Fonte: República Paz & Amor
Quando abri meu tiranossáurico laptop para escrever esse post, dois títulos me vieram à cabeça: o primeiro era “Jogo da verdade”; o outro foi o que acabei escolhendo, por causa da sequência final de A Vida de Brian, com a foto de Graham Chapman e Eric Idle para ilustrar.
Todavia, como meu espaço neste blog é meio esculhambado, não há respeito à disciplina e costumo contrariar as mais comezinhas técnicas de redação, subverto minha própria escolha e começo falando de um despretensioso insight sobre o tal jogo da verdade.
Futebol é um esporte em que lances aparentemente isolados mudam a história do jogo – um gol no primeiro minuto, um pênalti que o goleiro defende –, da mesma forma que uma vitória empolgante ou uma derrota inesperada alteram os rumos de um time na competição.
No Brasileirão 2011, a partir da grande vitória sobre o Santos na Vila Belmiro pelo raro placar de cinco a quatro, o Flamengo engrenou uma sequência de quatro vitórias, interrompida por um jogo contra o Figueirense que teve – desculpem o pleonasmo – arbitragem horrorosa de Heber Roberto Lopes. Num jogo tenso e ríspido, com os dois lados chegando junto e pegando pesado, o péssimo juiz conseguiu a proeza de dar seis cartões amarelos para o Flamengo e nenhum para o Figueirense. O Flamengo, que abrira dois a zero no começo do segundo tempo, se desequilibrou, perdeu o prumo, permitiu o empate e daí em diante passou dez jogos consecutivos sem vencer, somando apenas cinco pontos em trinta possíveis e triturando suas chances de disputar o título.
Esse ano, acho que não demos a devida importância à derrota para o Botafogo, pela Taça Guanabara. Olhando hoje, com a frieza que só o tempo permite, creio que aquele foi o jogo da verdade. Até então, nosso autoengano se alimentava de vagabundas vitórias sobre boavistas, tigres, voltas redondas. Ali, em vez de encarar a realidade, sacar que havia algo de podre no reino de Luxemburgo e que o mesmo time, jogando sob o mesmo técnico, estava muito pior do que no ano passado, engatamos uma conversa mole de que fomos superiores, tivemos mais posse de bola, o Botafogo se recusou a sair pro jogo e outras tolices. Cada time joga como quer e não tem cabimento exigir que os adversários se submetam a fazer o que é mais conveniente ao Flamengo.
Aquela derrota e, sobretudo, nossa incompetência diante do fraco time botafoguense deveriam ter acendido o sinal de alerta, mas continuamos acreditando em desculpas esfarrapadas, que acabaram desaguando no desastre dos três últimos jogos sem marcar um gol, nas perdas da Taça Guanabara e do Campeonato Estadual, e no mau começo de Brasileirão.
Calma. Não estou colocando a culpa de todos os nossos males, para todo o sempre, em Vanderlei Luxemburgo, e muito menos dizendo que com mais algumas rodadas o time de Cristóvão vai virar um rolo compressor. No entanto, eu que custei a apoiar a demissão de Luxemburgo, hoje acho que, se era para mudar, deveríamos ter mudado há mais tempo. Agora, paciência. Vida que segue.
No curto prazo, a receita pro nosso time melhorar começa com o reconhecimento da tibieza técnica de alguns dos nossos jogadores. Vocês viram, na partida de sábado, quantas vezes Márcio Araújo levantou o braço e pediu desculpas por passes errados? Passes simples, de três metros. Ok: estávamos sem Jonas e Cáceres, e há quem acredite – eu não, mas vamos em frente – que isso é capaz de mudar nossas atuações da água para o vinho, mas não adianta pensar em modernidade e ousadia se quem vai sair com a bola é o Márcio Araújo.
