O Maior Clássico do Mundo
Os maiores Fla x Flus da minha vida
16/02/1986 – “Recordar é viver, o Zico acabou com você!”
Domingo de Fla x Flu no Maracanã. Meu pai grande flamenguista avisa logo que, ao contrário do seu hábito de ir aos jogos sozinho, hoje a família toda irá ao jogo. Zico recém chegado da Itália, vindo de cirurgias, jogaria pela primeira vez ao lado de Sócrates com a camisa do Flamengo. No estádio, a torcida do Flu não perdoa: o grito de BICHADO! BICHADO! BICHADO! ecoa forte, numa época em que as grandes torcidas do Rio ainda se equivaliam no estádio. Enfim Luis Carlos Félix dá inicio à peleja. Começa o Carioca de 1986. E foi um show: com 3 Gols do Galinho e um de seu aprendiz Bebeto, o Fla goleou por 4×1. E a esquerda das cabines de rádio se ouvia forte “recordar é viver, o Zico acabou com você!”. A família volta pra casa feliz, meu pai Aldo, meu irmão Artur então com 7 para 8 anos comemorando a despeito da predileção tricolor de minha mãe Elisabeth, mas… falta alguém! Cadê aquele garoto irritadinho, então com 11 anos ainda sonhando em ser jogador do clube de coração? Saindo de um cinema na Penha, após assistir o “clássico” Rock IV estrelado por Silvester Stallone, ouço o seu Moacir, avô de um amigo que se encarregou de nos levar ao cinema dizer: “viram? Propaganda americana pura, o cara fraquinho sem treino derrotando o russo cheio de tecnologia!”. Falei baixinho no ouvido de meu amigo Andre: “seu avô ta doido, acha que ainda está em tempo de guerra…”. Enfim, aos 11 anos não pude aprender a lição de história, mas aprendi que do Zico eu não podia nunca duvidar.
27/03/1989 – Uma honra
Ultimo jogo oficial de Zico com a camisa rubro-negra. Um Fla x Flu pelo campeonato brasileiro disputado em Juiz de Fora/MG. Zico fez um dos mais lindos gols de falta da carreira, alem de uma sucessão de dribles sensacionais, incluindo uma caneta em Donizete. Ao fim do jogo o goleiro tricolor Ricardo Pinto disse que “foi uma honra” levar o ultimo gol da carreira profissional do craque Zico. Tempo depois Ricardo foi espancado pela torcida tricolor, quando já defendia o Atletico/PR, num triste episódio nas Laranjeiras.
19/12/1991 – Vovô garoto
Final do estadual, o Fla com um time repleto de garotos talentosos como Junior Baiano, Nélio, Paulo Nunes, alguns jovens já titulares absolutos como Zinho, somados aos experientes Gottardo, Gilmar e… Leovegildo Lins da Gama Junior, o Leoveja, o Capacete, o Junior, o vovô garoto dessa companhia! Com direito a golaço, capitaneou essa geração ao titulo estadual, e ao Brasileirão do ano seguinte.
25/06/1995 – Calo abdominal
O Fla chega a final do estadual com vantagem de empate contra o improvável Fluminense de Wellerson, Sorlei, Marcio Costa, Rogerinho e… o infalível Renato Gaúcho. Esse cara é vencedor demais. Num primeiro tempo impecável o Flu abriu 2×0, com gols de Renato e Leonardo. Segundo tempo rolando, o Fla domina as ações e empata com tentos de Romário e Fabinho. A torcida rubro negra canta vitoria, inclusive eu. Nunca esqueço, época em que o espaço do Palco no Clube XV em Miracema/RJ virava uma arquibancada, ninguém tinha TV por assinatura em casa. Jogo empatado, faltando poucos momentos para encerrar o jogo, coloquei meu manto numerado pelo 11 do Baixinho na frente da TV, atrapalhando aos poucos tricolores que não abandonaram as sociais criadas por nós, e de repente… uma gritaria louca, eu penso, “é o fim do jogo” mas tinha algo errado. Lembro bem do Gustavo filho do Gutemberg gritando, me olhando com um olhar de quem queria me matar… e comemorando! Volto pra frente da TV a tempo de ver o replay do lance. O ex-flamenguista Ailton dribla de forma humilhante pela direita do ataque tricolor, bate forte na direção do gol e Renato bota sua barriguinha de chopp na trajetória da bola. Não há tempo para mais nada. Curioso foi que o Fla contratou em seguida 3 nomes desse iluminado tricolor: Djair, Márcio Costa e Lira. Comeu pedra pra se livrar de um vexame no Brasileiro daquele ano, e acabou campeão invicto no carioca do ano seguinte.
01/02/2004 – Presente
Enfim marquei presença. Véspera de meu aniversário, pra finalizar um fim de semana todo de comemorações na capital carioca com amigos do meu período em Petrópolis resolvemos assistir a esse jogo. Nós e mais 60 mil pessoas. Flu de Romário favorito, mas quem brilhou foi outro R. Aos 41 do 1º tempo Jean abre o placar para o Fla. Dois minutos depois Romário empata, e aos 7 do 2º virou. Aos 19, Rodolfo aumenta para o Flu, 3×1. 5 minutos depois, Felipe diminui num chute rasteiro. Agora começa a brilhar a estrela de um coadjuvante. O lateral esquerdo rubro negro Roger, até então muito contestado, empata aos 26. E vira aos 30! O hit Ivetiano “Poeira” explode no Maraca. E meus amigos completaram cantando meus parabéns. Show, lindo. Chorei!
Fonte: Álvaro Quadros / Futebol é pra Homem