Um é pouco, dois é bom, três é demais. No caso do time de basquete do Flamengo, essa fartura chega a 10. Se normalmente os técnicos do NBB costumam contar, no máximo, com sete a oito jogadores do mesmo nível em suas equipes, José Neto se dá ao luxo de ter à disposição dois quintetos em condições de serem titulares a cada partida. As opções são tantas que, em 16 jogos disputados até agora, o treinador já usou cinco formações iniciais diferentes. Contra a Liga Sorocabana, neste sábado, às 18h, no ginásio do Tijuca, Rafa Luz, Marquinhos, Jason Robinson, Olivinha e Jerome Meyinsse deverão formar o time que começará uma partida pela oitava vez na temporada, mas isso não significa que serão eles que mais tempo permanecerão em quadra em busca da nona vitória consecutiva na competição.
As constantes mudanças e a versatilidade dos personagens rubro-negros têm surtido tanto efeito que nove das 14 vitórias (64%) que levaram o clube carioca à liderança do NBB 8 foram praticamente sacramentadas no segundo período – geralmente o momento em que José Neto inicia sua rotação e troca praticamente a equipe inteira (confira na figura ao lado).
Dentre as opções no banco, estão Gegê, JP Batista, Rafael Mineiro, o dominicano Ronald Ramon e o capitão Marcelinho Machado. Isso talvez explique por que o desempenho do Flamengo nos 10 minutos finais do primeiro tempo tem sido tão mortal. Em seis dessas nove vitórias, a vantagem parcial no segundo quarto foi de 10 ou mais pontos. Tudo isso dentro de um sistema de jogo definido e equilibrado, tendo como principal desafio fazer a equipe jogar com muita intensidade a maior parte do tempo.
Na prática, o objetivo da comissão técnica tem dado certo e pode ser comprovado nas estatísticas da competição. Se antes alguns jogadores jogavam de 30 a 35 minutos, atualmente a média de minutagem rubro-negra não chega a 28. Marquinhos, com 27.3 minutos por jogo, Jason Robinson, com 25.5, e Rafa Luz, com 24.8, destoam dos demais e são os três que mais permanecem em quadra. No restante, o equilíbrio predomina. Dos 10 jogadores usados por José Neto com frequência, a média fica entre 19 e 23 minutos. Olivinha, com 16.1 minutos, é quem menos tem jogado. Vale lembrar que o ala-pivô sofreu uma torção no tornozelo na estreia do NBB contra o Bauru e desfalcou a equipes nos cinco jogos seguintes.
– Todo time que consegue ser regular na intensidade tem uma chance muito grande de vencer, mas claro que isso está atrelado à qualidade. Não adianta nada formarmos um elenco que joga com uma intensidade muito alta, mas que não tem bons jogadores. Nós conseguimos dar um equilíbrio para isso, de jogar numa intensidade alta e manter a qualidade na rotatividade do elenco. Aquele que entra tenta conseguir manter o nível ou até melhorar o desempenho de quem estava na quadra. Quando colocamos os jogadores que vêm do banco, eles sabem exatamente o que precisam fazer e executam aquilo que está programado. Isso é um ganho que nós temos e talvez seja a hora que o adversário sente – analisou Neto, que ainda acha que seus jogadores podem dar mais em quadra.
– Ainda acho que podemos ser mais intensos. Isso é uma das coisas que estamos buscando melhorar. O tempo que o jogador está na quadra ele tem que dar o máximo. Eles estão preparados para jogar mais de 40 minutos, então, independentemente do tempo que ficarem na quadra, precisam dar o máximo deles. Tenho certeza que eles ainda podem dar mais. Não que eles não querem fazer, tudo isso faz parte de um processo de adaptação. Antes um jogador jogava 30, 35 minutos, agora ele joga 20, 25. Esses 10 minutos a menos em um jogo são muito tempo.
Mas o equilíbrio rubro-negro após 16 rodadas não se restringe apenas aos minutos em quadra de seus jogadores. Se antes os alas Marquinhos e Marcelinho apareciam entre os maiores pontuares das edições anteriores do NBB e eram responsáveis por boa parte da artilharia do Flamengo, na atual temporada a pontuação dos tricampeões está bem dividida.
