Muricy tieta José Neto e leva conceitos do basquete ao campo

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Convidado pelo GloboEsporte.com, treinador do futebol rubro-negro assiste ao treino do colega de clube, divide experiências e vê semelhanças entre as duas modalidades

Tinha tudo para ser uma quarta-feira comum na pesada rotina do time de basquete do Flamengo. Mas uma visita de um ilustre torcedor às vésperas do primeiro confronto da série melhor de cinco das quartas de final do NBB 8, na próxima segunda-feira, às 19h, diante do Rio Claro, no interior paulista, agitou o treino rubro-negro no ginásio Hélio Maurício. Apaixonado por basquete e fã de Michael Jordan e Oscar Schmidt, o técnico Muricy Ramalho aceitou o convite do GloboEsporte.com e aproveitou uma raríssima brecha na programação do futebol para conferir de perto o segredo dos atuais tricampeões brasileiros.

– Estou muito feliz de estar aqui porque sou torcedor e gosto do basquete. O basquete nacional melhorou muito, os estrangeiros que vêm para cá agora são de qualidade. Antigamente os que vinham eram americanos em final de carreira que não davam certo na Europa. Hoje em dia se contrata bons valores e, ao contrário de antes, tem gente daqui indo para fora, o que mostra que nosso basquete está muito forte. A NBA ainda tem os melhores do mundo, e estou sempre acompanhando – afirmou o treinador do Flamengo.

O semblante sério, tenso e preocupado do dia a dia, às vésperas da rodada decisiva da Taça Guanabara, ficou no Ninho do Urubu. Simpático, leve e feliz pela oportunidade adiada algumas vezes em razão das sempre concorridas agendas das duas modalidades preferidas pelos rubro-negros, Muricy mostrou que a promessa feita no dia de sua apresentação de viver o Flamengo intensamente não foi da boca para fora. Recepcionado por José Neto, o treinador chegou de mansinho, discreto, mas sem tirar os olhos da quadra. Um aperto de mão seguido por um abraço, uma troca de camisas com seus respectivos nomes às costas e pronto: o que era para ser uma simples visita, se transformou num bate papo profissional.

Se nos gramados o tetracampeão brasileiro fala, berra, gesticula e faz jus à sua marca registrada “aqui é trabalho”, no papel de torcedor não foi muito diferente. Inquieto e ávido por novidades, desta vez ele até ouviu mais do que falou, mas não desperdiçou um minuto sequer para encher o chefe do pedaço de perguntas. O interesse foi recíproco, e a química entre os técnicos rubro-negros bateu tão forte que a conversa precisou ser interrompida pela assessoria de imprensa do clube para que o treinamento começasse.

Mas ainda havia tempo para uma última gentileza antes de a bola quicar. Reunido com o grupo no meio da quadra, José Neto chamou Muricy para participar da conversa. Tímido e quase “minúsculo” no meio dos gigantes, o cara do futebol disse poucas palavras, mas mostrou toda sua grandeza ao elogiar os da bola laranja. Impressionado com a estrutura e a qualidade do elenco tricampeão nacional, o treinador arriscou alguns quiques na bola e ganhou um surpreendente abraço do fã Marquinhos, ala que Muricy também admira.

Na arquibancada, sentado e atento a cada movimento executado em quadra, o treinador mostrou que entende do assunto. Além de citar Oscar, Marquinhos, Carioquinha e Marcel como seus ídolos do passado, apontou Michael Jordan como o maior de todos os tempos e destacou Marcelinho e Marquinhos como seus preferidos no atual elenco rubro-negro. Fã da NBA, Muricy ainda falou dos recentes feitos de Stephen Curry com a camisa do Golden State Warriors, lamentou a despedida de Kobe Bryant e afirmou que vê muitas semelhanças entre o basquete e o futebol.

