Dirigentes dos times alegam insatisfação com condução do esporte pela Confederação e não disputam principal torneio do semestre; criação de liga surge como possibilidade
Previsto inicialmente para ocorrer entre esta quarta-feira e o próximo domingo, o Troféu Brasil de polo aquático será bem mais curto que o esperado. Insatisfeitos com a condução da modalidade pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), alguns dos principais clubes do país decidiram boicotar a competição, que teve início adiado para sexta-feira e contará com apenas quatro equipes – uma delas, convidada da organização.
Ao todo, 10 times abriram mão da disputa: Flamengo, Fluminense, Hebraica, Internacional de Regatas (SP), Jundiaiense, Paineiras, Paulistano, Pinheiros, Sesi-SP e Tijuca. Vão participar da competição apenas Botafogo, Iate Clube (Brasília) e ABDA Bauru. Um quarto time formado por jogadores veteranos será inscrito como convidado.
A insatisfação dos times com a CBDA não é recente. No ano passado, uma reunião foi realizada entre dirigentes das principais equipes do país e representantes da Confederação, onde foram pedidas mudanças na condução da modalidade. Uma das reivindicações era pela criação de um conselho de clubes dentro da entidade, o que não foi atendido.
Em nota oficial, o Pinheiros creditou o boicote ao não cumprimento das reivindicações. O comunicado diz ainda que os clubes trabalham em um “processo de organização própria”, o que sugere a criação de uma liga. Algo semelhante ao que já ocorre em algumas modalidades no país, como é o caso do basquete, em que a LNB (Liga Nacional de Basquete) e a LBF (Liga de Basquete Feminino) são responsáveis pela organização dos campeonatos nacionais.
“O Esporte Clube Pinheiros gostaria de esclarecer que a decisão de não participar do evento foi dos dirigentes de dez clubes brasileiros, como consequência de um processo de organização própria, o qual vem avançando desde 2015. Devido à insatisfação com o atual cenário do polo aquático no Brasil e após não ter havido considerações ou retorno à inúmeras reivindicações em prol do avanço na gestão da modalidade, encaminhadas às autoridades a qual competem a organização da competição, os clubes se reuniram e optaram por não participarem da mesma”, diz a nota enviada pelo Pinheiros.
O responsável pelos esportes olímpicos do Fluminense, George Sanches, evitou entrar em detalhes sobre o boicote e os planos dos clubes para o futuro.
– A única coisa que posso dizer em relação ao Fluminense é que estamos acompanhando a maioria dos clubes do polo aquático, torcendo para que uma conciliação de todos interesses em função do esporte – resumiu.
CBDA lamenta o boicote
Coordenador técnico do polo aquático na CBDA, Ricardo Cabral lamentou o boicote no Troféu Brasil. Segundo ele, o torneio seria uma grande oportunidade para promover a modalidade às vésperas dos Jogos Olímpicos.
– Estamos em um momento talvez único na história do polo aquático brasileiro, com prestígio internacional e expectativas de um bom resultado nas Olimpíadas aqui no Brasil. O Troféu Brasil seria bom para apresentar aspectos positivos da nossa modalidade. Mas não é o que está acontecendo – disse Cabral.
O coordenador da CBDA afirmou ainda não entender os motivos da ausência dos principais times do país no torneio e disse ver na situação uma briga política por poder. Sobre a possibilidade de criação de uma liga, o dirigente se disse favorável, desde que a nova organização tenha condições de caminhar com recursos próprios, sem depender de verbas da Confederação.
– Sobre os motivos, acho que cada um tem os seus. Na verdade, existe um movimento por uma liga. Se fosse isso, seria bom. Desde que tenha pernas suficientes e possa captar recursos… Eu não sei o motivo do boicote. O que estaria errado hoje na Confederação? Temos um calendário de 30 atividades que atende todas as categorias. Uma agenda repleta de treinamentos para as seleções para as Olimpíadas. Dois dos melhores técnicos do mundo nas seleções. Equipes competitivas no masculino e no feminino. O que me parece é mais uma questão de briga pelo poder – afirmou.
Em relação aos preparativos da seleção masculina para os Jogos do Rio, Ricardo Cabral disse que a realização do Troféu Brasil com apenas quatro equipes não afeta em nada a programação. Ele ressaltou que todos os jogadores da seleção brasileira atuaram na atual temporada por clubes na Europa, fruto de um projeto de intercâmbio coordenado pelo técnico da seleção, o croata Ratko Rudic.
– O grupo está fechado, treinando na Europa. Competir ou não competir nacionalmente não vai implicar na seleção brasileira. Os jogadores voltam para a Europa esse mês, para a fase final de competições. De lá, seguem para a Liga Mundial, no Japão (torneio que ocorre entre os dias 10 e 15 de maio).
A expectativa da CBDA é de que o Brasil já possa contar nessa etapa da Liga Mundial com a participação do goleiro sérvio Slobodan Soro, naturalizado brasileiro e que atua desde o ano passado pelo Botafogo. Ele ainda aguarda uma liberação da Federação Internacional de Natação (Fina) para poder defender o Brasil. Entre as exigências da entidade, está a comprovação de que ele tenha jogado por um time nacional em toda a temporada, algo que será ajudado a comprovar com a participação do Botafogo no Troféu Brasil.
– O Troféu Brasil vai ajudar, sim. Ele já jogou pelo Botafogo no campeonato estadual. Então, já confirmou a jurisdição (exigência da Fina). Vai jogar ainda o Troféu Brasil, mais alguns jogos. Então, no início da semana que vem vamos reunir a documentação e mandar. A gente quer um parecer logo da Fina para que ele já possa jogar a Liga Mundial – concluiu Cabral.
Fonte: GE