Fonte: Meia Encarnada
A grande desgraça de se acreditar em exércitos de um homem é que às vezes o herói solitário perde o toque da corneta, e daí o campo de batalha fica vazio. Porque mesmo os mais abnegados mártires ocasionalmente estão sujeitos aos encantos do travesseiro. Por mais que o resultado diante do Santos tenha trazido certa amargura aos flamenguistas, ao menos ficou claro que o time não depende exclusivamente do empenho de Guerrero, para o bem ou para o mal.
O desempenho do Flamengo mostrou-se bipolar diante dos mais de 60 mil psicanalistas entusiasmados que estiveram no Maracanã: de uma atuação avassaladora no primeiro tempo para a súbita letargia do começo da etapa final. Em nenhum destes recortes de tempo tão antagônicos Paolo Guerrero esteve à altura de sua capacidade, que sabemos ser monstruosa.
Tal conjuntura, pasmem, é positiva para o Flamengo. Porque ficou nítido que Cristóvão Borges pode – mais do que isso, DEVE – montar uma equipe tenha condições de superar jornadas apagadas de seu principal jogador. Talvez o treinador já esteja tentando (e conseguindo) diminuir esta dependência ainda em estado emergente, e isso pareceu claro no primeiro tempo, jogado pela esquadra rubro-negra com velocidade e disposição impressionantes, mesmo que o centroavante não estivesse nos seus dias mais iluminados.
Guerrero é um dos principais jogadores do futebol brasileiro. Certamente, é o atacante mais mortal. E não demorou a comprovar isso em sua chegada ao Flamengo. Mal havia amarrado as chuteiras e chapado o cabelo com BRILHANTINA e saiu empilhando gols e assistências. Mas é inegável que seu período ainda é de adaptação, e até que Guerrero ache o time em seu entorno e a própria equipe se acostume a encontrá-lo em campo, é normal que aconteça alguma instabilidade.
Se não é um primor, o elenco do Flamento pode ser transformado em um time competitivo que, conforme as melancias se ajeitarem, pode até bater às portas do G4. Será importante, no entanto, que não se entregue à ilusão de que um astro será capaz de iluminar a madrugada inteira. Mesmo em seu auge, no Corinthians, o peruano precisava de uma equipe competitiva, que ORBITAVA em torno de seu apurado faro de gols. Até porque, apesar de toda a poesia, geralmente os exércitos de um homem só costumam morrer dentro da própria trincheira.