Fonte: Site Oficial Flamengo
No início do mês de junho, o conselheiro José Rodrigo Sabino foi anunciado como novo vice-presidente de Marketing do Flamengo. Com 42 anos, o dirigente é o responsável pela diretoria de marketing da Lafarge Brasil. Graduado em Economia pela UFRJ e MBA pela Kellogg School of Management (IL, USA), tem 19 anos de experiência em diversos cargos executivos no Brasil e nos Estados Unidos.
Antes da Lafarge, o profissional trabalhou nas empresas Diversey, Braskem, DuPont e Aracruz Celulose. Hoje no Flamengo, o rubro-negro Sabino conta que realiza um sonho de infância, elogia a gestão austera e transparente do clube e analisa o Programa Nação Rubro-Negra.
Confira a entrevista de José Rodrigo Sabino na íntegra:
Avaliação do Nação Rubro-Negra
– Acho que o programa de sócio-torcedor até agora é bom e não é à toa que é, em termos de faturamento, o número 1 do Brasil (nos últimos 12 meses). Vemos muita gente questionando e comparando o número de sócios-torcedores com outros clubes mas, em termos de receita, o programa rendeu tudo que era esperado, desde o início. Temos que, de alguma forma, demonstrar ainda mais os benefícios que os sócios-torcedores podem ter, que não necessariamente frequentam os jogos no Maracanã. Vamos estudar o que podemos fazer para, pontualmente, fazer o programa ser ainda mais atrativo para os sócios-torcedores. Os pontos em que podemos melhorar estão mapeados, sabemos que existem. Temos oportunidades de mexer, de novas melhorias, e isso será feito gradualmente, mas temos que entender que leva tempo para fazer bem feito. Temos muitas coisas muito bacanas no programa e outras que as pessoas às vezes nem têm conhecimento e por isso não usufruem de todos os benefícios.
Contratos de patrocínio em meio à crise econômica
– Falando pelo lado positivo: o Flamengo é hoje a camisa mais valorizada do mercado brasileiro e conseguiu estabelecer uma relação de confiança com os investidores, parceiros e patrocinadores. E a tendência é continuar e aumentar cada vez mais. Do lado do mercado, a economia está ruim, para todos os segmentos da indústria, não só para o futebol. E para o futebol em especial, a gente entende que estamos em um momento das denúncias contra a FIFA, discussões que envolvem CBF, federações. Temos muitos clubes brasileiros com dificuldade em trazer patrocínio. De modo geral, o ambiente está conturbado para os clubes. O que podemos fazer nesse momento é tentar estreitar ainda mais a relação com os nossos parceiros atuais, identificar potenciais interessados, para tentarmos, nos próximos seis meses, fechar todos os patrocínios da maneira que esperamos. Hoje trabalhamos com uma relação de potenciais parceiros com quem queremos trabalhar, mas obviamente valorizando nossa camisa. Não é porque nossos contratos vão encerrar que vamos aceitar uma proposta que não é interessante para nós, só para dizer que a camisa está sendo ocupada.
Patrocinadores e parceiros
– A camisa é limitada. Hoje, todos os espaços da nossa camisa estão ocupados. Pode ser até que, de uma maneira criativa, a gente encontre outra coisa. Mas se ficamos limitados a isso, limitamos nossa receita. Então, o que temos trabalhado muito é na questão de identificar outros parceiros, que queiram ter uma relação com o Flamengo que não seja necessariamente na camisa. O clube tem hoje mais de 30 parceiros nesse sentido, que vão desde permutas de produtos, projetos incentivados, investimentos menores… e como contrapartida, o Flamengo tem ingressos, camisas, ação social, envolvimento de atletas, mídia digital, propriedades que são interessantes para os nossos parceiros. Mas a camisa, sem dúvida, é o que desperta maior visibilidade de todos. Dependendo do tamanho do nosso parceiro, ele não tem R$30 milhões para um patrocínio master, mas temos parceiros com menos de R$100 mil investindo no Flamengo. Por um lado, é aumentar o leque de propriedades que podem ser oferecidas; por outro, é para os parceiros que já estão ali ampliarem a forma de exposição. A ideia é que com esse tipo de trabalho, a gente consiga mostrar o valor do Flamengo, o benefício para os nossos clientes, em termos de aumento de vendas, de visibilidade, de atrelar a marca deles a uma marca forte e séria, com gestão responsável, com paixão. Esse é o caminho. A criatividade do nosso lado não tem limite, assim como podem vir dos parceiros também.
Implementação de novos projetos
– Infelizmente, a situação financeira do clube hoje ainda não nos dá uma sobra de caixa para fazer uma série de ações que gostaríamos. Nessas duas últimas semanas, recebi diversas ideias e quero mais é que vão para frente, mas existem limitações. Para qualquer ação, são exigidos recursos, tempo, trabalho da nossa equipe. Muitas vezes temos que priorizar ações que tenham maior impacto e velocidade de implementação. Não conseguimos fazer tudo que queremos, mas pouco a pouco vamos avançando nesse sentido.
