Cristóvão, a torcida do Flamengo não é burra

Amigos! Fui surpreendido na segunda-feira desta semana com um desabafo do nosso técnico Cristóvão Borges no programa Linha de Passe da ESPN Brasil. Neste depoimento, ele confirma suspeitas feitas por jornalistas integrantes da bancada de que vem sofrendo perseguição e críticas mais veementes por ser negro, ou seja, confirma que vem sofrendo racismo.

Apesar de deixar claro que isso não é um comportamento da torcida do Flamengo em geral, e que estava direcionando o desabafo para parte da imprensa, isso me deixou muito incomodado. Estou à vontade para falar, pois, na infância e adolescência, estudei em uma escola tradicionalíssima de Brasília, e por não ser um homem tão caucasiano assim e ainda por morar em um bairro de COHAB e sem tantas posses como os demais alunos, sofri com preconceito também.

Pessoalmente, não consigo identificar tais atos de racismo partindo da torcida nem da imprensa. Pra mim, tal pressão vem do fato do time estar perdendo pontos nos jogos em que estamos melhores e a percepção clara de que as modificações realizadas no time fazem com que o desempenho caia vertiginosamente. Claro que percebemos que o time hoje é melhor do que a bagunça deixada pelo seu antecessor Luxemburgo, até porque Cristóvão recebeu jogadores de qualidade para trabalhar, mas as críticas ao trabalho do treinador, a meu ver, são justas. Apesar de uma análise divergente de Cristóvão, nos últimos 3 jogos percebo o time muito mal em um dos tempos. Ou entramos com uma formação errada e temos um primeiro tempo desastroso para que depois venham as modificações e o time melhore, como no jogo contra o Goiás, ou o contrário, temos um bom primeiro tempo e as modificações desmontam nosso time, como nos jogos contra Santos e Ponte Preta.

Não posso acreditar que sofremos de um “racismo seletivo”, onde tivemos Carlinhos Violino sempre aplaudido e com um busto na gávea, Jayme de Almeida ovacionado, Andrade idolatrado como jogador e treinador e só o Cristóvão seja vitima de racismo. Toda a crítica está relacionada ao desempenho do time em campo. A tolerância da torcida é afetada por diversas variáveis, mas em nenhuma delas está o fato do treinador ser negro. Não tenho receio de sermos rotulados como racistas. Logo a torcida de mulambos? Logo a urubuzada ser racista? Logo a torcida que canta orgulhosa “Festa na Favela”? Que grande contrassenso seria!

Cristóvão, uma dica: Não deixe no ar uma acusação tão séria como racismo. Não fale em setores da imprensa e parte da torcida. Uma acusação como essa deve ser pessoal, identificada. Se você se ofendeu ao ser chamado de “Mourinho do Pelourinho” como disse no programa de TV, processe quem proferiu tais palavras e vá até as últimas instâncias para que se sinta justiçado, mas não impute a mim e a meus irmãos rubro-negros, que em sua maioria também são negros, a pecha de racista.

Cristóvão, não utilize o fato de ser negro como muleta para a pressão que vem sofrendo por maus resultados. A torcida não aliviará as críticas pelo simples fato de você ver componentes racistas nelas. As criticas são ao seu trabalho. Você está no time de maior torcida do país, onde tudo é aumentado, para o bem ou para o mau. No nosso time, até um pum em treino virou notícia de primeira página nos sites especializados. Se sinta orgulhoso por estar em uma posição de destaque pelos seus méritos num país onde sabemos que negros e pobres dificilmente têm uma oportunidade. Você é um vencedor. Aja como um!

Vamos Flamengo!

Marcos Vinicius Beton Amorim

marcos.amorim@colunadofla.com.br