É preciso admitir grandeza

Eu cresci ouvindo histórias do grande time de futebol montado pelo Clube de Regatas Flamengo. Um time estelar, repleto de craques e que movia multidões todos os domingos pela simples esperança que todos tinham de ver, com seus próprios olhos, um ou dois gols de falta que Zico marcaria naquela tarde. Ninguém sabia, mas todos tinham certeza.

Certa vez, ainda pequeno, perguntei ao meu velho pai como era aquele time do qual ele tanto falava, e tanto se orgulhava. A história começou a ser contada a partir dos olhos marejados do jovem senhor que presenciou a ascensão de um dos maiores esquadrões já vistos em relvados tupiniquins. Uma mistura clara de saudade e decepção. Um time repleto de ídolos em todas as posições possíveis.

No gol, um tal de Raul Plasmann, que segundo me foi doutrinado: “Era o melhor goleiro que esse país já teve, com algumas partidas regulares e outras espetaculares”. Laterais com Leandro, que meu pai classificava como “meio louco, mas que jogava muita bola, melhor lateral direito da história do futebol” e o Maestro Júnior “depois de Zico, o maior”. Uma zaga que tinha Marinho e Mozer: “muito bons zagueiros, infinitamente superiores a Lúcio e Juan (defensores da Seleção na época). Na volância, um verdadeiro oásis de criação aliada à força defensiva: Adílio e Andrade. “Quando ninguém fazia nada que prestasse no jogo, você podia contar que um deles iria arrumar ao menos um gol”.

O maior camisa dez da história do Brasil. “Isso eu nem vou discutir meu filho, eu vi ele jogar. Se você gosta do Messi hoje, é porque não imagina o que era o Zico jogando”. No ataque Lico e Nunes: “Lico jogava bem. Nunes era um cabeça de bagre que só deu um drible na vida. Mas aquele único drible nos rendeu um Brasileiro. O senhor das decisões”. Um time magistral, que desenvolvia a pelota com a leveza de uma pena. Pena para os adversários, utopia da Nação. Aposto que o leitor também ouviu a mesma história, ainda que com uma diferença ou outra.

Agora, após 34 anos daquele time, só o que resta é a decepção do meu pai, e a minha também, por nunca mais ter visto um relance de brilhantismo vestindo uma camisa Rubro-negra. Nasci em 1992, ano do Penta, porém minha primeira memória sobre o Flamengo foi a comemoração do título da Copa Mercosul de 1999. O que entristece é ter passado os meus pouco mais de 22 anos de vida, 15 como torcedor consciente, na esperança de ver um time minimamente parecido com aquele o qual sonhava quando criança. Aborrece ter visto lances bizarros, como um gol contra de Fabinho, após Júlio Cesar chutar a bola acidentalmente em seus córneos, e ter de achar isso natural ao longo dos anos. Afinal, quem sabe no ano que vem não melhora? Não, não melhora.

O Flamengo se acostumou a disputar regularmente a fuga do rebaixamento, com exceção de uns cariocas insignificantes e um brasileiro improvável, e tem comemorado tais fugas como vitórias nas temporadas, ano após ano. Tudo o que o Flamengo conquistou de 1993 até hoje, foi pura e simplesmente adquirida pelo peso da camisa, da simples existência da Instituição Clube de Regatas Flamengo.

Eu, e outros jovens torcedores, passamos grande parte de nossas vidas colhendo o que fora plantado no passado por aquele time de 1981, mas o tempo passa e estamos chegando a uma vertente. Ou o Flamengo começa a plantar títulos, conquistas e ídolos ou não teremos o que deixar para nossos filhos colherem.

Como explicar ao meu filho o que me motiva a ser Flamengo, além de “Foram as histórias do seu avô”, algo que nem sempre agrada ao jovem em fase de doutrinação. É isso que faz com que rubro-negros cada vez mais jovens decorem a escalação de Barcelona, Real, Bayern e Chelsea mas ao mesmo tempo não tenham interesse em Ayrton, novo reforço da Gávea. Afinal, dá pra culpar a criança?

Portanto, apesar de compreender e concordar com as políticas administrativas da Chapa Azul (sou impetuoso apoiador da administração Bandeira), entendo que 2015 deve ser o ultimo ano de tamanha penúria. Que a partir de 2016 possamos sonhar com títulos, a começar por um Brasileiro. E por favor, nada de “com esse elenco dá”. O que todo torcedor do Flamengo espera desde 1981 é ouvir “com esse elenco, tem que dá”. Não importa sonhar com classificação à Libertadores. O campeão do Brasileiro tem vaga garantida.

Ps: Linda canção da torcida. Sobre o que nossos descendentes cantarão daqui a 30 anos?

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Opiniões do Eyer

GOL: Emerson Sheik. Chegou e tomou a titularidade com dois treinos e um bom jogo.

FALTA: Paulo Henrique Ganso. Os rumores falam em 20 milhões. Guerrero custou 12 milhões, então eu não entendo a lógica da contratação. Existem outras opções, e particularmente prefiro o Lucas Lima.

Impedimento: Bastou elogiar e o Eduardo da Silva joga uma bolinha da mais cafajeste.

Cartão Amarelo: Colômbia, Paraguai e Peru. Por favor, colaborem… porque Pará, Marcio Araújo e Eduardo da Silva no mesmo time foi demais pra minha visão. Volta Guerrero, Cáceres e Armero !

