Primeiro, foi a legislação. A Lei Pelé, ao mesmo tempo em que dá mais liberdade ao jogador (o que é positivo), tira do clube a prioridade de assinar o contrato com seus melhores jogadores, em quem muitas vezes (não todas) eles investem pesado na formação. Depois, foi o veto a investidores, saída que os mesmos clubes encontraram (longe da ideal) para poder manter, na medida do possível, suas promessas até o início nos profissionais. A base sobreviveu a isso, mas talvez não sobreviva à alta do dólar da mesma maneira. Pode ser o tiro de misericórdia que faltava.
A conta é simples: R$ 10 mil, um salário relativamente alto para uma promessa da base brasileira, poderia concorrer com uma pedida de € 10 mil (R$ 25 mil antes da crise). Agora, € 10 mil pode equivaler a quase R$ 50 mil, dependendo da cotação do dia. Simplesmente não há mais como competir. Os clubes brasileiros, que muitas vezes não dá aos próprios jogadores a estrutura necessária para uma boa formação, estão longe de ser santos nesse processo. Mas são, sem dúvida, os mais prejudicados por essa situação.
As luvas do primeiro contrato, muitas vezes pagas em forma de repasse de uma porcentagem dos direitos federativos dos jogadores, agora só podem ser depositadas em espécie, com a impossibilidade do investidor ter parte dos direitos. A constituição federal, que tem a prerrogativa do direito de ir e vir, se sobrepõe à Lei Pelé, que dá ao clube formador a preferência de fazer o primeiro contrato. Na prática, o atleta assina com quem ele quiser, o que é bom para ele, mas pode
As consequências disso já são vistas. Vitinho (foto acima), promessa do Corinthians, se recusou a assinar o primeiro contrato profissional com o clube. Bruno Tabata, meia do Atlético-MG, foi embora antes de assinar o segundo contrato sem sequer negociar com o Galo. Caio, meia do Santos, deixou o clube vendido para o Atlético de Madrid pouco antes de seu contrato acabar. A saída precoce de jogadores, que era alta nos clubes pequenos, atinge cada vez mais os grandes.
Diante desse quadro, fica a dúvida: se o clube investe às vezes por cinco ou seis anos em um jogador e sequer tem o retorno (seja esportivo ou financeiro) nos profissionais, qual é o sentido de se investir bem na base?
Montar um time mais barato talvez seja uma resposta possível. Com a lei do Profut, muitos clubes estarão com o pires na mão nos próximos anos e podem recorrer aos garotos da própria base para compor o elenco. Normalmente os sobreviventes do processo, pois os melhores já estarão negociados para o exterior. Em tese.
A ciência, no entanto, não é tão exata assim, e pode ser que jogadores discretos no sub-15 e no sub-17 se destaquem a partir do sub-20. Mas fica claro que o clube é cada vez mais espremido contra a parede e todos os caminhos dentro da lógica do capitalismo indicam que apostar na formação de jogadores é um caminho cujo risco de não dar certo é cada vez maior.
Fonte: Na Base da Bola / GE