Importância de uma gestão transparente e responsável
– Tem muito tempo em que trabalho em empresas grandes, multinacionais, e cada vez mais eu me convenço de que quando uma pessoa vai colocar dinheiro em uma empresa, até investidores estrangeiros, ela não está muito preocupada se o retorno será 1, 10, ou 50%, porque no final das contas, tudo é uma métrica de quanto ela vai investir e quanto terá de retorno. O retorno que o investidor terá, ele adequa: seja em prazo, no valor investido, como pode capitalizar de outra maneira. O mais importante, que eu vejo muitas vezes para a decisão de fazer ou não um investimento, é a previsibilidade e a estabilidade. E hoje o Flamengo é um clube que realmente pode entregar confiança e estabilidade nos investimentos. Quando a gente tem esse reconhecimento e essa gestão tem o retorno externo, de ser realmente comprometida, preocupada, responsável, cumpre com o que promete, isso tende a ter um impacto muito grande na negociação. Não é por causa disso que todas as empresas irão querer investir no Flamengo e não vão querer investir nos outros clubes, porque infelizmente não é assim. Eu gostaria que fosse. Mas sem dúvida, entre investir em um clube responsável como o Flamengo ou investir em um clube que tenha uma gestão menos transparente, o Flamengo sai em vantagem.
Maior desafio daqui para frente
– Temos eleições no final do ano e não posso falar a longo prazo. Mas pensando que temos seis meses de trabalho, agora é focar no que achamos que pode ter maior potencial de retorno. Os dois principais, na minha opinião, são a questão dos patrocínios e o programa de sócio-torcedor. Os dois são a grande alavanca que temos para poder ter um faturamento ainda maior. Na questão do patrocínio, ainda adicionaria aí a questão de projetos incentivados, que o clube tem dentro dos esportes olímpicos. Temos aí uma possibilidade muito grande, principalmente para as empresas que não tem verba livre para investimentos e que podem se utilizar da Lei do Incentivo. Costumo brincar que no Flamengo não tem tempo ruim. Estamos sempre dispostos a conversar e encontrar uma maneira de gerar contrapartida para qualquer tipo de investimento que faça sentido para a empresa e para o clube, de associarem suas marcas. Temos um grupo de trabalho com muita flexibilidade e vontade de fazer as coisas bem feitas.
Diversificação de fontes de receita
– Quando você pega os melhores casos dos clubes lá de fora, que têm maior faturamento, a televisão normalmente não passa de um terço das receitas e é assim no Flamengo também. Esse foi o caminho que a gestão tentou sempre seguir, equilibrando TV, patrocínio e bilheteria. Eu adiciono aí também licenciamentos, lojas oficiais e projetos incentivados, áreas que o clube ampliou enormemente. O caminho é esse. Em termos de poder de negociação, valorização de sua marca… Essa diversificação também ajudou o Flamengo a praticamente triplicar seu faturamento em dois anos.
Grandeza nacional do Flamengo
– O Flamengo tem a felicidade de ser, de fato, o único clube nacional do Brasil. Isso só dá alegria para nós por ter chegado nesse patamar, e nos dá uma responsabilidade maior para o plano de sócio-torcedor, que normalmente está muito atrelado ao estádio. Mas podemos usar essa grandeza para gerar fontes de receita, não só com sócio-torcedor mas também com uma série de iniciativas, com lojas oficiais e produtos. O Flamengo é disparado o clube com maior número de praças em que são exibidos seus jogos pela TV. Tudo isso permite que a gente invista no nosso torcedor off-rio e ao mesmo tempo tem a valorização por termos essa abrangência nacional. Não tem fórmula mágica, e a torcida do Flamengo tem sempre uma expectativa gigantesca, que seja o maior clube do mundo e ganhe todos os títulos todos os anos. E é isso, faz parte. Sou assim também. Mas nem sempre a gente consegue. Então nosso objetivo é trabalhar muito para cada vez mais entregar resultado para os torcedores.
Futuro do clube
– Posso dizer, sem dúvida, para os próximos anos, que se a gente continuar com esse modelo de gestão sério, o distanciamento que o Flamengo terá para os outros clubes será enorme. E quando há esse distanciamento, em questão de gestão e faturamento, é muito provável que o Flamengo seja um time muito competitivo e muito vitorioso. Não dá para prometer todos os títulos do mundo, porque há uma série de variáveis no futebol que não conseguimos controlar. Mas com esse trabalho sério, a tendência é criar um distanciamento enorme de outros clubes no Brasil, que não têm essa preocupação com transparência nem a felicidade de serem Flamengo, o que também faz toda a diferença.
O que é trabalhar para o Flamengo
– Quando recebi esse convite, até conversei com a minha esposa que provavelmente faltaria um tempo para casa (risos). Quando você é criança, você tem um sonho: de ser bombeiro, astronauta… Eu, como sempre fui ruim de bola, sempre sonhei em ser dirigente do Flamengo. Então é a realização de um sonho poder ajudar meu clube. E, sem vaidade, querer fazer o melhor possível pelo Flamengo. Muitas vezes, olhamos de fora e pensamos ‘porque não fazer isso, porque não fazer aquilo’, criticamos. Mas aqui de, dentro é diferente, conhecemos tudo e damos nosso melhor para melhorar. Minha expectativa é enorme de poder fazer o melhor possível e me dedicar ao Flamengo.