Portanto, sejamos práticos. Se ainda não podemos contar com Armero, Guerrero e quem mais chegar, é melhor fazer o simples, compactar as linhas, organizar o sistema defensivo, obrigar o meio-campo a cozinhar só feijão-com-arroz e jogar no erro do adversário. (Foi o que fez Luxemburgo, com esse mesmo grupo de jogadores, no ano passado, e atirou no ralo esse ano.)
Isto alcançado, e não há de ser tão difícil, já que Avaí e Chapecoense, ambos com cinco pontos a mais que a gente, vêm conseguindo, entra em campo o que podemos esperar da segunda parte do campeonato: aquela em que as janelas de contratações se fecham, todos já cumpriram sete jogos por seus times e não há mais como sonhar com caras importantes e decisivos. Na derrota de sábado, o lado bom da nossa vida ficou, exclusivamente, por conta de Emerson Sheik. Suou o Manto com vontade, não fugiu do jogo, ofereceu os poucos momentos de lucidez do time e foi o único dos nossos a incomodar o Atlético Mineiro – este sim, organizado, perigoso e, olhem só que curioso!, com gente que sabe jogar. Não tem craque algum, mas quem ali sai no tapa com a bola?
O grande problema na estreia do Emerson foi que, da mesma forma que todos nós que assistíamos, em certo momento o Sheik concluiu que, se ele não resolvesse, ninguém mais o faria. E não é isso o que caracteriza um time de futebol.
Pode ser fruto de uma perigosa mistura de inocência com excesso de generosidade minha, mas não cheguei ao ponto do desespero. Ainda longe de termos um time, acredito que seremos mais firmes na defesa com Armero na lateral-esquerda e Pará na direita (aquela roçadinha de cabeça do Luiz Antonio, no primeiro gol, foi de matar) e daremos trabalho na frente com Guerrero e Emerson. Mas temos de acertar, com urgência, a nossa zona de pensamento, hoje um deserto de homens e ideias. Se conseguirmos um camisa dez de verdade, já que Alan Patrick é muito pouco, ótimo. Se não, precisamos de dois caras no padrão do Elias. É no meio-campo que as coisas se resolvem, e ali estamos frágeis toda vida.
Na última semana nosso Programa Sócio-Torcedor cresceu e a torcida levou ao Maraca o maior público do campeonato. Que a recíproca venha logo. Queremos torcer por um time, e não por um bando. E queremos, mesmo nas partidas em que nada der certo, levantar a cabeça e, com as irônicas bênçãos do Monty Python, sair assobiando e cantando “Always look on the bright side of life”.
Jorge Murtinho
Por partes: A sequência de 10 jogos sem vencer, no Brasileiro de 2011, também foi precedida (acho que este foi o fato que definiu este momento decisivo do tal campeonato, para o Mengão) da entrada de Alex “Pirulito” Silva. O desajeitado zagueiro, veio para substituir o odiado Wellington (que brilhava nos treinos, mas ficava inseguro nos jogos). Pois bem, Wellington, ainda que inseguro e odiado, mantinha regularidade e baixo vazamento, junto a Angelim, mantendo o Mengão no primeiro lugar, COM FOLGA DE 5 PONTOS. Foi Alex entrar e a coisa desandar: 10 jogos sem vencer, deixando o título para o Corinthians. perdemos 25 pontos, quando bastavam 11 pontos a mais, nos 10 jogos, para sermos campeões.
Não quero defender o Luxa, mas a ausência dos melhores jogadores, afastados por contusão ou retornando de, foi fundamental nas finais do Carioca e até o momento. Paulinho, Éverton, Cirino, Artur Maia, Jonas, Canteros, Cáceres, Nixon, Eduardo e Samir ficaram de fora, nas partidas decisivas e ainda estão completamente fora de ritmo. Isto é muito para a equipe que não tinha outras opções a não ser Mugni, Bressan, Gabriel (que não é ruim, mas está), Luiz Antônio. Agora, o Mengão está pagando por tais contusões.