torcedor do Clube de Regatas do Flamengo, quero um Clube forte.

  • o problema ta no tecnico,que cria ilusão dizendo que vai brigar por g4,esse time até pode chegar lá se ser bem treinado e não inventar..ma F1 o piloto não pode querer andar mais que o carro,senão o carro sai de traseira por exemplo e ele não termina a prova.esse time não pode querer jogar o que não sabe,tem que fazer o feijão com arroz MAS FAZER BEM FEITO

  • Perfeito! Jogadores de ponta não garantem títulos... mas seguramente garantem dívidas. Veja o Real Madrid este ano, não ganhou nada. Barcelona no ano passado, nada. Manchester, ha algum tempo, nada... Vamos com calma...ninguém falou que seria fácil. Vamos treinar, treinar e treinar... e se vier alguém pra somar, melhor... SRN. Flamengo sempre!

  • Utopia! Precisamos pagar dívidas e manter o clube vivo e saudável! Entretanto, o CR Flamengo, precisa de um time! Precisa de técnico! No mínimo! Tem muito time com 1/10 do orçamento do fla, jogando minimamente um fut organizado, vide Goiás e Sport... desse jeito não dá! Time mal treinado, sem brio, sem raça! Pra mim, o pior eh a soberba de alguns atletas e do treinador, falando iremos brigar por títulos! Deveriam ser mais sinceros conosco, pq pra mim isso eh mal caratismo... enganar o torcedor!

  • Pode ser q o Elias venha, as Gayvotas estão praticamente expulsando ele, mas ele quer q a diretoria assuma sua saída por questões financeira, senão a torcida terá ele como mercenário q abandonou o barco, o Luxa tem q colocar o Samir na zaga, o Marcelo éo pior zagueiro do elenco, no meio não temos nenhum bom jogador, 2ºvolante bom a gente não tem, Mugni, Thalisson, Arthur Maia, Marcelo, esse pessoal não tem condições d vestir o manto, o Fla não deveria nunca + contratar jogadores a nível d 3º divisão, SRN

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