– Acho que o entendimento deles é fundamental para o sucesso da equipe. Se eu tiver certeza de que a minha ideia é boa e eles não executarem da maneira que precisa, não adianta nada. O mérito é todo deles por entenderem e realizarem a proposta que nós passamos. Acho que esse equilíbrio na nossa pontuação é consequência da maturidade que eles alcançaram e pelos profissionais que eles são hoje. Vejo, por exemplo, o time tendo prazer em dar um passe a mais. Por isso somos o time que mais dá assistência no campeonato, o prazer de servir o companheiro tem sido o mesmo de fazer uma cesta. É uma coisa que nós temos trabalhado há algum tempo e que está funcionando bem. É um dos quesitos que demonstram nossa coletividade – afirmou.
Marquinhos é a prova dessa união. Mesmo sendo o cestinha da equipe na competição, com uma média de 16.4 pontos por jogo, e o jogador com maior tempo em quadra, o ala endossa o discurso do comandante. Se nas campanhas dos três títulos anteriores a individualidade por muitas vezes foi a principal arma do Flamengo, na atual temporada ele aponta o conjunto como fator determinante para o sucesso rubro-negro.
– Acho que nossa rotação faz a diferença sim, quando nossa segunda unidade entra, entra com muita energia. Qualquer quinteto pode ser titular e quem entra mostra uma agressividade muito grande, já pega a maioria dos times um pouco cansado e eles acabam jogando boa parte do jogo pressionado. Ninguém pensa em ser o cestinha ou o reboteiro aqui, nosso objetivo é fazer o Flamengo ganhar. Quando isso acontece, todo mundo sai ganhando. Fazer uma defesa forte, atacar consciente e dar nosso limite que no final dos jogos vamos ter bons resultados que vão agradar a todo mundo. Ganhar do Flamengo hoje é difícil, e nós temos mostrado isso dentro de quadra – afirmou.
Técnico do Bauru, principal rival do Flamengo na disputa pelo título do NBB 8, Demétrius sabe bem disso e sentiu na pele a coletividade e a intensidade com que o time carioca tem jogado. Após a derrota por 85 a 69, com mais uma atuação avassaladora do rival no segundo período, o comandante da equipe paulista destacou a rotação rubro-negra e comparou a forma como o time da Gávea vem jogando com as principais equipes da Europa.
– Eles estão conseguindo manter um ritmo bem intenso durante os 40 minutos em função dessa rotação de 10 jogadores do mesmo nível. Isso faz uma diferença grande e é exatamente o que acontece na Europa. Cada jogador joga no máximo 22, 23 minutos e isso faz com que cada um que entre em quadra consiga dar 100% da sua condição. O Flamengo acaba levando uma vantagem muito grande em relação às outras equipes – disse Demétrius.
Se todos esses números já fariam do líder da competição favorito absoluto para a partida deste sábado, o fato de jogar no Rio de Janeiro, vantagem que se repetirá em seis dos oito próximos compromissos do Flamengo na competição, aumenta ainda mais o favoritismo dos donos da casa. Mas nada disso tira o foco do técnico José Neto. Sempre preocupado com o adversário da vez, o comandante rubro-negro deixa a euforia para o torcedor e faz um alerta.
– A maior pressão é saber que tem outros times próximos de nós, e uma derrota pode nos deixar abaixo deles. Isso é o que mais nos motiva a ganhar sempre. O próximo jogo para nós é sempre o mais importante. Um grande erro que uma equipe pode cometer nesse campeonato é achar que tem algum adversário bobo, fraco ou que vai ser tranquilo. A Liga Sorocabana, por exemplo, ganhou de Bauru quando Bauru tinha a possibilidade de assumir a liderança. Por isso temos sempre que fazer nosso jogo e não jogar de acordo com o adversário. Nosso maior desafio continua sendo buscar uma consistência e deixar de oscilar tanto dentro de um jogo – disse Neto.
Fonte: GE