– Acho o basquete muito parecido com o futebol de hoje: defesa muito forte, contra-ataque e posse de bola. E é isso que estou vendo aqui, uma intensidade realmente altíssima, a marcação agressiva e o contra-ataque muito rápido. O futebol hoje tem uma marcação muito justa, as linhas muito pegadas – explicou Muricy, que ainda destacou o comando de José Neto por tornar um time tão ofensivo dono da melhor defesa da história do NBB:

– O treinador tem que saber tudo que acontece em torno da tática e técnica, mas o importante é o comando. Se não tiver o comando, você não consegue trabalhar, porque a camisa é pesada e o peso dos jogadores, maior ainda. Tem que saber comandar e fazer as mudanças, não importa quem sejam os jogadores. Tenho uma filosofia de mérito e justiça. O cara tem que saber que se deixar o outro tomar conta, ele fica fora. Senão você não consegue comandar um grupo. A minha história é de ficar muito tempo nos clubes porque eles têm esse respeito por mim, porque tem essa justiça e ninguém tem cadeira cativa. Às vezes tem um cara que não fica nem na reserva e de repente vira titular. Para mim, é muito importante o treinamento, porque é a repetição, a formação, é o dia a dia, a disciplina. O Flamengo (do basquete) tem atletas super ofensivos, mas ele comprou a ideia de fazer um time que na parte defensiva é um dos melhores do campeonato. É uma coisa meio contraditória: tão ofensivo e com a melhor defesa. Isso é comando, fazer o cara entender que tem a parte individual, e olha que ele tem um monte de caras de três (risos) aqui, mas que eles também precisam marcar.

Adepto ao conjunto e uma defensiva agressiva, José Neto preferiu destacar o trabalho coletivo que Muricy Ramalho tem conseguido realizar em tão pouco tempo de clube do que apontar quem seriam o Marcelinho e o Marquinhos na equipe do treinador rubro-negro.

11[1]– Fiquei muito contente dele falar da defesa, que é uma coisa que gosto muito. Esse ano conseguimos bater um recorde de ter a melhor defesa de todas as oito edições do NBB. Tivemos a equipe que menos sofreu pontos na primeira fase do campeonato. Acho que é uma conquista muito importante, porque temos um time muito ofensivo. Se falarmos do Flamengo, todos vão pensar nos cestinhas Marcelinho e Marquinhos, jogadores que pontuam bastante. Gosto muito de futebol e o Muricy é um cara que observo há muito tempo. Apesar de todos os títulos que ele conquistou, o que me marcou muito, até pelas circunstâncias, foi aquele pelo São Caetano (Campeonato Paulista de 2004). Era um time que ninguém esperava nada, e ele foi lá e mostrou atitude e como se conduz uma equipe. O técnico nada mais é que um gestor de pessoas, e temos que fazer que nossos comandados comprem nossa ideia. E quando falo comandados, não são só os jogadores. É toda a comissão técnica e todos que estão envolvidos. Vejo que o Muricy tem essa sabedoria e essa qualidade – disse Neto.

16[1]Contratado no início de dezembro de 2015, Muricy aos poucos vai se adaptando à nova casa. A uma vitória de levar o Flamengo às semifinais do Campeonato Carioca, o treinador quer voltar ao Maracanã nos dois primeiros domingos de maio (dias 1 e 8) para disputar sua primeira taça com a camisa rubro-negra. Enquanto a vaga não vem, o ex-jogador do América, no Rio de Janeiro, espera arrumar um tempinho na sua agitada agenda para prestigiar o técnico José Neto e torcer pela modalidade que tanto gosta.

 – Cara, acho que nós já andamos uns 25 mil quilômetros nessa temporada. Nem a minha mulher me vê mais, meu cachorro começou a rosnar para mim outro dia, estava quase querendo me morder (risos). Eu não vou nem na minha casa, vou lá, dou um beijo nela e saio correndo. Não dá para fazer nada. Eu moro na Barra e não saio de lá nunca mais. É Barra, Ninho, aeroporto, está uma loucura. Então eu não tive essa chance de ir a um jogo, Mas agora com as finais, com certeza vou arrumar um tempo para torcer. O Flamengo é um time muito diferenciado. Além da estrutura que é ótima, tem um grande treinador, que é campeão porque teve escola, se preparou para fazer isso. É um time campeão, e um time campeão várias vezes é diferente mesmo. A qualidade dos jogadores que estamos vendo aqui realmente é acima da média. Não é de graça que o Flamengo é campeão – disse Muricy, que não se mostrou nem um pouco incomodado pelo fato de a torcida chamar o time de basquete de Orgulho da Nação.

6_1[1]– Já escutei, acho que eles têm esse apelido com razão. É um time vencedor, e isso o torcedor realmente apoia demais. A gente escuta a música quando eles cantam no ginásio, é muito legal, e espero que meu time venha a ser reconhecido dessa maneira também.