Cartão Vermelho: Leonardo Moura. Cada um decide a sua própria vida, mas flertar com o inimigo do ex é a atitude mais canalha que uma baranga pode ter. Nada que não esperássemos da Vasca, surpreso quanto ao moicano. Após o anúncio e a pressão, amarelou. Ex-ídolo, sem mais.

Nostalgia: Lembrando do time de 81, e comparando com o atual. Saudades ou masoquismo?

Minuto de Silencio: Carlinhos. Nos encontraremos de novo. Mas não agora, não agora. (Alguém lembra do filme Gladiador?)

Bate Pronto: Everton ou Cirino?

SRN, Luis Eyer.

luis.eyer@colunadofla.com

Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.

Coluna do Flamengo

Ver comentários

  • O Time do Flamengo de 1981 foi o melhor que eu pude ver jogando e torcer. Acrescentaria ao grupo, Tita e Júlio Cesar, Rondinelli, Carpegiani e Cláudio Adão, que não estiveram em 81. Olha que vi o Mengão de 1987 (maravilhoso), o Cruzeiro de Tostão e Dirceu, o Botafogo de Gérson, Jair e Cajú, o Palmeiras de Ademir da Guia, o Bangu de Paulo Borges e Aladim, o Náutico de Nado, Nino, Bita e Lala, o Inter de Falcão, o Guarani de Careca, o Corinthians de Rivelino e a Máquina Tricolor. Praticamente não vi o Santos com ele e Coutinho, nem o Bota de Garrincha. Era só alegria (talvez alguns raros tropeços). Muitos dos grandes momentos do Mengão aconteceram nos pés daqueles gênios.
    Entretanto, não poderia dizer que o melhor camisa 10 da história, mas foi o grande Zico. Talvez Zico tenha sido o “rei do Maracanã”. Não vi jogando, nem Evaristo, nem Zizinho.
    Vi um pouco do futebol de Nunes e digo que não foi, nem de perto, o cabeça de bagre que o seu pai mencionou, obviamente brincando com exagero. Nunes era o típico centro-avante, rompedor e eficiente. No Flu, sem ter feito tantos gols, possui a invejável média de 0,7 gols por partida e no Mengão, com 214 partidas, fez praticamente, 1 gol a cada 2 jogos, em média.
    Também gostaria de lembrá-lo (estes você viu) dos 2 últimos emocionantes tri-campeonatos cariocas em que, num deles, ficou imortalizado o gol de Pet, bem como o título brasileiro de 2009 que, se não foi tão empolgante, teve muita raça e emoção.

    • As palavras, histórias, são do meu pai, então eu me abstenho de concordar ou discordar de você meu amigo rsrs
      Quanto ao gol do Pet, o Brasileiro de 2009 (Eu fui ao Maraca naquele Flamengo x Grêmio) e as Copas do Brasil de 07 e 13... Eu curti cada título, vibrei com cada gol (Cariocas não significam muita coisa pra mim, ainda assim os recebo de bom grado).
      O que me incomoda é que estes títulos foram oásis de ilusão num deserto de 15 anos. O Flamengo deve disputar esses títulos todos os anos, ainda que não conquiste um ou outro. O Flamengo tem que parar de comemorar fuga de rebaixamento e começar a se frustrar sendo o segundo ou terceiro colocado, como a exemplo de Bayern, Real e todos esses clubes que não conseguem se imaginar perdendo grandes títulos. Pelo menos essa é a minha opinião. Um grande abraço, SRN!

      • OK Luis Eyer! A opinião é soberana. Não vamos discutí-la. O gol do Pet a que me referi foi aquele contra o Vasco (não sei se você se referiu a este).
        Também acho que o nosso Mengão deve brigar sempre pelas primeiras colocações, em qualquer torneio. É a vocação deste clube. SRN!!!

        • Exatamente meu amigo !! Tem que disputar todos os títulos, todos os anos.. E não fazer papel de coadjuvante e esperar um milagre como em 2009. Um abraço, SRN!
          Ps: O gol foi esse mesmo, do Tri em 2001 :)

    • As palavras, histórias, são do meu pai, então eu me abstenho de concordar ou discordar de você meu amigo rsrs
      Quanto ao gol do Pet, o Brasileiro de 2009 (Eu fui ao Maraca naquele Flamengo x Grêmio) e as Copas do Brasil de 07 e 13... Eu curti cada título, vibrei com cada gol (Cariocas não significam muita coisa pra mim, ainda assim os recebo de bom grado).
      O que me incomoda é que estes títulos foram oásis de ilusão num deserto de 15 anos. O Flamengo deve disputar esses títulos todos os anos, ainda que não conquiste um ou outro. O Flamengo tem que parar de comemorar fuga de rebaixamento e começar a se frustrar sendo o segundo ou terceiro colocado, como a exemplo de Bayern, Real e todos esses clubes que não conseguem se imaginar perdendo grandes títulos. Pelo menos essa é a minha opinião. Um grande abraço, SRN!

      • OK Luis Eyer! A opinião é soberana. Não vamos discutí-la. O gol do Pet a que me referi foi aquele contra o Vasco (não sei se você se referiu a este).
        Também acho que o nosso Mengão deve brigar sempre pelas primeiras colocações, em qualquer torneio. É a vocação deste clube. SRN!!!

        • Exatamente meu amigo !! Tem que disputar todos os títulos, todos os anos.. E não fazer papel de coadjuvante e esperar um milagre como em 2009. Um abraço, SRN!
          Ps: O gol foi esse mesmo, do Tri em 2001 :)

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