Fonte: GE
Se a situação do futebol não é das melhores, ao menos quando o assunto é esportes olímpicos, o Flamengo pode comemorar. O Rubro-Negro é o líder entre os “clubes de futebol” no número de atletas do Time Brasil que compete nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Ao todo, são 19 representantes. O time da Gávea dá o troco e goleia o Corinthians (pelo menos no Pan) após a derrota por 3 a 0 pelo Brasileirão, no domingo. Os paulistas aparecem em segundo, ao lado do Fluminense, com oito atletas no Canadá. Completam a lista Botafogo, com seis; Vasco, com três; Cruzeiro e Palmeiras, com dois; e Sport e Paysandu, com um.
– Historicamente o clube é um grande formador de atletas e cidadãos. Em 19 edições dos Jogos Olímpicos, quase 200 atletas rubro-negros representaram o Brasil. O clube foi fundado em 1885 como um clube de remo e, desde então, tem desenvolvido muitas modalidades olímpicas. Hoje, além do futebol, temos oito modalidades competitivas – remo, basquete, voleibol, ginástica artística, judô, natação, polo aquático e nado sincronizado – totalizando aproximadamente 600 atletas federados além de quase 2.500 alunos na Escola de Esportes Sempre Flamengo – disse o diretor de esportes olímpicos do clube da Gávea, Marcelo Vido.
Mas, para que houvesse evolução, primeiro, aconteceu uma grande reformulação. Em 2013, o Rubro-Negro, com uma então nova diretoria encabeçada pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello, dissolveu suas equipes principais de judô, natação e ginástica artística. Nomes conhecidos e vencedores como os ginastas Jade Barbosa, Diego e Daniele Hypolito e o nadador César Cielo não tiveram seus contratos renovados. Na época, eles foram pegos de surpresa. Agora, a reestruturação começa a dar frutos novamente.
A ginástica artística, por exemplo, trouxe de volta a experiente Jade Barbosa, que estará em Toronto no lugar de Rebeca Andrade, que se lesionou. Junto com ela, jovens promessas como Julie Kim Simon e Leticia Costa, convocadas para o Pan, estão tendo evolução. A segunda tem 20 anos e está há 12 no Rubro-Negro. Foi vice-colocada por equipes no pré-Pan, no ano passado, vice-campeã sul-americana em 2013 (e campeã nas paralelas no mesmo ano); e vice-campeã sul-americana em 2015 (e campeã no solo no mesmo ano).
– Apesar de treinar muito pouco no próprio clube, temos todo apoio do Flamengo para competições no Brasil e suporte para servirmos à seleção. Representar o Flamengo é uma honra. Fazer parte de uma Nação não é pouca coisa. Me sinto com uma enorme responsabilidade em estar com a camisa do clube e tento retribuir com bons resultados – afirmou Leticia.
Outro projeto vencedor no Flamengo é o basquete. Membros do time tetracampeão do Novo Basquete Brasil (NBB), Benite e Olivinha, que se profissionalizou pelo clube e está lá desde 1998, são os representantes no Canadá, fora o armador Nicolas Laprovittola, convocado pela Argentina.
– Em termos de estrutura acredito que estamos bem servidos. Temos academia própria com os melhores aparelhos, nosso ginásio de treinamento com piso flutuante reduz bastante as possíveis lesões além de nos dar conforto. Podemos utilizar todas as dependências do clube e considero muito isso também. Representar o Flamengo para mim é um orgulho imenso.
Outro destaque no Rubro-Negro é o remo. É a modalidade com maior número de atletas flamenguistas. Ao todo, são nove dos 19 em Toronto. Ponto de partida da equipe da Gávea, ele também sofreu mudanças. Na verdade, passa por uma reformulação no momento.
– Estamos em um processo de reformulação no remo que começou no final de 2014 estamos colhendo os frutos. Estamos modernizando as instalações e equipamentos. Por exemplo, um Centro de Força exclusivo para os remadores foi inaugurado no final do ano passado e uma nova flotilha está para chegar. Os recursos são da CBC (Confederação Brasileira de Clubes) e uma parceria com o British Olympic Association (BOA) – explicou o dirigente rubro-negro Marcelo Vido.
Assim como o Flamengo, o Botafogo também é uma potência no remo e sua fundação está completamente vinculada a esse esporte. O Glorioso, que no futebol disputa atualmente a Série B do Campeonato Brasileiro, terá seis atletas no Pan de Toronto. Todos eles são remadores. Gabriella Salles, Ailson Eráclito, Guilherme Gomes, Diego Nazário, Emmanuel Dantas e David Faria são os representantes do Alvinegro. O técnico Alexandre Xoxô, que começou no clube em 1983 e, como timoneiro, esteve nos Pans de Havana, Winnipeg e Santo Domingo, afirma que nem as trocas de diretoria são capazes de limar a força da modalidade.