Fã também de beisebol, herança do período que morou no México, Muricy gosta de criar raízes por onde passa. Foi assim em quase todos os clubes que defendeu, principalmente no próprio Puebla, onde jogou por seis anos, e no São Paulo, clube que o formou como atleta e treinador. Talvez por ter essa ligação quase umbilical com as camisas que vestiu ao longo da carreira, o comandante rubro-negro tenha se entusiasmado ao saber que Marcelinho frequentava as arquibancadas do Maracanã na adolescência para acompanhar a geração comandada por Zico.

 – Cara, acho que nós já andamos uns 25 mil quilômetros nessa temporada. Nem a minha mulher me vê mais, meu cachorro começou a rosnar para mim outro dia, estava quase querendo me morder (risos). Eu não vou nem na minha casa, vou lá, dou um beijo nela e saio correndo. Não dá para fazer nada. Eu moro na Barra e não saio de lá nunca mais. É Barra, Ninho, aeroporto, está uma loucura. Então eu não tive essa chance de ir a um jogo, Mas agora com as finais, com certeza vou arrumar um tempo para torcer. O Flamengo é um time muito diferenciado. Além da estrutura que é ótima, tem um grande treinador, que é campeão porque teve escola, se preparou para fazer isso. É um time campeão, e um time campeão várias vezes é diferente mesmo. A qualidade dos jogadores que estamos vendo aqui realmente é acima da média. Não é de graça que o Flamengo é campeão – disse Muricy, que não se mostrou nem um pouco incomodado pelo fato de a torcida chamar o time de basquete de Orgulho da Nação.

– Já escutei, acho que eles têm esse apelido com razão. É um time vencedor, e isso o torcedor realmente apoia demais. A gente escuta a música quando eles cantam no ginásio, é muito legal, e espero que meu time venha a ser reconhecido dessa maneira também.

Fã também de beisebol, herança do período que morou no México, Muricy gosta de criar raízes por onde passa. Foi assim em quase todos os clubes que defendeu, principalmente no próprio Puebla, onde jogou por seis anos, e no São Paulo, clube que o formou como atleta e treinador. Talvez por ter essa ligação quase umbilical com as camisas que vestiu ao longo da carreira, o comandante rubro-negro tenha se entusiasmado ao saber que Marcelinho frequentava as arquibancadas do Maracanã na adolescência para acompanhar a geração comandada por Zico.

José Neto também se enquadra nesse seleto grupo de ídolos. Na sua quarta temporada pelo clube, o comandante do basquete rubro-negro repetiu dentro de quadra todas as façanhas conquistadas pelo craques que faziam Marcelinho correr para o Maracanã nas tardes de domingo. A mais especial de todas, saboreada com a vitória sobre o Maccabi Tel Aviv, na final da Copa Intercontinental de 2014, o treinador realizou um sonho vivido por Oscar e Marcel, ídolos de Muricy, com a camisa do Sírio, 35 anos antes

8[1]– Nunca me esqueço daquela invasão de quadra no Ibirapuera quando o Sírio foi campeão mundial de clubes, em 1979. (Muricy interrompe: “Pô, cara, foi demais, né?). Aquilo ficou gravado na minha cabeça e consegui ser campeão num grande clube também. Em 2014, conseguimos o título da Intercontinental, ganhando do Maccabi, que foi campeão da Euroliga. (Muricy interrompe novamente: Não é fácil, né?). Conseguimos e quando acabou o jogo, aconteceu a mesma invasão. Parecia que eu estava vivendo um filme com o Sírio. É muito diferente. Estou aqui há três anos, esse é o quarto, com os três últimos ganhando o NBB. Quando vemos a arena lotada, é o mesmo sentimento de ver o Maracanã lotado. A torcida realmente faz a diferença e é nessa hora que nós do basquete dizíamos que precisávamos do sexto elemento, mas na verdade precisávamos do sétimo e do oitavo, porque antes era um jogo único. Você ganhou, tá dentro. Perdeu, tá fora. Agora mudou (as finais do NBB voltaram a ser decididas numa série melhor de cinco jogos) – contou Neto.

Seja num jogo único ou numa melhor de cinco, o fato é que pelo quarto ano seguido o time comandado pelo técnico José Neto aparece como um dos favoritos ao título do NBB. A única diferença é que – seja em algum dos milhares de quilômetros já percorridos com o Flamengo ao longo da temporada ou sentado em uma das cadeiras da Arena da Barra – desta vez Muricy Ramalho estará entre os milhões de torcedores rubro-negros na torcida.

Fonte: GE

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