Fonte: Blog Ser Flamengo
Nos dias atuais, qualquer torcedor do Flamengo independente da idade, afirma sem dúvidas que, quem viu a geração de 1980 – que na verdade começou seu caminho nos anos 70 – teve muita sorte. Na imagem acima está Rondinelli, marcando o gol que deu ao Flamengo o título carioca de 1978. Mas a imagem vai além de uma “simples” cabeçada, que cortou a zaga do Vasco e morreu no fundo do gol de Leão. Aos 41 do segundo tempo, daquele dia 3 de dezembro de 1978, as mais de 120 mil pessoas presentes ao Maracanã, viram um verdadeiro momento de raça que ficou marcado na história do Flamengo. Não à toa, Rondinelli até hoje é conhecido como Deus da raça.
Raça. Se pesquisarmos em um dicionário o significado da palavra Raça não estará diretamente ligado ao esforço físico e entrega no esporte ou qualquer âmbito da vida. Mas, para tratar do assunto que todos nós rubro-negros estamos cansados de discutir, usaremos o termo em questão.
Neste momento eu pergunto a você que lê: qual foi o último jogo do Flamengo que você assistiu e julga ter sido ótimo? Aquele dia que você viu o Flamengo se entregando durante o jogo inteiro, suando sangue a cada bola e os jogadores querendo vencer a qualquer custo e achando o 1 a 0 um resultado pouco importante. Você escolheu o seu. O meu foi: Flamengo 3 x 0 Cruzeiro, 28ª rodada do último Campeonato Brasileiro.
Com isso, eu abro a discussão junto a você, torcedor. Talvez nós tenhamos pensado no mesmo duelo, talvez não. Mas o que importa é que chegamos a um denominador comum: aquele dia teve raça. Teve raça, teve entrega, teve vontade de vencer e de fazer a torcida feliz. Uma das coisas que faltam neste Flamengo atual. Um Flamengo atual que vive um problema que não é tão atual assim. Enfim temos uma diretoria que luta pelo bem do clube. Que mesmo com seus erros, que são naturais, vem dando uma aula de gestão na administração e organização do Flamengo. O único erro deles: a falta de experiência para o futebol.
O clube é de regatas como o nome diz, mas o carro-chefe é o futebol. É claro que cada conquista em outros esportes como o basquete, por exemplo, é comemorada. Mas se o futebol não vai bem, a Gávea não “sorri”. E quando se percebe que o problema para o não avanço do futebol é uma certa falta de reciprocidade, os ânimos exaltados são totalmente plausíveis.
O que houve com o futebol de Everton, Marcelo Cirino, Canteros, Paulinho, Gabriel? A turma que iniciou 2015 como uma esperança ao torcedor. Iria trazer mais velocidade e habilidade a um time que já tinha o contra-ataque como proposta. Pelo menos por enquanto, ficou apenas na promessa. De início, Vanderlei Luxemburgo era o problema. Foi embora. Antes de ir, Luxemburgo havia pedido a “re-contratação” de Jayme de Almeida. O mesmo retornou e viu Cristóvão Borges ser anunciado e vir para tentar apagar o fogo. Ele veio, treinos diferentes, e como sempre acontece com todo treinador novo que surge, aquela velha esperança do coração rubro-negro, que é maior que o coração de uma mãe, pois até hoje idolatra Obina e diz que foi melhor que Eto’o. Cristóvão chegou, começou a trabalhar, vieram os jogos, duas vitórias seguidas(que até então nem uma sequer o Flamengo tinha) e… o boom. Mas não foi uma bomba. Era e ainda é: o time caiu de novo.
Existe uma tese de defesa para tamanha dificuldade em jogar como um time normal e voltar a vencer? Sim. Eles e nós iremos dizer. Falta a chegada dos reforços. Falta o retorno dos jogadores machucados e dos convocados também. Tudo bem, tese parcialmente aceita. Time desfalcado realmente não consegue render muito. Mas a questão é que hoje, o time atual do Flamengo simplesmente não rende nada. Não há correria, não há marcação, não existem passes certos, finalizações, não existe organização. O que existe hoje é um bando em campo, que toca a bola para o lado e espera o árbitro apitar, para falar uma bobagem qualquer no microfone de uma emissora de tevê ou rádio, ir pra casa e fazer selfie com sua cerveja importada, com seu iPhone caro – se bem que iPhone caro é redundância – e no outro dia… na segunda-feira… bem, é folga, não é? E mesmo quando não há essa folga. Um treino pela manhã e o resto do dia livre. Será mesmo que um trabalhador que não rende em sua empresa, que recebe em dia, tem essa mesma vida mansa que um jogador de futebol que ganha provavelmente 50 vezes mais que ele? Provavelmente iremos concordar que não.
E agora eu volto lá no assunto do Rondinelli e sua raça e faço uma comparação direta ao torcedor que tem o espírito Rondinelli, se assim podemos dizer. A torcida do Flamengo em sua maioria é “povão”. É aquele cara que mora no Rio de Janeiro e, dependendo do bairro, vai a pé ao Maracanã. Não importando dia, hora ou clima. É aquele cara que sacrifica alguma responsabilidade de seu dia-a-dia e se manda para outro estado só pra ver o Flamengo jogar. Em muitos casos, fica sem seu emprego, mas faz o impossível para estar no estádio vendo o Flamengo de perto, o apoiando e incentivando até o fim da partida.
Talvez se cada jogador do elenco rubro-negro põe as mãos na cabeça e reflete um pouco sobre isso, ele vê o desprezo que passa a esse torcedor. Mas não apenas o jogador. Afinal, para quê serve o Rodrigo Caetano, gerente de futebol do Flamengo? Fala mansa e serenidade a todo o tempo, são suas características maiores. Mas e quanto a tudo isso? Quanto a essa bagunça que reina no futebol do Flamengo? Não há pulso para cobranças aos jogadores? Ou ele acha que tudo está em perfeita ordem? Porque o iPhone de um Anderson Pico, é o salário de um torcedor para sustentar sua família no mês inteiro. Porque o boné de aba reta de um Marcelo Cirino e de um Pará, é a grana do torcedor para comprar seu pão durante o mês inteiro. Ah, e o que poderíamos chamar de mascote deste elenco que é sua cerveja importada, é o dinheiro que esse torcedor gasta pra sair do Rio de Janeiro e ir até o Mineirão.
Cerveja importada, nacional, de beira de esquina, seja lá de onde for. Cada ser humano tem direito a usufruir de seus bens num momento de folga. Desde que isso não o atrapalhe em sua vida profissional/pessoal. Mas… o que estariam comemorando os jogadores rubro-negros com suas cervejas? A vaga na zona do rebaixamento? É algo para esses mesmos refletirem. Pois enquanto eles se deleitam num domingo pós-jogo, há uma imensidão de torcedores em suas casas, sofrendo pós-vexame.