– Trabalho com o remo há muitos anos, peguei várias diretorias. Tem diretores apaixonados pelo remo e tem outros que só pensam no futebol. Sempre foi assim, nunca foi diferente. A diretoria fica sempre dividida, porque o futebol é muito importante no Brasil, e o dinheiro gira em torno dali. Mas tem 500 pessoas botando a camisa do Botafogo ajudando no remo e se envolvendo no remo. Quanto ao Pan, o fato de ser um ano antes das Olimpíadas é o que mais tenho dado a eles de motivação. É um torneio espetacular, não é difícil entrar em uma final e você tem chance real de levar um ouro – falou Xoxô.
Outros “clubes de futebol” com bom número de atletas no Pan de Toronto são Corinthians e Fluminense – ambos com oito. O primeiro tem Gabriel Campos como representante no remo, mas se destaca mesmo é na natação. São sete atletas. O Timão tem nomes como Brandonn Pierry, Leonardo de Deus e Felipe França nadando com seu escudo na touca. Esse último passou a defender o clube paulista no início de 2014. No Mundial de Doha, levou cinco medalhas de ouro.
– O clube tem uma estrutura muito boa para natação. São duas piscinas, uma de 50m e uma de 25m, para que a gente possa se adaptar às competições que estão chegando. Tem também uma boa sala de musculação e o refeitório muito próximo, tudo para o atleta poder desenvolver todo seu potencial. Não tem tanta pressão, o pessoal do clube só nos cobra para que façamos nosso melhor. A maior pressão em cima de mim sou eu mesmo, mas é claro, me orgulho de representar um clube tão tradicional, que tem milhões de torcedores – disse Felipe França.
A força maior do Fluminense, por sua vez, é nos esportes aquáticos. Nos saltos ornamentais, o Tricolor terá Tammy Galera, Ingrid Oliveira, Ian Matos e a veterana Juliana Veloso, em Toronto. Além deles, há meninas do nado sincronizado: Luisa Borges e Maria Eduarda Miccuci, que competem no dueto, e Maria Bruno, que se junta a elas na disputa por equipes. Josep Vrlic, do polo aquático, completa a lista tricolor.
– O Fluminense sempre foi uma potência. A medida que os esportes foram criados no Brasil, ainda na época do amadorismo, as equipes eram montadas até mesmo com os associados. Sempre ganhávamos tudo. Potência é quem forma. A primeira medalha olímpica do Brasil foi no tiro esportivo, com um atleta do Fluminense. Formamos muitos atletas. É possível trabalhar o atleta aqui. Muitos pais nos procuram sabendo da tradição do Fluminense nos esportes aquáticos. Procuramos investir nisso e em melhorias. Nosso problema é falta de espaço. A sede social é dividida com os sócios. Não é possível mexer na estrutura. Adoraria oferecer mais aulas e ter um espaço maior, mas isso ainda está sendo estudado – contou o vice-presidente de esportes olímpicos do time das Laranjeiras, Marcio Trindade.
Além de Flamengo, Corinthians, Fluminense e Botafogo, outros “clubes de futebol” não têm tantos representantes, mas possuem nomes relevantes. O Vasco, por exemplo, conta com a experiente remadora Fabiana Beltrame; e o Palmeiras tem as fortes promessas Lin Gui, do tênis de mesa, e Sarah Nikitin, do tiro com arco.
Confira a lista completa por clubes:
1º FLAMENGO (19) – Julie Kim Sinmon, Jade Barbosa e Letícia Costa (ginástica artística); Marina Canetti (pólo aquático); Vitor Alves Benite e Olivinha (basquete); Lorena Molinos e Maria Clara Lobo (nado sincronizado); Jhennifer Alves e Luiz Altamir (natação); Sophia Valente Camara Py, Caroline de Carvalho Corado, Thiago Pereira Carvalho, Thiago Almeida, Allan Scaravaglioni Bitencourt, Leandro Francisco Tozzo, Maciel Costa da Silva, Pedro Henrique Drummond Gondin Meirelles e Mauricio de Abreu Carlos (remo);
2º CORINTHIANS (8): Arthur Franklin Mendes, Brandonn Pierry de Almeida, Felipe França, Leonardo de Deus, Thiago Simon, Natalia de Luccas e Pamela Alencar de Souza (natação); Gabriel Campos (remo);
2º FLUMINENSE (8): Josip Vrlic (pólo aquático); Ian Matos, Tammy Galera, Juliana Veloso e Ingrid Oliveira (saltos ornamentais); Luisa Borges, Maria Eduarda Miccuci e Maria Bruno (nado sincronizado);
3º BOTAFOGO (6): Gabriella Salles, Ailson Eráclito, Guilherme Gomes, Diego Nazário, Emmanuel Dantas e David Faria (remo);
4º VASCO (3): Fabiana Beltrame, Yanka Britto e Renato Cataldo (remo);
5º CRUZEIRO (2): Kleidiane Barbosa Jardim (atletismo); Kadu (vôlei);
5º PALMEIRAS (2): Lin Gui (tênis de mesa) e Sarah Nikitin (tiro com arco).
6º SPORT (1): Kelly Santos Muller (basquete);
6º PAYSANDU (1): Josiane Lima (taekwondo).