Dois anos depois da Copa do Mundo no Brasil, um dos principais legados que o evento deixaria não se concretizou: a convivência pacífica entre os torcedores nas arquibancadas. Por isso, as arenas “padrão Fifa”, localizadas em cidades sem times de tradição no futebol, ainda não oferecem segurança suficiente para jogos de apelo entre os grandes clubes.
O principal problema é que as arenas foram projetadas para a convivência entre torcidas, que é o padrão mundial. Mas o ambiente de rivalidade e violência ainda existente no Brasil dificultou que estádios como os de Brasília, Manaus, Natal e Cuiabá se adaptassem à realidade.
Foi preciso que um torcedor quase morresse no duelo entre Flamengo e Palmeiras para que o estádio Mané Garrincha, em Brasília, fosse preparado. No jogo deste domingo, às 16h, as torcidas organizadas de Flamengo e São Paulo, estarão separadas.
O modelo de prevenção do Maracanã, por exemplo, não se replicou pelo País. Só São Paulo, Minas Gerais e a região Sul têm preparação para lidar com as organizadas.
O comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) da Polícia Militar, major Sílvio Luis, diz que o trabalho no Rio pode ser o modelo.
— O ideal é a polícia acompanhar a organizada no trajeto e no interior do estádio. Nós cobramos a barreira física de um setor para o outro, especialmente entre torcidas rivais. É o que vem sendo copiado e tem dado certo.
Com a ameaça de interdição pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o esquema adotado no Mané Garrincha fará a separação, inclusive, das próprias torcidas organizadas do Flamengo. Além disso, o efetivo aumentará de 380 para 550 agentes privados e de 400 para 600 policiais.
— Trocamos as grades de separação das organizadas por fechamentos. Elas não terão como sair para nenhuma dependência — explicou Jaime Recena, Secretário de Turismo do Distrito Federal.
Capacidade menor, custo maior
O novo aparato de segurança se deve ao formato de estádio, sem divisão, com circulação livre entre os setores. Assim que a Copa do Mundo acabou, o Maracanã voltou ao esquema de antes, com grades no anel do estádio e na área reservada para organizadas. Os torcedores visitantes ficam isolados, com cadeiras vazias entre eles e os mandantes. O resultado: menos lugares vendidos.
Neste domingo, no Mané Garrincha, o setor de visitantes cairá de 6.500 para 3.500 lugares. Haverá ainda tapumes no corredor de circulação, onde torcedores do Palmeiras cruzaram para brigar com os do Flamengo. A carga total de venda caiu de 61 para 54 mil lugares. Operador de jogos em arenas, o ex-atleta Roni lamenta o formato atual.
— As arenas são projetadas para torcida mista. Não há divisão. E é mais caro organizar — lamentou Roni.
Fonte: Extra